8. Lembrança

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Eu saí da universidade sentindo minha pele arder, como se a aproximação repentina de Rebecca ainda me afetasse mesmo horas depois do ocorrido.

A cada novo dia que passava, apesar de me tornar menos reativa a tudo o que eu sentia em sua presença, eu não podia mentir para mim mesma e dizer que alguma coisa estava mudando. Rebecca era como uma tormenta, que passava abalando todos os meus sentidos e me deixava como um desastre em seu rastro.

Eu precisava escapá-la.

Com esse pensamento, andei passos rápidos e precisos até o meu apartamento naquela sexta-feira a noite. Deixei meu material de trabalho em seu devido lugar e fui até o banheiro, queria tomar um banho para relaxar  do peso do dia, mas a ardência da sua proximidade se manteve viva em minha pele, mesmo com toda a pressão que apliquei ao esfregar meu corpo.

Não me deixando sentir derrotada, eu saí do banho e fui até o meu armário. Busquei uma roupa confortável, mas que destacasse exatamente os atributos que eu queria deixar em evidência. A calça social branca era larga em meu corpo, mas combinava bem com a blusa de botões sem mangas que encerrava um pouco antes do cós da calça, deixando exposta alguma parte da minha cintura. Finalizei com um cinto preto fino.

Terminei de me arrumar, colocando uma maquiagem leve em meu rosto e o meu perfume favorito

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Terminei de me arrumar, colocando uma maquiagem leve em meu rosto e o meu perfume favorito. Me encarei no espelho e apreciei a minha aparência, considerando que se me forçar a parar de pensar naqueles olhos castanhos ou esfregar sua presença da minha pele não tinham sido o suficiente, talvez eu pudesse encontrar uma outra solução. Quem sabe outros olhos não distraíssem minha mente e um outro calor não domasse a sua presença vibrante em meu corpo. Essa noite eu não pensaria nenhuma vez mais sequer naquelas malditas covinhas.

Com esse pensamento, percorri o caminho bem conhecido por mim com tranquilidade, apreciando o vai e vem das pessoas e o burburinho da cidade viva numa sexta-feira a noite. O vento levemente frio, relaxava o meu corpo mais do que eu imaginei e eu me vi sorrindo de maneira relaxada, pela primeira vez naquela semana, enquanto encarava a faixada do meu bar favorito.

Eu havia conhecido o Vicious Circle no meu terceiro ano em Bangkok. Eu tinha recém feito vinte anos e Nam insistiu que deveríamos comemorar em um bar assim que eu retornei da minha visita à minha mãe. Eu pensei em negá-la, mas honestamente, eu estava empolgada em poder aproveitar essa parte da minha nova vida. O apego emocional me apavorava de uma maneira que eu evitava pensar, mas o contato físico era algo que eu apreciava completamente. Anos de solidão e resignação em relação a felicidade não podiam ser esquecidos apenas com um toque, mas devo confessar que o calor de um outro corpo era um analgésico magnífico. 

E essa noite, mais que nunca, eu precisava desse torpor.

Entrei no ambiente pouco iluminado e fui direto para o meu canto predileto no final do balcão. Escorei o meu corpo no mesmo e deixei meus olhos percorrem o ambiente. Eu gostava dali, porque parecia que todos estavam em busca do mesmo que eu: algo passageiro e efêmero. Um pico de sentimento no meio da dormência para alguns ou um momento de alívio em meio ao caos, como no meu caso essa noite.

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