O granizo caia o lado de fora em um ritmo constante e alto, as pedras de gelo eram do tamanho de bolas de golfe e o ar estava terrivelmente gélido. Nicolas estava com as roupas molhadas da chuva que havia tomado e podia sentir o frio se infiltrando nos ossos até ele começar a tremer.
As meninas também estavam molhadas e a criança ainda chorava o som de sua vozinha estridente competindo com o da tempestade do lado de fora, Nicolas tinha a impressão que ela ganhava. Ele foi até o cavalo e tirou um par de toalhas de dentro de uma grande bolsa impermeável que ficava presa no lombo do animal. O corcel havia se deitado em um canto da recepção do hotel abandonado e o único movimento que fazia era um remexer ocasional das orelhas.
Alexia seguia cada movimento que ele fazia com aqueles grandes olhos dourados, não pegou a toalha da mão dele quando Nicolas ofereceu, cada ação da parte dela era um poço de desconfiança.
- Não aceite se não quiser, mas você deveria seca-la, está muito frio aqui.
Nicolas deixou a toalha cair no colo dela e começou a secar a si mesmo. Ele virou de costas para Alexia e tirou as peças de roupa molhada, deixou a camisa cair no chão e secou o torso rapidamente e desabotoou o jeans, Nicolas ouviu um rosnado quando desceu suas calças, ficando só com uma cueca boxes.
- Coloque suas roupas de volta! – Alexia gritou chateada.
Nicolas se virou para ela, a toalha em sua mão secando a água que escorria da cabeça para o pescoço, ele ergueu uma sobrancelha para Alexia.
- Deveria tirar suas roupas também – Nicolas falou a ela.
Alexia empalideceu um ou dois tons e deu um passo para trás, aproximando-se mais de sua irmã deitada e adormecida no sofá, como se buscasse proteção. Nicolas notou que ela parecia assustada, seus olhos percorrendo por todo o espaço em busca de uma saída, e mentalmente se recriminou que talvez pudesse ter passado a mensagem errado a ela.
- Não quis dizer nesse sentido, Alexia – falou ele imóvel onde estava. – Só acho que deveria se secar e trocar essas roupas úmidas, eu vou lhe dar algo seco para vestir, provavelmente ficará grande, mas ao menos não adoecerá de frio. Eu nunca tocaria em você. Você é só uma criança.
Nicolas viu quando ela estremeceu e desviou os olhos dele, ele tirou um par de roupas da bagagem se vestiu rapidamente entendendo que ela realmente se incomodava com ele despido. Tirou uma peça extra da bolsa e colocou no encosto do sofá para que Alexia pudesse pegar.
- Você pode se trocar em um dos quartos na parte de cima, esse lugar está abandonado, não há risco de encontrar com ninguém por aqui – ele disse para ela.
- Eu não vou deixar você sozinho com minha irmã – Alexia falou como se Nicolas fosse simplesmente estúpido.
- Nem mesmo pensei nisso – Nicolas falou cansado das acusações dela – eu vou virar de costas e você se veste. Eu não vou olhar até que você permita.
Nicolas não esperou uma resposta, ele deu as costas para ela e esperou, o frio parecia ter aumentado, se é que era possível, o granizo tinha parado de cair, mas Nicolas tinha a impressão de que talvez começasse a nevar. Ainda de costas para Alexia ele começou a recolher alguns pedaços de madeira e papel que estavam largados no chão e juntar em uma pilha próxima ao sofá.
Havendo uma quantidade considerável, Nicolas tirou um isqueiro do bolso e incendiou um pedaço de papel, ele sustentou o fogo ate ter certeza de que a chama não iria apagar e ficou observando enquanto as labaredas ganhavam vidas e começavam a distribuir calor. Arrastou um conjunto de mantas de dentro da bolsa e as forrou sobre o chão entre o sofá e as chamas.
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Science FictionA espécie humana está totalmente desestabilizada. O homem é agora o que nunca foi. Há aqueles que tem dons. Visões do futuro, vozes que encantam, vozes que amedrontam, crianças inteligentes como adultos, peles que queimam, peles que congelam. Há aq...