A Nossa História

04- Lacunas

- O que a gente tinha combinado, Valentina? Mas que porra foi essa? (Luíza)

Falou jogando a bolsa na cama de uma certa distância e a encarando séria com as mãos na cintura.

- O que queria que eu fizesse? Você sabe como são as crianças (Valen)

- Ah... eu sei. A mãe perfeita sempre faz as vontades deles. Não é mesmo? (Luíza)

- Vai ficar de deboche? Eu não planejei isso, Luíza (Valen)

- Será mesmo? Eu tenho as minhas duvidas (Luíza)

- Não desconte as suas frustrações em cima de mim (Valen)

- Que frustrações? Eu tenho tudo o que eu sempre quis (Luíza)

- Tem mesmo? (Valen)

Luíza desconversou.

- Você tá dificultando a nossa situação. Eu não tô entendendo qual é a sua (Luíza)

- Eu não imaginei que seria um problema pra você. Uma hora ou outra eles iriam perguntar (Valen)

Luíza solta uma respiração pesada.

- Eu odeio quando você faz isso (Luíza)

- Isso o quê? (Valen)

- Se coloca como a vítima da história (Luíza)

- Você que tá deduzindo isso. É o que sempre faz (Valen)

- Isso vai retroceder os nossos planos. Talvez você queira isso (Luíza)

- Não faz o menor sentido isso que tá dizendo (Valen)

- Enfim... e agora. Como vão ficar as coisas? (Luíza)

- Primeiramente peço que se acalme. Somos adultas e vamos encontrar a melhor forma de contar a eles (Valen)

- Tudo bem. Eu não quero tornar as coisas maiores do que são e muito menos fazer dos nossos dias nessa casa insuportáveis (Luíza)

- Concordo. Não precisamos disso (Valen)

- Enfim... eu vou para Búzios no fim de semana. Programei com as minhas irmãs e alugamos uma casa por lá. Gostaria de levar as crianças, se você não se opor, é claro (Luíza)

- Que motivo eu teria para me opor? Eles vão adorar ficar um tempo com você. Sentem muito a sua falta (Valen)

- E eu a deles. Obrigada pelo apoio. É tão difícil termos esses momentos (Luíza)

Valentina só balançou a cabeça em concordância.

- Eu... vou tomar um banho e dormir. Boa noite, Valentina (Luíza)

- Boa noite, Luíza (Valen)

Sábado, 21 de setembro de 2030

Búzios

Luíza saiu de Itaipava às 05:00. A viagem teve a duração de quase quatro horas.

As irmãs da dançarina sugeriram a viagem. Quase como uma intervenção, pois a dançarina estava cada vez mais distante. Carol como a mais velha impôs limites para a viagem. E isso incluia esquecer o trabalho.

Luíza estava abatida por conta de sua rotina diária. Mas também era nítido o semblante triste. Qualquer um que a conhecesse minimamente enxergava isso.