O Cotidiano em Relatos

Segundas-feiras

Era uma segunda-feira, de um tom esbranquiçado. Aquelas manhãs que surgem quase como uma promessa de luz, mas que se guardam em um silêncio melancólico, em um cinza esfumaçado que desbota até o verde das árvores. Naquele apartamento de janelas altas, o silêncio crescia como uma névoa densa, alargando o espaço entre eles. Eram só dois copos de café esquecidos na mesa.

Haviam se amado como quem cresce junto. Como quem ergue muros e planta jardins lado a lado, em uma intimidade profunda e já natural. Estavam no movimento constante dos dias, no calar das manhãs compartilhadas e nas conversas despretensiosas das tardes. Havia sido uma construção feita em silêncio e em suspiros, na cumplicidade leve que flui no meio das horas. Mas ali, naquela segunda-feira quase estática, algo se quebrou. Talvez fosse o peso dos anos, talvez fosse só o desgaste de um sonho dividido que, com o tempo, foi se desfazendo nas rotinas.

Ela olhava para o café esfriando, com o olhar embaçado, perdido em pensamentos que não sabia como traduzir. Ele, ao lado, parecia absorvido em outra distância, em um espaço interno onde ela já não alcançava. Era estranho como, depois de tantos anos de diálogos, agora eram apenas dois estranhos dividindo um silêncio.

Ninguém disse nada, e talvez isso fosse o mais doloroso. Não houve uma palavra sequer de despedida; não houve promessas de retorno. Havia apenas aquele silêncio denso, pesado, a pausa dolorosa de quem sente o amor se afastando sem motivo claro, como uma névoa que se dissipa aos poucos.

Os olhos dela caíram sobre uma foto antiga na parede, o reflexo de um tempo que parecia ter acontecido em outra vida. Sentiu uma lágrima deslizar lentamente, um sentimento de fim se instaurando, irreversível e silencioso, como um último há Deus.