♠️Capítulo 1♠️

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"Diferente dos livros, a gente não pode voltar na melhor parte." - Clarissa Corrêa

Não consigo acreditar que vou voltar para minha cidade natal. Não consigo me imaginar lá. Aqueles últimos momentos marcaram minha vida de forma negativa. Já fazem seis anos que não ponho os pés no Brasil, seis anos que sofro com as últimas imagens de Will na minha cabeça, seis anos que não tenho tranquilidade e paz mental. Quando saio na rua, sempre acho que estou sendo perseguida. Quando vejo um homem, não consigo confiar nele.

Fazem cinco anos que minha mãe denunciou Will para a polícia. Naquela mesma noite em que fugimos de casa. Demorou cinco anos para Will ser encontrado. Há um ano minha mãe tem planejado nossa volta. Mas sinto que voltar para lá só vai reavivar os meus pesadelos. Não estou pronta para encarar o passado. Não estou pronta para encarar aquela casa, o cenário daquele dia.

Ouço um "Pliiii, senhores passageiros com destino ao Brasil compareçam no portão de embarque 5." Chegou a hora. Minha mãe levanta e olha nos meus olhos.

- Não tem o que temer. O pior já passou. Aquele é o nosso lar. Não vamos deixar que Will tire isso de nós também. Aquela é nossa casa - ela afirma com convicção. Às vezes acho que minha mãe esqueceu tudo o que aconteceu naquele dia, ou simplesmente finge que não lembra. Mas no fundo acho que ela quer ser forte por nós duas. Quero que ela seja feliz, mesmo que isso custe a minha felicidade. Espero que tudo isso seja apenas um capítulo do passado. Quero pegar ele e rasgar. Quero esquecer. Quero viver novamente. Quero voltar a ser aquela garotinha alegre e corajosa. Espero encontrar ela naquele lugar. Há quem encontre luz, mesmo na escuridão.

Mamãe segura minha mão. Embarcamos no enorme avião. Vou sentir falta daqui. Espero voltar um dia.

Ao entrarmos no avião, localizo nossos assentos. O meu fica ao lado da janela, como gosto. Sento e logo tomo meu remédio para enjoo. Amo viajar, mas a parte de sair de um lugar e chegar a outro sempre é torturante. Engulo o remédio e, poucos minutos depois, sinto o sono chegando.

...

Acordo com o barulho do avião pousando. Estamos em solo brasileiro. Descemos no aeroporto de Viracopos. O sol brilha forte na janela. Ao descer, sinto o calor na minha pele. Pegamos nossas malas de mão e saímos do avião. Ao sair do aeroporto, uma amiga da mamãe está nos esperando no estacionamento.

- Oii, Lola - Mamãe corre até ela. As duas não param de chorar e sorrir. Finalmente, Lola me vê.
- Eloisa, é você? - Ela me olha da cabeça aos pés.
- Claro que sou eu - Sorrio para ela.
- Você está linda. Seu cabelo está grande. Amei, assim destaca esse dourado lindo dele. E agora você é uma moça, muito linda. Nem parece aquela garotinha que corria atrás de mim - Começo a rir. Eu tinha o costume de correr atrás da Lola para assustá-la.

Entramos no carro. Lola dirige em direção à nossa casa. Tudo parece tão diferente. Mais prédios, menos casas. Mais pessoas. Tudo meio esquisito pra mim. Tudo mudou em seis anos. Depois de uns 40 minutos, Lola vira à direita, entrando na rua da nossa casa. Lá está a rua, exatamente intacta. Tudo igual, até as cores das casas são as mesmas. As árvores estão maiores. Os moradores aparentemente são os mesmos, talvez alguns novos. Abro a janela do carro. O aroma ainda é o mesmo. O vento no meu rosto me faz reavivar antigas memórias. Lembro-me de andar de bicicleta no fim de tarde nessa rua. O vento batendo em mim. Fazendo o meu cabelo voar, transformando-o em uma farofa. Aquela lembrança me confortou.

Finalmente paramos. Desço do carro e me deparo com a casa, a nossa casa. Ainda é exatamente a mesma, só um pouco mais acabada e bem suja. Mas ela já não parece a mesma pra mim. Olho para ela. E começo a lágrimar. Lágrimas que teimam em cair dos meus olhos. Como posso viver nesse lugar, onde foi o pior episódio da minha vida? Como posso viver na casa que é o cenário dos meus piores pesadelos? Ainda paralisada na frente da casa, sinto a mão da mamãe me puxando.

- Vamos, você consegue, meu bem - Ela diz.
- Vou dar um tempinho pra vocês, volto depois. Tchau, meus amores - Lola se despede de nós e sai.
- Vamos, Eloisa. Temos muito o que fazer nessa casa - Fala mamãe entrando na casa.

As coisas estão no mesmo lugar que deixamos na última noite em que estivemos aqui. Mas há uma enorme camada de poeira em tudo. Começamos a limpar tudo. Primeiro a sala, depois a cozinha, em seguida os quartos e os banheiros. Por fim, a área da frente da casa. Quando terminamos, a casa estava limpinha, mas eu e minha mãe estávamos imundas. Cansada de tudo, fui ao banheiro tomar um bom banho. Depois do banho, resolvi tirar um cochilo. O cansaço da viagem e da limpeza da casa me deixaram exausta. O sono logo veio.

...

(Sonho)

"Estou no meu quarto deitada olhando meu celular. De repente, sinto que estou sendo observada. Levanto da cama e começo a olhar pelo quarto. Quando abro meu armário, uma pessoa mascarada pula em mim me imobilizando. Em seguida, a pessoa se revela tirando a máscara. Will, Will é o mascarado. Ele aperta o meu pescoço e diz.

- Seja bem-vinda de volta ao lar.

Começo a gritar desesperadamente".

Acordo com minha mãe me sacudindo.
- Filha, filha. O que foi? - Começo a chorar, soluçando.
- É ele, mamãe, ele estava aqui. No meu sonho - Digo a ela, ainda chorando.
- Calma, meu bem. Ele está preso - Ela tenta me confortar.
- Mas se ele for solto ou fugir? Ele vai querer vir aqui. Vai querer nos matar por denunciarmos ele - Começo a chorar mais.

Mamãe me abraça e se deita comigo. Tentando me confortar como ela pode. Depois que as lágrimas param de escorrer no meu rosto, sinto novamente o sono voltando. Minha mãe permanece ali comigo. Adormecemos juntas.

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