O Mundo (Interlúdio)

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Durante o capítulo anterior

O nobre anel, repousado na cômoda em companhia ao alarme, pertencente ao mais esplêndido dentre os descendentes da respeitável família Castanõ. - O veredicto certamente seria outro se as opiniões dos finados possuíssem algum valor - Refletiria não apenas sobre uma pena, mas sobre toda a situação, como quem pondera sobre a carcaça de uma ave. É necessário deixar em segredo o fato de que os laços matrimoniais já estão se desfazendo como cristais não temperados. Afinal, o verdadeiro tempero da vida é o amor.

Tão belo... Ainda me surpreende pensar que mereço algo tão sublime...

Seria um temor demasiado para o jovem enamorado sair ao mundo e se deparar com um senhor de idade avançada, à procura de jovens na vastidão da web. Contudo, sua perspicácia inata garantiria que tal encontro jamais ocorresse em condições normais. É lamentável que a normose não esteja em voga; trata-se mais da banalidade, do comum. Crimes... Ah, há algo mais intrigante.

Do guarda-roupa é retirado o traje mais requintado que a Sra. Castanõ poderia oferecer-lhe. Diante do espelho, ele se observa, mais indeciso do que nunca.

Será formal demais? Estará o penteado apropriado? Qual o conceito de apro-?

O tempo urge, e ele está à beira do atraso. No entanto, a paixão domina seus pensamentos, fazendo-o esquecer do mais crucial: o anel. E surge a pergunta: em qual dedo deverá ser colocado? E, ainda mais crucial, de que maneira ele devolveria o anel...

Agora, sim! Joe Castanõ está pronto para seu encontro romântico. Furtivo, ameaçou passar pela cozinha.

- Você está se tornando um homem, para onde foi o meu menino? - A Sra. Castanõ cora ao pensar no casamento, imaginando-se como a mãe mais afortunada do mundo.

- Mãe, por favor. Menos. É apenas um encontro. Há tantas possibilidades... Estou me apegando à ideia de que talvez não dê em nada. - Joe suspira, tentando dissimular seus devaneios.

- Ah, Joe, caia na real, nem você acredita nisso. Esse rapaz deve ser perfeito, tão tímido... Assim como você. Que tipo de jovem deixa um presente tão magnífico à porta do amado?

- "Amado"? Mãe, a senhora não é tão antiquada assim para utilizar tais termos. Não proclame aos quatro ventos que foi assim com o meu pai.

- Enfim... Não importa o que aconteça. Me ligue imediatamente caso precise de algo. Este jovem só pode ser o último romântico da face da terra. Espero que não parta o coração do meu pequeno. - A voz da mãe de Joe transborda de carinho e apoio, embora, no fundo, ela tema os preconceitos que o mundo cruel possa impor.

- Eu não... Pretendo me demorar.

Ao atravessar a porta, Joe circundou o jardim dianteiro de sua residência, onde meticulosamente selecionou a rosa mais exuberante do canteiro. Guiado pelas instruções do e-mail, seguiu o trajeto até a rua Main Ave 2477, onde divisou à distância os cifrões que adornavam o olhar do renomado restaurante tailandês Chang Thai.

Ao adentrar o recinto, sentiu-se invadido por uma multidão, enquanto a fobia social roçava sua nuca, desafiando sua coragem. Com um rápido escaneamento visual, procurou por um jovem que se assemelhasse à descrição sutil fornecida pelo misterioso pretendente. E lá estava ele: um jovem loiro de olhos negros como o carvão, de compleição frágil e uma palidez extrema que lembrava a de alguém enfermo.

O rapaz encontrava-se imerso em uma ligação, exibindo uma expressão séria e taciturna. No entanto, ao perceber a presença de Joe, sussurrou algo ao telefone e o guardou no bolso da jaqueta, erguendo-se para saudar seu acompanhante. Dada a aglomeração e a indiscrição que uma demonstração pública poderia gerar, eles se limitaram a apertar as mãos, deixando Joe desconcertado sobre como proceder com a rosa, temendo o constrangimento de uma entrega em meio a tantos espectadores.

- É um prazer conhecê-lo, Joe. Estava ansioso por este momento. - O garoto lançou um sorriso diplomático e charmoso, o que causou um leve desconforto em Joe. O rapaz então apontou para o banco. - Por favor, sente-se. Ainda não pedi nada. Ah, e isso é para mim?

- Claro! - Joe entregou a rosa como se estivesse cometendo um delito. Sentindo-se envergonhado, ele mergulhou no cardápio. - A propósito... ainda não sei seu nome...

- Me desculpe. Sou Munerat. Sobrenome não importa, já que será o mesmo que o seu no futuro...

Joe pigarreou e engoliu em seco.

- Como é?

- Ah, nada. E quanto ao cardápio, já decidiu? Aqui não tem frescura, pode pedir o que quiser. - Munerat deu dois tapinhas na própria barriga, arrancando um sorriso genuíno de Joe, que logo foi interrompido por um toque de telefone e uma vibração no bolso. Joe leu o identificador de chamada e optou por ignorar, mas a vibração retornou após trinta segundos.

- Desculpe, preciso atender lá fora, é uma amiga. Prometo não demorar. Não é desculpa para fugir do encontro que já tinha sido combinado, juro. - Munerat observou a confusão no rosto de Joe. - A propósito, estarei na janela do lado de fora, visível.

Munerat apenas assentiu lentamente, embora considerasse tudo muito estranho.

* * *

- Por que demorou tanto para atender? Está ocupado?

- Estou sim.

- Claro que está!

- Não quero me estressar agora, é algo realmente importante, Doma. - Joe reluta, se for preciso, ele mentirá sobre o encontro.

- Talvez? Eu não sei, pode ser apenas uma das minhas paranoias... - A batalha estava pareada a decidir quem resistiria mais.

- Nunca consideraria isso.

- É que tenho sentido você distante ultimamente...

- Suas análises são errôneas. Ontem a noite evitou o contato comigo, sei que não está bem por causa da inércia vazia das últimas semanas. Notei o elogio descabido ao meu anel, não confunda com inveja.

- Isso é o menos importante. Estou fora da cidade, na casa dos meus avós, e tenho notado algumas coisas estranhas.

- Claro que notou... Faremos assim, Doma. Ligue-me a cada meia hora, apenas para garantir que está bem. Se atrasares um minuto, irei até aí. Se sente mais segura agora?

Joe está tão preocupado comigo que nem sequer questionou o que estou fazendo nesse lugar.

Admitir isso para Joe seria como admitir para si mesma que não se sentia segura, o ranger de dentes desvela amargo e denuncia o descaso. Doma desligou a ligação na cara do único em que ela poderia confiar naquele momento. O único que poderia ajuda-lá.

Joe, por outro lado, pouco se importava. A única coisa que lhe interessava eram as faíscas de sedução, emanando dos olhos negros do garoto no banco do outro lado da janela. Com um olhar, Munerat implorava por mais, e era correspondido com desejo mútuo; seu dedo suave encontrava o vidro, a barreira entre eles. O calor dominava e inflamava o sangue, manchando-o de profano. No auge do inexplicável, de repente, não havia mais nada além deles, nada entre eles. Apenas corpos entrelaçados na imaginação de uma maldição onírica à face da atração. Um misto de croce e delizia em mentes sincronizadas.

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⏰ Última atualização: Oct 06 ⏰

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