𝐐𝐔𝐀𝐓𝐑𝐎

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Uma batida na porta acordou-me subitamente do sono. Demorei alguns minutos para raciocinar onde eu estava e quem era eu. Sempre me sentia assim quando algo me acordava de repente ou, para ser mais preciso, quando acordava normalmente.

Outra batida soou mais forte. Desta vez consegui recuperar os sentidos e virei o meu olhar para o relógio. Eram 3 horas da manhã e eu perguntava-me quem estaria acordado àquelas horas da madrugada. Levei uns 5 minutos para me levantar da cama e esfregar os olhos de sonolência.

Cheguei perto da porta e abri-a com um bocejo. A minha boca apenas fez o som de "hmm" antes de abrir os olhos melhor e perceber quem estava lá. 

— Uhm... Desculpa ter te acordado. — A voz de Keith soou meio culpada e ele coçou o mullet. Olhei para ele melhor e percebi que algo estava errado, já que ele parecia ter olheiras e parecia estar com um leve receio, mesmo que ele estivesse a tentar esconder.

— Está tudo bem...? — Perguntei ainda com a minha voz de sono. — Entra aí, podemos conversar se quiseres. — Bocejei e abri a porta um pouco mais para Keith entrar.

— Obrigado. — Ele disse enquanto adentrava o quarto. — Desculpa mesmo, eu só... Não queria ficar sozinho.

— Pesadelo? — Atrevi-me a perguntar enquanto fechava a porta atrás de mim.

— Podes dizer que sim. — Ele replicou. — Parecia bem real, para ser honesto...

— Queres contar-me?

— Envolvia-te a ti e... — Ele parou por um momento. — Eu descontrolado com a minha parte Galra.

Eu estava mais para lá que para cá, mas esforcei-me a prestar atenção. Quando ouvi a parte Galra ser mencionada, isso despertou-me mais.

— Deve ser só a tua preocupação... — Eu tentei relaxá-lo, tentando evitar o assunto de o meu pesadelo ter-se tornado realidade.

— Não percebes, Lance. — Keith suspirou. — Já aconteceu antes... Eu perdi o controlo numa batalha e... Não foram só os olhos que modificaram. Foi tudo. — Ele sentou-se na minha cama a olhar para baixo.

Fiquei surpreendido com aquela afirmação. Já sabia que os olhos de Keith haviam modificado uma vez numa batalha com um clone de Shiro pois ele havia-me contado, mas isto? Realmente não sabia que ele tinha uma forma Galra completa. Pensei que por ser apenas metade, não afetaria grande coisa.

Sentei-me ao lado dele e o olhei. — Olha, não vamos pensar mais nisso, okay? E nem sequer voltes a pensar que por seres metade alien tens alguma culpa disto. Vamos só... Tentar pensar nisto amanhã. Aliás, temos de ver da tua nave, né? — Tentei dar um sorriso.

Ele olhou para mim durante uns segundos. Keith não me respondeu nem deu sinais de que concordava, apenas inclinou a cabeça. Num instante senti a cabeça dele deitada nas minhas pernas.

Olhei para ele com uma piscar de olhos completamente confuso. Não estava à espera daquilo, realmente não estava. Percebi que ele havia fechado os olhos. Estaria já a dormir? Suspirei e dei um sorriso pequeno enquanto colocava a mão na dele e me inclinava para trás, fechando os olhos e apagando por completo.

. . .

— LANCE, ACORDA, JÁ TE CHAMEI UMAS 3 VE... — Rachel gritou e abriu a porta do meu quarto com força. Dei um pulo ao escutar e Keith que estava lá também deu um pulo quase ao mesmo tempo que eu.

— Que porra, Rachel! — Retorqui.

— Peço desculpa, não sabia que se encontravam assim. — Ela apontou com um sorriso de canto. Fiquei confuso por uns minutos até me lembrar da noite passada. Keith e eu havíamos adormecido ali os dois.

— Assim com... — Keith levantou a cabeça e percebeu onde havia adormecido. Sentiu também uma mão, que era a minha, na dele. Ele corou quase instantaneamente e eu não estava muito atrás.

— Enfim, o pequeno-almoço está pronto. E a Verónica vai com vocês até à Garrison.

— Está bem, está bem.. Já descemos.. — Respondi enquanto esfregava os olhos e tentava agir normalmente. Retirei rápido a mão de Keith da minha e vi Rachel sair do meu quarto.

— Como é que isto aconteceu...? — Keith olhou para mim mas não conseguiu por muito tempo.

— Vamos... Só fingir que isto não aconteceu. — Suspirei e apenas abri a porta do quarto, esperando Keith.

. . .

O pequeno-almoço tinha sido bom. Panquecas com ovos estrelados e tiras de bacon. Era simples e de desenrrasque, mas era realmente uma delícia. A minha mãe fazia as melhores panquecas.

No fim de comermos, Verónica esperou-nos na porta para irmos à Garrison. Para ser honesto, não sentia muita falta daquele lugar. Quero dizer, foi lá que aprendi tudo o que sei sobre pilotagem e o espaço em si, mas realmente não foi uma das melhores épocas. Sentia que o capitão não gostava de mim, e para ser sincero nem eu o suportava. Sempre me subestimou.

Também não estava muito animado por rever James. Mesmo que já estivesse novamente na Terra à um ano e tivéssemos nos visto na guerra, continuo a não simpatizar com ele e a não querer olhar para a cara dele. Egocêntrico e mesquinho. Não que eu não fosse também quando era criança, mas digamos que James Griffin era o tipico bully.

— Olha só! Keith, estás de volta. — James disse enquanto se aproximou e olhou para ele. Depois, também olhou para mim. — Olá, Lance.

— Olá também pra ti. — Respondi.

— Então, do que precisam?

— Bem... Resumidamente a minha nave colapsou aqui. Preciso de voltar para o espaço o quanto antes e precisava que alguém a reparasse. Achas que consegues? — Keith começou a falar. Depois do que James havia-lhe feito, não sabia como Keith conseguia ser tão natural.

— Bom, preciso de ver o estrago primeiro, mas provavelmente consigo dar conta. — Ele disse enquanto olhava para nós. — Realmente estás desesperado para vir-me pedir ajuda, não é?

— Não comeces, está okay? — Interrompi-o antes que ele dissesse mais do que devia.

— Uou, calma lá, "Taylor". É apenas uma piada.

— As tuas piadas conheço eu bem!

— Está bem, está bem! Vocês os dois, parem! — Keith interviu antes que nós os dois saíssemos no soco. Acho que Keith me passou uma veia de resolver tudo na luta. — Vamos só ver se ele consegue, não compres briga, Lance. Não merece.

Suspirei e apenas concordei.

— Vou buscar as coisas e acompanho-vos. — James disse e adentrou a Garrison.

. . .

Estávamos já em casa e Griffin estava a ver o que poderia fazer com aquela nave. Não sabia o que ele iria fazer, já que de arranjar naves eu não percebia nada. Observei-o a mexer numas coisas, a pegar em ferramentas e a clicar em botões.

Parecia estar a funcionar, pelo menos esteticamente, já que não tinha aquele buraco todo na nave. Agora só faltava a parte funcional.

James entrou na nave e testou voar nela. Minutos depois a nave pairava no céu como se nada tivesse acontecido com ela.

Ele desceu e saiu.

— Bem, parece que está a funcionar. De nada. — Ele piscou.

— Ah seu...

— Lance! — Keith repreendeu-me e suspirou. — Okay... Obrigado de qualquer maneira. — Desta vez, ele olhou para mim.

— Obrigado por teres me acolhido esta noite. Eu estou melhor.. E volto amanhã para o espaço. Preciso de acabar com isto o mais rápido possível.

Eu simplesmente o olhei incrédulo. Dei uma pequena suspirada e revirei os olhos, enquanto cruzei os braços.

— "Vais"? Não. NÓS vamos. Não te vou deixar sozinho novamente. Eu vou contigo.

Locksmith || KlanceOnde histórias criam vida. Descubra agora