Capítulo 2 - Você pode deixar ir

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"Matilda, você fala da dor
como se estivesse tudo bem,
  Mas eu sei que você sente
como se um pedaço seu
estivesse morto por dentro." *

                                     Isabel

Eu caí... caí no chão no PRIMEIRO dia de aula, eu estava realmente a dois segundos de virar o coringa. Foi vergonhoso, mas pior do que todo mundo olhar aquela situação, foi o Pietro vir correndo me ajudar, de impulso logo aceitei, mas me arrependi logo em seguida, respondi a ele que não precisava de ajuda e me sentei na primeira cadeira que vi.

— Tá tudo bem Isa? — Monica me pergunta, enquanto arruma suas coisas na nossa mesa.

— Eu tô bem, relaxa, a queda não machucou nada — respondi enquanto também arrumava minhas coisas.

— Você sabe que eu não tô falando da queda, tem certeza que tá tudo bem? Se quiser podemos procurar uma mesa mais lá pro fundo, longe da vista deles — Monica pergunta com uma expressão de compaixão no rosto.

— Não ligo se eles estão aqui, aliás enxergo melhor na primeira fileira, é sério, tá de boa — respondi enquanto dava de ombros.

Ela me encara seriamente com seus grandes olhos verdes, e então apenas assente e se vira para frente. Monica não tocou mais no assunto pelo resto do dia, e eu era grata por isso, estava cansada do olhar de pena no rosto dos meus amigos, ou das palavras de conforto, não me leve a mal, por um tempo é bom, mas depois você só quer esquecer tudo, e fica meio difícil com seus amigos te olhando como se fosse um cachorrinho perdido na rua.

O dia se arrastou, como se os ponteiros do relógio estivessem quase paralisados, o universo com certeza me odiava, não foi assim que eu imaginei meu primeiro dia de aula no ensino médio, sinceramente não acredito que isso estava realmente acontecendo. Conseguia sentir olhar de Pietro queimar a lateral do meu rosto, eu com certeza não abaixaria minha maldita cabeça ou me encolheria diante do olhar dele, nem se eu me odiasse.

As aulas foram boas, os professores também, nada fora do normal, no final da aula, quando eu e Monica estávamos indo embora, algumas garotas nos pararam e nos avisaram que no final de semana haveria uma festa para todos os calouros do 1° ano, feita pelas turmas veteranas, e que estávamos convidadas, isso me animou um pouco, uma festa viria a calhar, era uma oportunidade de socializar e conhecer melhor as pessoas dessa escola. Não fiz questão de olhar para a direção de Pietro ou Lívia antes de sair da sala, após isso fui direto pra casa, eu só precisava da minha cama, aquele dia já tinha sido um inferno por si só.

Cheguei em casa, tomei um banho e revisei algumas matérias, sei que ainda é cedo, mas precisava manter minha mente ocupada. Depois deitei em minha cama, peguei um livro e fui ler, enquanto ouvia música. Os livros me traziam conforto, como se por algum tempo eu pudesse escapar da realidade.

Um romance levinho nunca faz mal né, o livro da vez é "Amor, teoricamente"* , ele me faz soltar suspiros, ainda mais ao som de Taylor Swift, isso realmente era uma terapia, uma pena que na vida real o amor não era assim. E então minha mente se volta para onde eu menos queria, eu percebi que realmente amei o Pietro, mas ao que parece, apenas o amor não é suficiente, e eu finalmente entendi que você pode ter amado ao máximo aquela pessoa, mas isso não significa que a pessoa se sentiu amada, e essa frase ecoou por meu cérebro até a hora em que peguei no sono.

<3

* Música: Matilda - Harry Styles
* Livro: Amor, teoricamente - Ali Hazelwood

⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽ ⭒ ׂ ִ ✽

                  "Está sempre ao meu redor,
                          todo esse barulho,
          mas não tão alto quanto a voz dizendo
            "Deixe acontecer, deixe acontecer" *

                                   Pietro

O tempo passou rápido, ou eu que estava distraído demais para prestar atenção em qualquer coisa ao meu redor, meu coração estava acelerado, minhas mãos suavam, meus pensamentos estavam a mil por hora, e eu só queria sair daquele lugar o quanto antes, estava me sentindo sufocado, e a presença da Isabel não ajudava em nada, ela agia como se eu e Lívia não existíssemos.

Meus pensamentos estão confusos, meus sentimentos estão confusos, estar confuso é uma droga, e se ser adolescente se resumir a isso, estou definitivamente na merda. Quando eu terminei com a Isabel a única coisa que eu sabia era que eu ainda gostava da Lívia, mas eu também ainda gostava da Isabel, e novamente eu estava confuso. 

Quando o sinal finalmente toca, arrumo minhas coisas rapidamente, e observo Isabel e Monica conversando com outras garotas, percebo que logo após as duas irem embora, as garotas vem na minha direção e na de Lívia. Não consigo sair rápido o suficiente pra escapar delas, elas nos alcançam e começam a dar boas vindas e falar um monte de coisa, Lívia presta atenção, e é receptiva, enquanto a mim, bom eu tenho certeza que eu estou com uma bela cara de cu, mas não ligo, só quero ir para casa.

Quando eu estava prestes a sair e deixar elas conversando com a Lívia, ouço elas dizerem algo sobre uma festa no fim de semana, feita para os calouros, Lívia parece animada, mas eu sinceramente não estava, eu deveria? Bom, acho que sim, mas nem uma festa conseguiria tirar esse sentimento ruim que se instalava em mim. Saio apressado e dou um tchau para as garotas, vejo a expressão de Lívia se alterar um pouco ao olhar para mim.

Estou tirando o cadeado da minha bicicleta quando Lívia chega atrás de mim, ela me abraça e me dá um beijo, eu realmente não estava me sentindo bem, porque o beijo de Lívia praticamente não teve efeito sobre mim.

— Pietro, tá tudo bem? você tá meio esquisito, isso foi por causa da Isabel e Monica estarem na mesma classe que a gente ? — Lívia pergunta, indo direto ao ponto.

— Não, sério, eu só não estou me sentindo bem, só isso, você sabe que eu odeio mudanças, só estou demorando a me acostumar. — respondo rapidamente.

— O que você tá sentindo... é físico ou psicológico? — Ela pergunta com uma certa expressão de preocupação.

— Meu coração tá acelerado, minhas mãos estão suadas, e meus pensamentos não param, eu não sei o que é isso, só quero ir para casa , tá bom ? —  Eu respondi indo direto ao assunto, decidi ser sincero, não tinha energia pra inventar uma desculpa.

— Pietro... eu acho que você tá tendo uma crise de ansiedade, você precisa se acalmar tá bem ? — Ela fala calmamente, ou pelo menos tenta.

— Crise de ansiedade? fala sério, eu já senti isso antes, vai passar, eu sei que vai, só preciso de um tempo — falei enquanto me afastava dela, não dei chance para uma resposta quando saí pedalando na minha bicicleta, eu só queria chegar em casa e ir para cama.

E foi o que eu fiz, passei o resto da tarde e da noite deitado na minha cama, remoendo todas as minhas decisões dos últimos meses. Minha mãe veio ao meu quarto perguntar se estava tudo bem, e eu afirmei que sim, ela insistiu um pouco, mas logo desistiu e se retirou do quarto. Eu provavelmente era um idiota, e a Lívia provavelmente está certa sobre a crise de ansiedade, mas eu odeio demonstrar fraqueza para os outros, então eu me afasto, assim como  eu faço com tudo que está dando certo na minha vida, eu definitivamente era um idiota, mas era tarde demais para qualquer arrependimento.

<3

* Música: Let it Happen - Tame Impala

Reflections - Isabel e PietroOnde histórias criam vida. Descubra agora