Locksmith || Klance

𝐓𝐑𝐄̂𝐒

— Finalmente, aqui é o jardim. — Disse enquanto apontava o dedo na direção do jardim da Fazenda, onde todas as flores alteanas estavam plantadas.

— É realmente lindo. — Keith falou enquanto observava as flores e depois olhou para mim. - Cuidas bem deste lugar.

— Heh, obrigado. Estou apenas a cumprir a minha promessa. — Disse enquanto me agachava e colhia uma das flores, observando.

As flores eram lindas. Apesar de sempre lidar com elas, nunca me cansava de apreciar a beleza das mesmas. Distraí-me um pouco ao olhar para elas. Apesar de lindas, sempre me recordavam Allura e isso ainda doía, mesmo que já se tenha passado um ano. Acho que a minha expressão descontraída e relaxada havia mudado, já que Keith havia começado a falar.

— Sentes falta dela, não sentes? — Ele perguntou enquanto olhava para mim, mas depois o olhar dele foi para a flor.

Fiquei quieto por um tempo, mas assenti a cabeça. — Bem.... Sim. Eu sei que já se passou um ano mas... Ainda é difícil. Sinto que a culpa foi minha. Sinto que podia ter feito qualquer coisa para impedir...

Ouvi um suspiro vindo de Keith. Ele olhou para o horizonte enquanto tentava escolher as palavras certas.

— Não podias fazer nada, Lance. Foi escolha da Allura... Além disso, ela jamais iria deixar-te fazer alguma coisa para a impedir. Não te podes culpar por algo cujo a culpa não foi tua. A Allura jamais te culparia e tenho a certeza que não o faz, então, também não tens esse direito.

Ele nunca foi muito bom em se expressar, mas sempre conseguia me fazer sentir melhor com qualquer coisa que ele dissesse. Era impressionante como ele tinha essa capacidade.

Na época em que estávamos no espaço, a maioria das vezes que me sentia inseguro era com Keith que eu desabafava, principalmente quando houve a confusão toda de troca de leões. Ele foi o meu principal suporte. Sem ele, provavelmente teria saído do time muito cedo.

— Acho que tens razão. Mas mesmo assim, sinto-me culpado. — Repliquei enquanto olhava para as estrelas.

Ouvi outro suspiro. Desta vez, ouvi também Keith se agachar. Não sabia o que raio ele estava a fazer, então direcionei o meu olhar novamente para ele. Qual foi a minha surpresa em ver Keith com uma flor do jardim na mão e a levantar-se, a olhar-me.

— Olha... Sei que cultivas as flores e isto realmente não é nada demais, mas, espero que te faça sentir melhor. — Ele disse enquanto se aproximava e estendia a flor na minha direção. Mas, não me deu na mão, em vez disso, prendeu mas minhas vestes.

Senti os meus olhos arregalarem e um leve quente se apoderou das minhas bochechas. Fiquei sem palavras, não sabia o que responder. O que era suposto eu responder? Olhando para Keith, apercebi-me que ele estava tão corado quanto eu e que havia olhado para outro lado.

Ia para começar a falar, mas escutei a voz da minha irmã gémea, Rachel, chamar.

— Pombinhos, o jantar está pronto!

. . .

— A sério, não é preci....

— Claro que é, querido! — A minha mãe sorriu enquanto servia a comida nos pratos. Como a família era grande, a comida era sempre bastante, então não era um incómodo.

— É bom ver-te novamente, Keith. Seguro. — Verónica disse enquanto dava uma garfada no esparguete. — O Lance estava preocupado.

— Hm? — Keith pareceu confuso e olhou na minha direção.

Quase cuspi a água que tinha na boca para o prato. Antes disso acontecer, engoli tão rápido que causou uma crise momentânea de tosse.

— Verónica! — Repreendi-a com as bochechas a ficar levemente rosadas. Estava cheio de vontade de lhe atirar o prato de comida à cara. — Eu não estava preocupado, não lhe ligues! — Provavelmente o meu tom não soou tão confiante, não sabia se Keith havia caído nessa história.

— Claro, maninho. — Ela piscou. — Mas enfim... O que aconteceu verdadeiramente contigo, Keith?

— É uma longa história. — Ele começou enquanto tomava um gole de água. — Um dos galra está vivo e planeja atacar a Terra. O que Zarkon não conseguiu. O nome dele é Lotor..

— Lotor? — Verónica piscou os olhos. — Axca falou-me dele... Era o líder dela, certo?

Eu assenti com a cabeça. — Supostamente tinha morrido por conta da exposição excessiva à quintessência. Mas pelo que Keith diz, ele está vivo. Queria saber como...

— Eu também. — Keith disse enquanto suspirava. — É por isso que não posso ficar muito tempo. Pode ser perigoso para vocês e para a Terra em geral se ele descobre que cá estou. Preciso consertar a nave o mais rápido possível.

— A Garrison é capaz de ajudar. — Verónica disse. — O Griffin anda a consertar várias coisas lá, e a construir naves de pilotagem. Provavelmente consegue fazer qualquer coisa.

— O Griffin, hm? — Keith olhou para o prato. A cara dele dizia que não era a pessoa que ele escolheria para ajudar, mas provavelmente não tinha opção. — Tudo bem.. Amanhã vou lá.

— Na-ah. — Disse enquanto cruzava os braços. — Tu não vais a lado nenhum. Nós vamos. Já chega de tu quereres fazer tudo sozinho, os teus dias de lobo solitário acabaram.

— Lance, eu não te quero envolver nisto.

— Mas eu quero me envolver nisto. — Contrapús.

Verónica olhou para nós dois. Senti que a Rachel também nos olhava. As duas estavam com cara de que eu e Keith parecíamos um casal de velhos a discutir, mas Verónica falou.

— Tudo bem, discutimos isto melhor amanhã. O Keith precisa de descansar, e tu também Lance.

. . .

— Bem, podes ficar neste quarto. O meu é logo ao lado, então se precisares de alguma coisa é só bater à porta. Provavelmente é melhor ser com força, eu durmo como uma pedra. Tens de te esforçar. — Disse enquanto sorria de canto e ajeitava a almofada.

— Sinto que estou a incomodar. Não precisavam de fazer isto tudo.

— Quando é que vais parar de negar ajuda, mullet? — Cruzei os braços. — Deita-te e dorme. Tu precisas de um descanso daqueles. Novamente, se precisares de alguma coisa, o meu quarto é logo aqui ao lado.

Depois de tudo pronto, virei as costas e estava pronto para sair, até ouvir a voz de Keith me chamar.

— Lance...

Virei-me — Sim?

— Obrigado... — Ele disse num sussurro enquanto desviava o olhar.

Era a segunda vez que Keith havia me agradecido naquele dia e daquela forma. Por algum motivo achei a reação dele divertida e até boa de se ver. Permiti-me sorrir e acenar a cabeça.

— Queres bajular-me hoje? — Fiz uma leve piada enquanto levantava a minha sombrancelha com um sorriso levemente provocador.

— Oh, cala-te. — Keith cruzou os braços e revirou os olhos. Não me contive e soltei uma risada.

— Boa noite, mullet. — Eu sorri e acenei com a mão, enquanto saia do quarto de hóspedes.

— Boa noite. — Ele respondeu após ver-me começar a sair do quarto e fechar a porta.

. . .

Após aquela situação, fui em direção ao meu quarto. Dei um pulo na cama e escondi a minha cara na almofada por um tempo. Não havia demonstrado no jantar, mas estava cansado. Bastante. Provavelmente por causa de ter usado um poder que nunca usei, e também por ser um poder que drena muita energia.

Ajeitei-me direito na cama e olhei para o teto, agora a pensar verdadeiramente no que havia acontecido hoje. O meu pesadelo havia se tornado realidade e isso assustava-me. Quem diz que eu não teria um ainda pior e se tornasse realidade? Se não conseguisse impedir o que fosse acontecer?

Suspirei e tentei esquecer aqueles pensamentos, pelo menos por enquanto. Keith estava seguro agora. Era o que importava, apesar da situação do Lotor ainda me confundir a cabeça. Como ele havia sobrevivido? O que ele queria verdadeiramente? Quais eram as intenções dele? Eram muitas questões para a minha cabeça e também para aquele horário.

Virei-me de lado e ajeitei-me novamente na cama. Puxei os cobertores para mim e decidi apagar aqueles pensamentos de vez.

Passaram-se pelo menos uns 10 minutos e fechei os olhos, adormecendo rapidamente.