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Louise olhou para o telefone, a tela ainda iluminada com a chamada perdida. Ela pensou em ligar novamente, mas algo a impediu. Alguns minutos depois, uma notificação apareceu. Era uma mensagem de Dylan: "Se você está ligando para falar sobre o que aconteceu ou qualquer coisa relacionada a Brahms, pode esquecer."

Ela suspirou, sentindo um peso no peito. Desistindo, tomou o último gole de sua bebida, sentindo o líquido quente descer pela garganta. Com passos lentos, subiu as escadas em direção ao quarto de Brahms. Ao abrir a porta, viu-o sentado na cama, a cabeça baixa e as mãos cobrindo o rosto, apesar de que seu rosto já estava coberto pela máscara.

- Por que está usando isso, Brahms?- Louise perguntou-

- Eu sempre usei a máscara, Louise.-respondeu-

Louise se aproximou devagar, sentindo o peso do momento. Sentou-se ao lado de Brahms na cama, observando-o em silêncio e com cuidado removeu a máscara de seu rosto.
- Não precisa disso agora, por favor.-ela disse-

Ele ergueu a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os dela. Com um gesto suave, ela começou a acariciar os cabelos dele, sentindo a textura macia entre os dedos. Ficaram assim por um tempo, apenas se olhando, compartilhando um entendimento silencioso.

Finalmente, Brahms quebrou o silêncio, sua voz séria e carregada de emoção.
-Louise, posso te perguntar uma coisa?

- Claro, Brahms.

-Você realmente acredita em mim?-ele perguntou-

Ela piscou, surpresa com a pergunta.
-Eu acredito,- respondeu com voz sincera.

Ele franziu a testa, confuso.
-Por que você acredita em mim, sabendo o que aconteceu naquela mansão cinco anos atrás?

Louise hesitou, procurando as palavras certas. -Eu... não sei ao certo,- admitiu. -Mas eu compreendo a vida conturbada que você teve, Brahms. Talvez tudo o que aconteceu seja um reflexo do trauma de isolamento que você sofreu.

Ele a olhou por um longo momento, absorvendo suas palavras. O silêncio entre eles era denso, mas carregado de uma nova compreensão.

Brahms suspirou profundamente, a dor evidente em seus olhos. -Meu pai nunca acreditou em mim, - começou ele, a voz baixa e carregada de tristeza.
-Ele nunca disse isso abertamente, mas eu sempre percebia. Ele achava que eu realmente tinha feito aquilo com a Emily.

- Eu realmente não acredito que você faria... você... você era só uma criança.-ela disse-

- Minha mãe sempre dizia isso pra mim. Não sei se ela realmente acreditava em mim, gosto de pensar que sim. Mas as vezes acho que era uma forma dela confortar a si mesma.

Louise olhou para ele com compaixão.
-Você deve sentir muita falta dela, não é?

-Sim,- respondeu Brahms, a voz quase um sussurro. -Mas eu sempre soube que ela não voltaria. E ela era quem mais me amava.

Louise continuou a acariciar os cabelos dele, oferecendo conforto silencioso. Brahms prosseguiu, -Sabe, nas raras vezes que eu saía do meu esconderijo nas paredes, quando meus pais ainda estavam aqui, meu pai sempre me evitava. Mas sempre foi assim, desde que eu era pequeno.

Uma nuvem de melancolia pairou sobre os pensamentos de Brahms e seus olhos se umedeceram. Ele tentou esconder uma lágrima que escorria pelo rosto, mas Louise viu.
-Olha só...tenho tentado ser um homem a alguns anos, e...-disse ele, a voz trêmula.

Louise segurou o rosto dele com delicadeza. -Chorar não te faz menos homem, Brahms. Pelo contrário, chorar só externa ainda mais sua humanidade.

Eles ficaram assim, em silêncio, compartilhando a dor e a compreensão, enquanto a noite avançava lentamente.

Louise sentia uma profunda compaixão por Brahms, além de uma paixão estranha e inexplicável. Era difícil dizer se o fato de ela acreditar fielmente nas palavras dele se dava por sua alma artística e sua capacidade de ver o belo em meio à tragédia, ou se era apenas por pura inocência, do tipo que se adquire quando se está apaixonado. O amor, afinal, não torna ninguém mais inteligente; pelo contrário, muitas vezes nos deixa mais vulneráveis.

Ela sabia que sua devoção a Brahms poderia parecer irracional para os outros, mas para ela, fazia todo o sentido. Havia algo na vulnerabilidade dele, na dor que ele carregava, que a atraía de uma maneira que ela não conseguia explicar. E, enquanto o observava, sentia que, de alguma forma, suas almas estavam conectadas por um fio invisível de compreensão mútua e empatia.

Louise queria que Dylan percebesse o que ela percebia. Sentia uma necessidade quase desesperada de transformar a mancha no passado de Brahms, trazendo à tona a verdade sobre o garotinho que teve que se isolar de tudo e todos. Embora soubesse que havia coisas que Brahms realmente fez, ela se apegava à ideia de que o trauma do isolamento o havia deixado assim.

Essa compreensão vinha, em parte, de sua própria história traumática. A perda dos pais no passado a afetou de formas inimagináveis, moldando quem ela era e como via o mundo. Talvez fosse esse um dos motivos pelos quais ela compreendia Brahms tão profundamente. Ela via nele um reflexo de sua própria dor, uma alma ferida que precisava de redenção e compreensão.

Louise acreditava que, se pudesse mostrar a Dylan e ao mundo a verdadeira história de Brahms, poderia, de alguma forma, curar as feridas de ambos. O amor que sentia por Brahms não era apenas uma paixão cega, mas uma conexão profunda baseada em experiências compartilhadas de perda e sofrimento. E, apesar de todas as dificuldades, ela estava determinada a lutar por essa verdade.

Aquela era uma forma poética de ver as coisas, talvez um dom raro dado a poucos. Talvez fosse uma verdade criada apenas para não precisar se afastar do calor que o corpo de Brahms proporcionava. Talvez fosse uma sequela neurológica que ocorre apenas aos muito apaixonados ou, muito provavelmente, burrice extrema.

Louise sabia que sua visão de Brahms poderia ser considerada ingênua ou até mesmo tola por muitos. Mas, para ela, essa visão era uma maneira de justificar a intensidade de seus sentimentos e a profundidade de sua compaixão. E, apesar de todas as dúvidas e incertezas, ela escolhia acreditar na bondade que via em Brahms, mesmo que isso significasse se perder em suas próprias ilusões.

 E, apesar de todas as dúvidas e incertezas, ela escolhia acreditar na bondade que via em Brahms, mesmo que isso significasse se perder em suas próprias ilusões

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Oi galerinha bonita 😘
Não sou de deixar nota de autor mas , peço que prestem bastante atenção nesse capítulo pois ele será essencial no final da nossa jornada com Brahms. Beijos (⁠ ⁠˘⁠ ⁠³⁠˘⁠)⁠

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Uma Vez Com BrahmsOnde histórias criam vida. Descubra agora