28 de Novembro do vigésimo nono ano de Aurora
Raphael,
Estou do doente, meu corpo treme e eu quase não posso me erguer da cama. Ninguém faz nada para me ajudar, ninguém cuida de mim. Você cuidava de mim quando eu adoecia, mas não agora. Eu estou doente. Eu estou sozinha. Minha mão treme e minhas letras são um borrão. Você pode entender minha dor?
Emagreci terrivelmente, é como se não me alimentasse a mais de meses. Eu nunca antes sentir fome e agora ela me corroí como um animal furioso.
O conde traz para mim um maldito pão branco, tão pequeno que sequer parece ser capaz de alimentar a um pássaro, e ainda assim eu espero a cada dia por sua visitar, espero pelo pequeno e insuficiente pão branco que descerá por minha garganta e encontrará um estomago oco de modo doloroso. Porque isso é tudo o que ele tem me dado para comer.
A fome dói, aperta meu corpo e deixa minha mente a um passo da insanidade. Tenho água, mil litros para beber, mas é uma agua amarelada que desce pela torneira do banheiro tem gosto de ferrugem e uma cor amarelada doentia.
Estou com tanto medo, Raphael. E dessa vez não é o medo de ficar sozinha, não é o medo do frio cada vez que a noite se aproxima, nem o medo de esta longe de casa, eu estou com medo de morrer.
Eu nunca havia pensado sobre como seria morrer. Acho que ninguém nunca pensa sobre a morte quando se tem uma vida boa.
O dinheiro, a casa, o status. Nós sempre tivemos uma vida boa. Minha vida era boa, conforto, empregado, dezenas de vestidos usar e mais festas que vestidos para ir. As pessoas queriam minha vida, queriam ser eu, queriam ser você. Queriam ser os irmãos Clinton, com o prestigio e tudo o mais que se tem direito quando somos nós.
Pergunte-os agora se algum deles quer a minha vida. Pergunte se eles sente inveja de mim.
Há alguém para admirar minha beleza aqui? Alguém que me diga que eu estou encantadora? Algum cavalheiro disputando por minha atenção?
Eu estou me desmanchando.
Estou vendo que agora nada que eu sempre tive vale mais que a liberdade de ver o sol. De sentir o vento em meu rosto.
Eu jogaria tudo fora, tudo que sempre tive, pela paz. E se dissessem que eu poderia ter um prato de comida agora pelo meu passado, eu só não o trocaria por causa de Risi, porque eu tenho tanta fome.
Tenho tanta fome.
Eu tenho tanta fome e ao mesmo tempo eu trocaria meu passado por um prato de comida e a vantagem de poder te esquecer.
Sinto a febre arranhando-me a pele, infectando-me o sangue, transformando meus ossos em uma pasta que não me permite ficar de pé. Respirar é um esforço que dói, e eu sei que eu estou morrendo.
Eu sei que estou morrendo.
Só não sei o que está morrendo primeiro, meu corpo ou minha alma.
De sua irmã,
Amália.
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Raças
Khoa học viễn tưởngA espécie humana está totalmente desestabilizada. O homem é agora o que nunca foi. Há aqueles que tem dons. Visões do futuro, vozes que encantam, vozes que amedrontam, crianças inteligentes como adultos, peles que queimam, peles que congelam. Há aq...