Capítulo 10

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๑ ⋆˚₊⋆────ʚCapítulo 10ɞ────⋆˚₊⋆ ๑
Entre o Desejo e a Dúvida.

Os dias seguintes se arrastam em uma calmaria forçada. Trabalho, casa, reuniões. Tudo parece girar em torno do contrato que assinei, cada segundo contado até que os dois anos terminem. As meninas continuam sendo minha única fuga da tensão crescente que sinto no peito, mas nem elas conseguem apagar o eco das palavras de Callisto.

Se ele achava que poderia me quebrar, estava redondamente enganado. O tempo dele chegará. Não sou mais a garota frágil que ele pensa. Aprendi com as melhores a nunca mostrar todas as cartas de uma vez.

A mensagem no meu celular vibra novamente.

Kiara: Já tá no escritório? Quero saber tudo quando sair de lá.

Sorrio ao ver a preocupação genuína. Mesmo no meio de um campo minado, Kiara e as outras ainda conseguem me fazer sentir protegida. Mas, por dentro, o frio continua a crescer.

Chego à sede do escritório, e tudo em mim se contrai ao passar pela porta giratória. O ar dentro daquele lugar é pesado, quase sufocante. Tudo aqui me lembra que sou uma intrusa no território do inimigo. Callisto não está na sala quando entro, mas sinto a presença dele pairando sobre tudo.

Me sento à mesa, esperando, tentando manter a compostura. Não posso permitir que ele veja qualquer sinal de fraqueza. Eu sou a filha de Noémie, e esse é o legado dela que estou lutando para retomar. Não há espaço para hesitação.

As portas se abrem, e Callisto entra com uma postura relaxada, como se estivesse apenas cumprimentando um velho amigo. Ele lança um olhar rápido para mim, um sorriso calculado nos lábios.

- Bom dia, Cecília. Vejo que está pronta para o primeiro dia da sua nova vida.

- Já comecei minha contagem regressiva, na verdade - respondo, sem tirar os olhos dele.

Ele ri de maneira contida, como se minha resposta fosse um jogo que ele já estava cansado de jogar.

- Não faça parecer tão torturante. Tenho certeza de que podemos encontrar um equilíbrio aqui, você e eu.

- Equilíbrio? - minha voz sai fria.

- Presidente, você não sabe o que essa palavra significa.

- Ah, mas vou aprender. - Ele se aproxima, se sentando à mesa, os olhos fixos em mim.

- Vai ver, nesses dois anos, vou descobrir muito sobre você.

Seus olhos escaneiam meu rosto, e sinto o mesmo calafrio da última vez que nos encontramos. Ele está jogando comigo. Sabe que, por baixo da confiança, há algo que estou guardando. Mas eu também sei algo sobre ele. A expressão dele, às vezes, falha. Existe uma raiva não resolvida, uma mágoa antiga que ele tenta esconder por trás de toda essa fachada de controle.

- Bem, vamos ao trabalho - diz ele, finalmente desviando o olhar.

Mas algo em seu tom me faz pensar que, para ele, isso não é apenas "trabalho". É um jogo, e ele está esperando pelo momento em que vai me ver ceder.

Eu não vou.

*Callisto**

Ela é boa nisso. A maneira como ela se mantém firme, como não reage aos meus pequenos jogos mentais... é fascinante. Mais fascinante do que eu imaginava. Mas eu vejo o que ela não quer mostrar. O tremor sutil em seus dedos quando pensa que não estou olhando. O jeito como sua respiração falha por uma fração de segundo sempre que nossas palavras se cruzam mais afiadas.

Se Você ainda tem Humanidade, Devolva Minha LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora