01 - Um Passo em Falso

327 22 37
                                    

Neveah

Eu sempre fui uma garota de poucos medos desde a minha infância, a maioria das coisas que amedrontava ou tirava do eixo as outras crianças era algo que me deixava entediada ou no mínimo confusa. O medo sempre foi algo indescritível pra mim, um conceito de múltiplas variações e sentidos, apenas vivendo na própria existência você poderia com extrema cautela e suspeita dar cada passo que sua vida exigisse, pois cada passo em falso pode ditar uma quebra da linha do seu futuro.

E a gente nem faz ideia disso.

No entanto, eu sempre tive um medo maior: Altura.

O mais ridículo dos ridículos é que eu poderia listar. Eram pouquíssimas as coisas das quais eu sentia medo, e a grande distância de espaço e tempo entre eu e um inevitável impacto era o que me submergia em ideias suicidas.

Tudo o que eu sentia naquele momento era o meu corpo caindo, pesado e denso. Nada se passava pela minha visão, eu não sabia onde estava e nem o que me aguardava no fim do poço, mas por algum motivo, pela primeira vez na vida não fazia tanta diferença. Por um momento o impacto era esperado, aguardado, talvez até desejado.


Um passo em falso pode mudar a rota de tudo.


Eu não podia ouvir nada, não podia ver nada e quase não sentir nada, mas a velocidade que eu caia era tão veloz que se houvesse luz por ali, ela a atravessaria sem dificuldade, o vento que batia em contraste a minha queda parecia refrescante, porque quanto mais eu caia, mais quente parecia ficar.

Então, em uma espécie de dor suportável que eu não me recordo de em algum momento já ter presenciado, sinto transformações minuciosas no meu corpo, sinto a dinâmica dos átomos dele se tornarem diferentes do que conheço, minha carne diminuindo, e coisas das quais não consigo reconhecer mudando. Eu não me sentia estática perante aquele fim, parecia uma reformulação de mim mesma.

Que me deixava mais paralisada, mais sonolenta...

Mais pesada.

Fecho os olhos e por uma mágica, minha mente deixa de se importar com aquilo, deixa de se importar com o meu fim ou com qualquer coisa que esteja acontecendo comigo agora. Chiados semelhantes a de um rádio quebrado ecoam nos meus ouvidos em alto e bom som, mas eles não me acordam, apenas adormecem ainda mais o meu corpo.



...



Abro os olhos com força enquanto meu peito sobe e desce aceleradamente. Tomo o fôlego com dificuldade, sugando o ar o máximo que posso.

Ah.

Foi um sonho.


Me apoio com as mãos com dificuldade, coloco uma delas no meu peito enquanto tento regular minha respiração. Isso foi muito real, real demais...

Olho para o lado em busca da minha cômoda, mas não a encontro. Busco a minha cama, mas também não está lá. Com a minha visão desembaçando aos poucos, percebo que não estou no meu quarto.

Longe disso.

Esse lugar está muito distante de ser o meu quarto.

O lugar onde eu estou é aberto, o céu é vermelho e escuro como a cor do meu sangue, e não há a presença de mais nenhum objeto ao meu redor, apenas lixos perdidos.

Pisco meus olhos várias vezes continuamente, achando que estaria vendo errado, que talvez fosse um sonho lúcido ou uma imagem que meus olhos projetavam ainda com o meu corpo inconsciente. Não paro de observar o lugar onde eu me encontrava, levo alguns segundos para me recompor e entender de uma vez por todas que aquilo não é apenas uma visão.

My Hell Or Heaven? | Alastor & OCOnde histórias criam vida. Descubra agora