end game

1.3K 59 16
                                    

Olívia Giaffone Barrichello.
Portugal, 31 de dezembro de 2023.

Viagens com a família sempre têm aquele gostinho especial de fugir um pouco da realidade... É engraçado como eu sempre acabo fugindo: de amores complicados, de situações difíceis, de problemas que parecem não ter fim.

Agora estamos indo para Portugal para passarmos o Ano Novo. Passamos o Natal viajando com nossa mãe, que foi incrível, e agora é a vez do nosso pai escolher onde vamos passar a virada. Estou até animada, porque Portugal é um lugar que eu adoro, e fica relativamente perto de onde moro agora, em Barcelona.

Morar em Barcelona é interessante. O trabalho é legal, mas depois de um tempo, começa a ficar meio repetitivo. E olha, lidar com dois pilotos de F1 é muito mais emocionante do que cuidar de um time de futebol inteiro.

Mas tenho que admitir, sinto uma saudade enorme do mundo da F1. Falta aquele cheiro de pneu queimado, a correria dos mecânicos pelo Paddock, as conversas com a Melissa. Sinto falta até das piadas sem graça dos pilotos e dos desabafos pelo rádio. Sinto falta de tudo isso, e principalmente, sinto falta do Charles.

Se eu dissesse que não penso nele todos os dias, estaria mentindo. Charles deixou marcas em mim, uma história de amor que eu queria ter vivido, mas não vivi por medo. Sempre me achei corajosa, mas quando se tratou de abrir meu coração, eu gelei. Tive medo de me machucar, de ser mais uma na vida dele, de me decepcionar. E no fim, eu que acabei me machucando.

Agora estou tentando seguir em frente, me dedicando ao trabalho, tentando fazer as coisas darem certo. Daqui a três meses, meu estágio e minha faculdade acabam, e eu não sei o que vai ser da minha vida. Recebi três ofertas de emprego: uma para continuar no Barcelona, outra para voltar ao Brasil e trabalhar na Band, e a última, que mexeu comigo, voltar para a Ferrari e trabalhar com a Melissa em Relações Públicas, sem supervisores, só nós duas.

Refletindo sobre as propostas de emprego, sinto uma tempestade de emoções se formar dentro de mim. Continuar em Barcelona seria o caminho seguro, familiar, mas ao mesmo tempo, sinto que me falta algo ali, uma paixão que eu encontrei uma vez no mundo da Fórmula 1 e que parece me chamar de volta. Voltar para o Brasil seria reconfortante, estar perto da família e de amigos antigos, uma oportunidade de recomeçar do zero, porém, sinto que algo maior me espera.

A terceira proposta, voltar para a Ferrari, ressoa em mim de uma forma que nenhuma outra faz. É como se uma parte de mim que estava adormecida finalmente acordasse, pronta para assumir os desafios e as emoções que essa carreira me proporciona. Porém, a ideia de voltar também traz consigo o peso da possibilidade de reencontrar Charles, de ter que enfrentar nossos passados, nossas dores, e tentar coexistir em um ambiente que uma vez foi o cenário de nossa história não vivida.

As lembranças de Charles são como fantasmas que me perseguem, suaves mas persistentes, me lembrando do que poderia ter sido. A decisão de voltar para a Ferrari é tentadora, mas também me aterroriza. Será que sou forte o suficiente para enfrentar essa realidade? Será que conseguiria manter minha vida profissional imune aos resquícios do que sentimos um pelo outro?

Enquanto penso sobre minhas opções, percebo que o que realmente desejo é uma chance de fechar o ciclo que Charles e eu deixamos em aberto, seja para curar as feridas ou para descobrir se ainda há algo ali, escondido sob as camadas de mágoa e arrependimento. Talvez, voltar para a Ferrari não seja apenas uma decisão profissional, mas também uma oportunidade de confrontar meu próprio coração e, quem sabe, encontrar a paz que tanto busco.

Agora, enquanto Portugal serve como cenário de reflexão e as ondas do mar me sussurram palavras de encorajamento, sinto que talvez a coragem esteja em enfrentar nossos medos, em dar uma segunda chance para nós mesmos. A decisão não será fácil, mas sei que independente do caminho que escolher, levarei comigo as lições aprendidas e a esperança de dias melhores.

Bright Red || Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora