As últimas três fotos, retidas no tempo, são mais que imagens - são fragmentos de uma história que parece determinada a ficar. Às vezes, olho para elas com o coração ainda meio trêmulo, outras vezes com uma leve aceitação que insiste em me fazer compreender: elas não vão embora, não completamente. Permanecem como partes essenciais de algo que fomos, mesmo quando já não somos. E, de certa forma, essa permanência, essa tristeza quase doce, também faz parte.
Ver essas fotos é como reviver quem já não sou mais, uma versão de mim que o tempo transformou. Mas aprender a conviver com elas me ensinou algo novo. Sim, porque antes eu tentava fugir - apagava, escondia, fingia que nada daquilo tinha existido. O rosto, o sorriso, os lugares que tantas vezes jurei nunca esquecer. Mas descobri que, ao contrário, tentar apagar uma memória faz com que ela nos persiga ainda mais. Só quando aprendi a encará-las com olhos novos, como quem aceita a despedida em paz, as fotos enfim começaram a perder seu peso. Elas se tornaram lembranças, memórias - parte de um caminho que, mesmo que não volte, deixou marcas.
É curioso como o tempo nos molda, como ele transforma a dor em algo mais suave, menos afiado. Olho para essas fotos e vejo que elas são pedaços de algo que, por mais doloroso que tenha sido, foi real. E essa realidade é nossa. Não vou fingir que não existiram; mas, ao mesmo tempo, não posso permanecer para sempre ali, presa a rostos e sorrisos que, afinal, já seguiram o próprio caminho.
Esse é um dos processos mais humanos: o de abrir espaço para novas histórias, para outras pessoas, outros momentos. Ainda que o novo assuste, ele também é uma promessa de liberdade. É como uma estrada que se alarga à nossa frente, convidando-nos a continuar, mesmo que o coração carregue vestígios do que ficou para trás. Mas eu sei - e essa é uma verdade que se aprende aos poucos - que é melhor seguir em frente, ainda que com medo, do que estagnar, vivendo eternamente no passado.
Então, sorrio. Saio. Finjo, talvez por hábito, que nunca conheci esses rostos, esses lugares, essas promessas. Vou ao encontro do presente com um coração que, mesmo marcado, quer se abrir ao novo. As fotos, essas três últimas, continuam ali, mas agora me olham de volta com uma tranquilidade que antes não existia. Elas sabem - e eu também - que não estou mais presa a elas.
Talvez essa seja uma verdade universal, algo que cada um de nós enfrenta em algum momento. Despedir-se dói, mas também é uma forma de libertação. E, ao libertar-se, percebemos que o amor, a dor, a saudade - tudo isso faz parte de um ciclo de renascimento que, vez ou outra, pede que deixemos o passado para poder viver o agora.
Então, àqueles que carregam suas próprias fotos, suas próprias memórias que insistem em ficar, saibam que não estão sozinhos. Estamos todos nesse processo de nos despedir, de aprender a guardar as lembranças com carinho, mas não com dependência. Porque, no fim, cada foto, cada rosto e cada saudade são passos que nos levam adiante. E essa é a beleza da nossa história: ela nunca para, sempre nos chama para algo mais, para algo que ainda está por vir.
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O Cotidiano em Relatos
PoëzieOlha, não sou uma famosa, então talvez isso aqui seja só um monte de palavras jogadas por aí. Quem sabe você encontre algum sentido nelas? Ou talvez só risadas. São relatos poéticos sobre o tempo, os sentimentos e as loucuras do cotidiano. É só o de...