Fourth

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S/n's pov

Abro a porta do meu quarto e vou em direção ao guarda roupa. Mesmo com sol, tá um clima bem frio. Não vou abusar do aquecedor já que não sou rica.

Pego uma blusa rosa e larga, uma calça moletom preta e uma meia também rosa. Estilo é para poucos, sabe.

Vou para o banheiro que tem em meu quarto e tomo um banho. Demoro em torno de 30 minutos e assim que termino de fazer meu cabelo, ainda molhado, saio de lá.

Vejo Rosé sentada em minha cama, de costas para mim, e a roupa que escolheu do lado. Ela ta me copiando, só pode.

— Quer combinar comigo, Park?

Ela vira o corpo, ainda sentada, e me olha.

— Não acredito. Tantas roupas, tantas cores... — Diz ela, me olhando dos pés a cabeça.

— Pois é. Bom, eu não ligo. Acho até fofo, vai. Vamos virar gêmeas!

— De taubaté, né. — Fala segurando o riso.

— Eu não vejo diferença!

— O que o coração não vê, os olhos não sentem.

— Tá certo isso aí? — Inclino a cabeça pro lado, até entender e começo a gargalhar alto.

— Não é assim? — Me olha confusa, mas então raciocina o que acabara de falar e começa a rir também.

— Analfabetismo em dia, Park! — Falo com a mão na barriga, já tava começando a doer de tanto rir.

— Para! É confuso! Não julgues e não serás julgada!

— Claro, claro. Espera um segundo. — Digo séria, e ela para de rir e me encara, achando que é algo realmente sério. Fico uns 3 segundos estática, até falar novamente. — Meu olho sentiu que é hora de você tomar banho! — Começo a rir de novo.

Vejo ela revirar os olhos.

— Você não perdoa, né?

— E você perdoa? — Digo me referindo ao momento da cozinha.

— Eu vou falar nada.

Paro de rir, mas começo a segurar o riso de novo, vendo a carinha dela emburrada.

Fofa.

O momento é interrompido pelo meu celular vibrando na prateleira. Ando até ele para ver o que era. Arregalo os olhos e, assim que olho para Rosé, ela já está me olhando esperando para saber o que é.

Resolvo mostrar para ela, mas quando ela vê apenas solta um suspiro cansado e também de alívio.

— Que bom que eles avisaram. Mas até acalmar, vai agitar ainda mais as coisas, por mais que eles tenham dito que foram problemas de saúde.

— Sim. Não foi bem um problema de saúde, mas... — Vejo ela abaixar a cabeça e brincar com as pontas dos dedos, um pouco cabisbaixa.

Deve ser difícil ter que falar. Ela claramente não tá confortável, e isso me deixa mais preocupada. O quão grave foi?

Respiro fundo. Tão confuso...

Guardo o celular no bolso para não ter que encarar mais daquelas notícias. Olho novamente para Rosé e coloco uma de minhas mãos em seu ombro, dando um afago ali.

— Tudo bem. Não se force a falar. — Retiro a mão e me agacho em sua frente, agora colocando as duas mãos em seus joelhos para chamar sua atenção. Funciona, pois assim que a encosto, ela me encara por reflexo. — Sei que nos conhecemos ontem e não da melhor forma, ainda sou uma estranha e entendo que, por mais que eu pareça ser confiável, não pode falar muita coisa. Mas você não tá sozinha agora. Tira um tempo aqui pra refrescar a cabeça. Não vou sair daqui, não hoje.

Vejo seus olhos atingirem um tom avermelhado, indicando que quer chorar. Ela tá se segurando, mas sei que é sensível. Faço carinho em seu joelho com os polegares e dou um sorriso pequeno, como se quisse falar que estou aqui e tá tudo bem chorar.

Ela realmente entendeu o recado, pois começou a cair uma lágrima, depois outra, e agora não para mais.

Não faço ideia do que fazer, quero chorar também. Não sei se temos intimidade para abraçar.

Ah, quem se importa?

Fico em pé e a puxo delicadamente para meus braços. Demora um pouco para ela reagir, mas depois de uns segundos sinto seus braços em volta de minha cintura. Vejo ela virar um pouco seu rosto e apoiar a cabeça em meu peito, ainda sentada. Afago seus cabelos com uma mão, enquanto com a outra faço movimentos circulares em suas costas.  Meu coração tá batendo como um louco agora, e ao mesmo tempo tá tão apertado. Tenho certeza que ela tá escutando meus batimentos, mas creio que isso tá longe de passar em sua cabeça no momento.

Odeio te ver desse jeito...

[...]

Meia hora depois ela se acalmou e afastou de mim. Não reclamei em momento algum. Não ligo de ficar abraçada assim com ela, ela parecia tão vulnerável e frágil...

Não falamos nada, apenas nos encaramos e então ela se levantou e pegou as roupas, dizendo que ia tomar um banho. Dei um aceno com a cabeça e me sentei na cama quando vi a porta ser fechada.

...

O que foi isso? Tem tanta coisa pra pensar! O dia mal começou e tá assim. Rosé na minha casa. Folga. Rosé. Panquecas. Brincadeiras. Rosé. Hiatus. Choro. Rosé. Abraço.

Rosé.

Me deito na cama e coloco a mão no peito enquanto fecho os olhos. Meu coração ainda tá um pouco acelerado, em momento algum se acalmou quando estava abraçada a ela.

Pra piorar, a cama tá com seu aroma floral. Não reparei em seu cheiro antes.

Me sinto em um jardim cheio de rosas...

Viro de lado e levo o lençol para perto de minhas narinas. Não ligo de bagunçar de novo.

Inalo aquele cheiro extremamente confortável, dando uma sensação de paz e lar. Meu coração imediatamente começa a se acalmar.

Uau, que contraditório. Ela me faz quase morrer de ataque cardíaco e no instante seguinte me acalma mais que qualquer outra coisa.

Ainda de olhos fechados, memórias me invadem.

Os cheiros são parecidos...

Antes que eu perceba, lágrimas já estão rolando em meu rosto. Sinto o aperto em meu coração de novo e me encolho na cama. Droga, não queria chorar.

Tento segurar, mas acabo me entregando. Choro pelo que guardei e pela saudade. Me seguro para não soluçar. Faz tanto tempo que não choro assim.

Imagens da Rosé chorando momentos atrás vem em minha cabeça e as lágrimas rolam mais intensamente em meu rosto.

Queria você para me consolar. Com seu corpo pequenino e sua inocência. Seu coração era o mais puro que já havia visto. Suas mãos tão pequenas segurando minhas bochechas desajeitadamente, junto com seu sorriso banguela.

Por quê se foi, nini?













(Hiatus) Where is Rosé? | Imagine RoséOnde histórias criam vida. Descubra agora