O castelo era lindo. Mas mais que lindo, era impenetrável, sequer Nicolas poderia ir a qualquer canto sozinho. Ele sabia que sempre havia uma câmera, olhos e ouvidos, o vigiando. A maioria das pessoas se incomodaria com tamanha falta de privacidade, mas Nicolas havia se acostumado. Porem hoje ele se chateou e por um momento quis que todas as câmeras se apagassem, todos os olhos ficassem cegos e todos os ouvidos surdos.
- Você tem certeza disso, Nicolas? – Beatriz lhe perguntou.
A sobrinha do rei Gabriel só tinha 13 anos, mas talvez fosse menina de treze anos mais formosa do mundo. Ela tinha grandes olhos pretos e uma pele negra como a terra fértil de uma lavoura, um rosto de feições firmes, mas delicadas, e cabelos cacheados que caiam em uma cascata por suas costas em um balançar encantador.
Desde que Nicolas havia chegado ao castelo ela grudara nele de um modo pouco convencional e eles se tornaram praticamente inseparáveis desde então.
Beatriz era alegre e espontânea, firme como uma monarca e tão esperta que irritava a maioria dos adultos. Ela era uma princesa, mesmo que esse título não lhe pertencesse, e agia tão como se crê que as princesas devem agir.
- Estou há muito tempo longe de casa, pequena. Certamente entende que tenho que retornar. – Nicolas falou suavemente.
- Irei ficar novamente só, quando você se for. As pessoas desse lugar são terrivelmente tediosa, Nicolas. – ela se moveu na frente dele, usava um vestido coral que se movia junto com ela a cada passo dado, ondulando ao seu redor.
O jardim fervilhava com vida, o cão de Beatriz corria em volta deles em uma alegria sem sentido, ele era um cão selvagem e orelhas pontudas que ela insistia em chamar de Drain, que aparentemente significava Espinho em alguma língua que ele não conhecia.
- Não ficará sozinha, pequena. Sabe disso. De qualquer modo terá a seu tio, poderá sempre esta com ele, sei que gosta mais dele do que das outras crianças que vivem aqui.
Beatriz bufou petulante.
- Meu tio é um homem ocupado demais para dar atenção a uma menina de minha idade, sabe disso.
De seu rosto subitamente desmanchou-se toda a brincadeira e a chateação que demostrava. Beatriz estava triste, muito triste, seus grandes olhos se encheram de lagrimas.
- Me esquecerá. – ela disse com convicção.
- Não pequena. Eu não o farei. – Nicolas a pegou pelas mãos e fez com que ela se sentasse ao lado dele no grande banco de madeira no qual estava. – não chore certo? Não é para sempre.
- Voltará? – ela perguntou tentando não lhe mostrar a esperança.
- Sei que sabe que sim, não nos vistes juntos? Sequer deveria me perguntar – sussurrou ele no cabelo dela de modo que ninguém mais os ouvisse.
Entendendo Beatriz passou os braços em volta dele e colou-se ao seu peito de modo que pudessem se comunicar em segredo. Era algo que eles tinham desenvolvido com o tempo, dividiam segredos, e piadas que eram só deles e de mais ninguém.
- Minhas visões não são sempre exatas, sabe disso. – ela o repreendeu com certa veemência. Era surpreendente que uma garotinha de treze anos pudesse fazer isso com ele quando ninguém se atrevia ou podia.
- Sei que você não crê nelas, sei também que são reais. – disse Nicolas.
Beatriz tentou se afastar dele, mas ele a segurou.
- Elas não podem ser reais, Nicolas. Não podem. – murmurou a menina de um modo tão aterrorizado que ele se assustou. Ela estava tremendo.
Nicolas nunca vira a beatriz tão sem controle sobre si mesma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Raças
SciencefictionA espécie humana está totalmente desestabilizada. O homem é agora o que nunca foi. Há aqueles que tem dons. Visões do futuro, vozes que encantam, vozes que amedrontam, crianças inteligentes como adultos, peles que queimam, peles que congelam. Há aq...