05. Mestre de Espadas

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"Bem vinda a Giedi Prime, Duquesa" um dos guardas debochou. Aýlla ainda trajava a túnica fria quando pisou no planeta da Casa Harkonnen. Com a cabeça baixa e as mãos acorrentadas, tentava não mancar pela dor lacinante nas costas. Sequer reparou no sol negro que tornava o mundo cinza, ou no tamanho absurdo da fortaleza que se erguia acima de tudo. Caminhou sem questionar, sem reclamar, em absoluto silêncio. Sua mente, contudo, gritava. Pela dor física e a dor de ter perdido tudo o que sempre fora tão certo. Primeiro, sua mãe, seus tios, seus mestres mais antigos. Depois seu pai, seu planeta, sua história. Àquela altura, até as naves de show certamente já haviam sido tomadas.

Mas não era isso que ela mesma havia buscado? Dois anos atrás, quando fugiu de tudo e resolveu punir o pai pelos pecados contra a honra, contra a humanidade. Ela pensou tanto em partir, esquecer do próprio nome. De alguma forma, ter isso tomado de si era diferente e, de alguma forma, doía demais. Entrou pelas portas da frente na Casa sombria, onde Feyd-Rautha a aguardava.

"Eu assumo daqui" ele disse aos guardas, chamando a atenção da Ginaz para si. Ele realmente não tinha cicatriz alguma. Era como se nunca tivessem lutado até a quase morte. Incólume. Pela primeira vez, ela se perguntou como estava a própria aparência. Ele indicou com a mão o caminho à sua direita, dando espaço para a jovem passasse. Assim o fez, os passos lentos enviando choques de dor pelo corpo todo. A túnica estava manchada de sangue? Ela não saberia dizer.

Assim que ficaram sozinhos, Feyd brincou "Talvez eu te adote como uma de minhas criaturas". Ela não teve forças para responder, continuou olhando para frente. "Não vai ser tão luxuoso quanto sua vida de princesa, mas pelo menos vai estar viva... Mais ou menos" disse. Ela o sentia logo atrás de si, sempre perto. Uma risada triste escapou de seus lábios, e Aýlla olhou para o lado, absorvendo a luz estranha que invadia as frestas do caminho escuro. "Ande mais rápido, não tenho o dia todo" ele ralhou, usando a mão grande para impulsioná-la para frente, empurrando-a pelas costas.

Aýlla conteve o grito, mas urrou pesadamente, equilibrando-se na parede de mármore preto. Sentiu o sangue escorrer pela extensão de sua coluna até pingar no chão.

"O que-" Harkonnen estampou a confusão na cara, até ver a pequena poça se formando. Então ficou assustadoramente sério. Sem esperar por explicações, agarrou a gola da roupa na nuca da Ginaz, rasgando o tecido com facilidade, expondo todo o estrago feito. O movimento fez a garota morder o próprio lábio com tanta força que sentiu o gosto de sangue. A dor era insuportável. Mesmo para ela, que normalmente apreciava a sensação. "Você não falou que precisava de cuidados médicos" Feyd disse, a voz baixa e ameaçadora. "Fale alguma coisa!" ele ordenou.

"Vai se foder" ela respondeu, sentindo uma lágrima teimosa descer por sua bochecha. Ele riu.

"Que linguajar inapropriado" disse, juntando os dois lados do tecido, cobrindo as feridas com um cuidado estranho. "Venha" segurou o braço da jovem, virando-a para ele. Abaixou-se para jogá-la por cima do ombro.

"Não se atreva" ela sibilou, esticando os braços na frente do corpo. Feyd ignorou, levantando-a enquanto a segurava pelas pernas. A cena seria ridícula, se houvessem espectadores.

"Pare de se mexer!" ele reclamou irritado conforme caminhava. Aýlla continuou a se debater. "Não me faça morder seu traseiro, Ginaz" ele ameaçou, e ela parou imediatamente. Harkonnen riu outra vez, e levou a prisioneira para a ala médica.

Era diferente de tudo o que ela já havia visto. Uma sala grande, com inúmeras pequenas piscinas, cheias de um líquido negro, espesso. Todos os servos da família mantinham a cabeça baixa conforme Feyd passava. Ele a colocou no chão devagar, ao lado de uma das banheiras estranhas.

"Só o suficiente para fechar, não pode demorar" ele disse um tanto ríspido para uma das moças. Aýlla não estava entendendo nada. A suposta enfermeira se aproximou com as mãos tremendo, esticando os dedos para a túnica já rasgada da prisioneira.

HARKONNENOnde histórias criam vida. Descubra agora