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Brahms olhou para Louise, seus olhos escuros e profundos refletindo um turbilhão de emoções. Ele estava acostumado com a solidão, com o silêncio das paredes que o cercavam como um casulo. Mas agora, diante de Louise, ele sentia uma conexão humana que há muito lhe era estranha. A hesitação era visível em seu gesto quando ele levantou a mão, tremendo levemente no ar antes de avançar.

- "Você pode," - disse Louise, sua voz um sussurro encorajador.

A mão de Brahms, guiada por uma curiosidade que superava seu medo, moveu-se lentamente em direção ao rosto de Louise. Ele podia sentir o calor emanando dela, tão diferente da frieza das sombras em que vivia. Seus dedos tocaram a pele dela, suave e real, e ele se perguntou como seria sentir tal gentileza sem a barreira de sua máscara.

Louise permaneceu imóvel, permitindo que Brahms explorasse a sensação de tocar outro ser humano. Ela viu a luta em seus olhos, a batalha entre o desejo de conexão e o medo de ser rejeitado mais uma vez. Ela entendeu que, para Brahms, cada toque era um passo em um território desconhecido, cada momento de proximidade uma nova descoberta.

Brahms vestia roupas que pareciam desgastadas pelo tempo, tecidos que já foram finos, mas agora estavam desbotados e remendados em vários lugares. As roupas eram de um estilo antigo, reminiscentes de uma época passada, e davam a ele uma aparência quase fantasmagórica. Mas, sob o tecido e a máscara, havia um homem que respirava, sentia e ansiava por compreensão.

Louise, movida pela mesma curiosidade que impulsionava sua arte, queria ver o homem por trás da máscara. Ela queria entender a história de Brahms, não apenas as lendas e os rumores, mas a verdade de sua existência.

- "Posso ver você?" - ela perguntou, sua voz cheia de uma delicada insistência.

Brahms recuou, um vislumbre de pânico cruzando seu rosto. Ele balançou a cabeça, a máscara ainda firmemente no lugar. Louise respeitou sua decisão, mas não pôde deixar de sentir uma pontada de decepção. Ela sabia que a máscara era uma parte de Brahms, tão essencial quanto sua própria pele, e retirá-la seria como arrancar uma parte de sua alma.

- "Está bem," - ela disse com um sorriso compreensivo. - "Todos nós temos nossos segredos."

Brahms, encorajado pela aceitação de Louise, permitiu que ela tocasse a máscara novamente. Desta vez, quando seus dedos deslizaram sobre a superfície fria, ele não recuou. Ele fechou os olhos, permitindo-se sentir o toque de Louise, a conexão que eles compartilhavam naquele momento silencioso.

Para Brahms, o toque de Louise era uma lembrança do mundo que ele havia deixado para trás, um mundo de luz e sombra, de dor e prazer. E para Louise, era a confirmação de que, mesmo nas profundezas da escuridão, havia uma faísca de humanidade esperando para ser reconhecida e compreendida.

Louise estendeu a mão para Brahms, um convite silencioso para ele se levantar. Ele aceitou, erguendo-se com uma graça que contrastava com a imagem desgastada de suas roupas. Juntos, eles se moveram em direção à cama, o centro do quarto que parecia conter ecos de um passado distante.

- "Este era o seu quarto, não era?" - perguntou Louise, olhando ao redor, absorvendo os detalhes que contavam histórias não ditas.

Brahms sentou-se na cama, seus olhos percorrendo o quarto como se cada objeto trouxesse uma memória à tona. Ele acenou com a cabeça, um gesto lento e ponderado.

- "Você era o garotinho Brahms..." - Louise murmurou mais para si mesma do que para ele, uma realização se formando em sua mente.

Brahms olhou para ela, e com um aceno suave, confirmou. Sua voz, quando ele falou, era baixa e rouca, como se não estivesse acostumado a ser ouvida.

- "Sim," - ele disse simplesmente.

Louise sentou-se ao lado dele, mantendo uma distância respeitosa. Ela podia sentir a história pesada do quarto, como se as paredes sussurrassem segredos de uma infância perdida.

- "Você se lembra de como era antes?" - ela perguntou, sua curiosidade pintada em cada palavra.

Brahms olhou para o chão, seus dedos brincando com a borda do lençol desbotado.

- "Algumas coisas," - ele respondeu, sua voz um sussurro quase perdido no silêncio do quarto.

Louise percebeu a melancolia em seus olhos, a saudade de um tempo que talvez fosse mais inocente, antes que a máscara se tornasse sua identidade.

- "E agora?" - ela continuou, encorajando-o a compartilhar mais. - "O que você sente?"

Brahms levantou os olhos, encontrando os dela. Havia uma profundidade ali, algo que Louise sabia que não poderia entender completamente.

- "Sozinho," - ele disse, e mesmo que a palavra fosse carregada de solidão, havia também um vislumbre de esperança. - "Mas menos, agora."

Louise sorriu, um gesto de apoio e compreensão.

- "Você não está sozinho," - ela disse, colocando sua mão sobre a dele. - "Não mais."

Brahms olhou para a mão dela sobre a sua, um conceito tão estranho quanto reconfortante para ele. Ele não se afastou, permitindo-se sentir a conexão, a humanidade que ele pensou ter perdido há muito tempo.

O quarto, com seus segredos e sombras, tornou-se um santuário silencioso para dois corações solitários que encontraram um no outro uma compreensão inesperada. E enquanto a lua continuava sua jornada pelo céu, o quarto de Brahms, uma vez um lugar de isolamento, tornou-se um testemunho de que mesmo a alma mais solitária pode encontrar conforto na presença de outro.

Louise olhou para Brahms, seu olhar perdido em pensamentos enquanto os dois permaneciam sentados lado a lado na cama desgastada pelo tempo. Ela refletia sobre o homem enigmático ao seu lado, pensando que, assim como uma obra de arte, havia muito mais na "tela" de Brahms do que as histórias contadas. Cada rumor, cada sussurro sobre o garotinho Hellshire, poderia conter um grão de verdade ou ser uma invenção completa, uma distorção da realidade criada pelo medo e pela imaginação.

Ela ponderou sobre as camadas de sua história, cada uma sobreposta à outra, criando uma imagem complexa que ninguém poderia reivindicar entender completamente. Assim como a arte, Brahms era uma tapeçaria de experiências e emoções, algumas visíveis na superfície, outras ocultas nas profundezas de sua alma atormentada.

Após um longo momento de introspecção, Louise voltou sua atenção para Brahms, cujos olhos ainda carregavam a sombra de uma infância interrompida.

- "Eu ouvi histórias sobre você, Brahms," - ela começou, sua voz suave quebrando o silêncio entre eles. - "Histórias que me fizeram questionar o que é verdade e o que é apenas uma lenda criada para assustar."

Brahms a observava, imóvel, como se temesse o julgamento que poderia vir com suas palavras.

- "Mas eu escolho acreditar na verdade que vejo diante de mim," - continuou Louise, oferecendo-lhe um sorriso encorajador. - "E a verdade é que, por trás dessa máscara, ainda há um garotinho assustado, tentando encontrar seu caminho no mundo."

Brahms acenou com a cabeça, um gesto quase imperceptível, mas significativo. Ele reconheceu a verdade nas palavras de Louise, sentindo-se visto, talvez pela primeira vez, não como um monstro ou uma curiosidade, mas como um ser humano.

- "Não está mais sozinho," - Louise acrescentou, sua mão encontrando a dele oferecendo conforto.

Uma Vez Com BrahmsOnde histórias criam vida. Descubra agora