A luz suave da manhã entra pela janela, desenhando sombras que dançam no chão. Estou aqui, no mesmo espaço que antes pulsava com a presença dele, e no entanto, a solidão me envolve como um manto pesado. Há um gosto amargo no ar, uma lembrança de risadas que agora ecoam como uma canção triste, reverberando nas paredes, que testemunharam um amor que se desvaneceu.
Amar alguém e, ao mesmo tempo, sentir a distância crescer entre nós é um paradoxo agonizante. A presença dele ainda flutua no ambiente, mas a essência que um dia preencheu nossos momentos se transformou em um vazio palpável. O que antes parecia seguro agora é um labirinto de incertezas, onde o amor se mistura à angústia. É irônico, eu sei, amar alguém que não é mais a pessoa que eu conheci - ou que pensei que conhecia.
A cada olhar, percebo que a conexão que uma vez nos uniu se esfarela como areia entre os dedos. Sinto a necessidade de me afastar, de soltar as amarras que ainda me prendem a um passado que não retorna. Mas ao mesmo tempo, há uma parte de mim que se pergunta: será que eu deveria lutar por isso? Entretanto, a verdade é que não há mais o que ser feito. O que antes sonhei se transformou em um eco distante, uma sombra do que poderia ter sido.
No meio desse turbilhão de sentimentos, surge uma clareza. O que parece dor é, na verdade, a liberdade que estou começando a abraçar. A distância se torna necessária, não só entre nós, mas principalmente dentro de mim. É preciso entender que o amor não é uma prisão, mas uma escolha, e nesse momento, a escolha mais sensata é deixar ir. Não quero saber sobre o que ele sente, se há arrependimento ou se ele superou. O que importa agora é que eu tenho a oportunidade de reconstruir minha própria história.
Enquanto caminho por este espaço que um dia foi nosso, percebo que não sou eu quem perdeu. Ele, em sua ausência, é o que se desfez, e eu sou a que permanece, ainda que perdida por um tempo. Mas essa confusão não é fraqueza; é o início de uma redescoberta. Não há destino que junte os dois novamente, não existe a crença de que o amor deve sempre prevalecer. O que foi, foi por acaso, e o que não é mais, também é uma parte essencial do meu crescimento.
Assim, deixo as sombras se dissiparem. Entrego-me à incerteza, sabendo que, por mais que o amor persista, é a minha jornada que importa agora. Estou me afastando do que não me serve, do que não mais me define. E, nesse movimento, encontro a força para seguir em frente, para deixar o passado onde pertence e criar um futuro onde eu, finalmente, serei inteira novamente.
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O Cotidiano em Relatos
PoetryOlha, não sou uma famosa, então talvez isso aqui seja só um monte de palavras jogadas por aí. Quem sabe você encontre algum sentido nelas? Ou talvez só risadas. São relatos poéticos sobre o tempo, os sentimentos e as loucuras do cotidiano. É só o de...