05 - Jaqueta

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Neveah

Depois de uma sessão de terapia curiosa com a Charlie, resolvi continuar o livro que Alastor havia me recomendado. A princípio, quis ler para dispersar um pouco a minha cabeça dos acontecimentos de hoje mais cedo, mas era no mínimo irônico acreditar que eu conseguiria fazer isso com algo que justamente me lembrava dele.

Com mais algumas páginas lidas, descobri que Neveah por algum motivo gostava de imaginar misturas de animais, odiava a forma pacata e monótona com a qual eles nasciam e cresciam, sempre iguais, sempre seguindo os padrões, comendo o mesmo tipo de alimento e traçando apenas com animais da mesma espécie, tendo a mesma coloração de pelagem e perfeitamente conformados em sua realidade já pré-definida desde a própria criação da terra, sem o menor interesse de buscar o sentido da própria existência ou outras vidas fora da sua habitual do campo.

Ela cresceu vendo os mesmos animais seguindo sua natureza, que durante um tempo era lindo, natural e até mágico. Mas com o tempo ela passou a sentir repulsa, porque não conseguia aceitar e viver a própria natureza.

Pelo menos não a que foi pré-estabelecida a ela.

Ela não conseguia simplesmente se contentar com o que ela deveria fazer sendo uma humana, longe de civilizações e com uma vida até bem estóica e antiga longe das modernidades mais comuns, sentia desgosto por não ser como os animais. Nascerem e apenas serem o que lhes foi definido que deveria ser, simples e fácil assim.

Então ela redefinia os animais, porque para ela fazia, mais sentido reconstruir a vida deles para que se encaixasse em sua visão do que reconstruir a própria. Imaginava inúmeras combinações deles, achava sem graça que um dos únicos frutos existentes do qual teve contato fosse apenas um burro, então se perdia em devaneios e fantasias de um mundo onde animais não seguiam a sua natureza, apenas eram o que queriam e sentiam vontade de ser.



De verdade, que porra de livro é esse?



Por que eu ainda estou lendo isso? É sério que Alastor me comparou a uma garota supostamente pervertida que gosta de imaginar animais lúdicos fazendo sei lá o que?

Fecho o livro com força enquanto o largo em cima da mesa da sala principal. Vou até a cozinha enquanto desprendo um longo suspiro, colocando um pouco de café forte em uma xícara para mim.

Assim que me viro para sair de lá, meu corpo esbarra abruptamente com outro, fazendo o líquido do café cair todo sobre mim.

- Merda! - digo mais pela dor de queimação do café quente no colo do meu peito do que pelo esbarrão, meu top não cobre essa parte para ao menos tê-la protegido um pouco.

- Oh, mil perdões, minha querida! - Alastor diz enquanto retira a xícara do chão.

Vou até a pia e pego um pano para me limpar, percebo que o café também caiu na minha jaqueta clara, com certeza a manchando.

- Tem como você ser mais invasivo? - pergunto em ironia e com raiva enquanto retiro a minha jaqueta.

- Na verdade, eu até que fiquei bem discreto.

- Por que raios você tava atrás de mim? Por sua causa, a única jaqueta que eu tenho está estragada! - resmungo para ele.

- Vim pegar algo para comer e por acaso minha fumaça fez eu surgir bem atrás de você. - ele responde com o seu sorriso cínico.

Reviro os olhos enquanto retorno a me retirar da cozinha.

- Ah, Neveah - ele me chama. Suspiro antes de me virar para ver o que ele quer. - Tenho uma amiga que é ótima com roupas, garanto que ela pode dar um jeito nessa sua... jaqueta - Alastor aponta para ela com um toque de nojo em sua fala, provavelmente porque ela não é muito clássica pros padrões dele.

My Hell Or Heaven? | Alastor & OCOnde histórias criam vida. Descubra agora