Ferrário •ls ABO

Ⅰ •Capítulo 7

O Sol

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O vento gelado me atingia com rigidez. O início do outono trouxe consigo uma temperatura mais amena e ventos fortes, despenteando meus cabelos e trazendo uma coloração avermelhada às bochechas.

Doris estava sentada no meu colo, recebendo carinho em seus cabelos que eram penteados por meus dedos, a pequena garota estava entediada e correu até mim ao me encontrar na árvore em que sempre costumávamos ficar. A ruiva brincava com seus dedos, parecendo fazer contas de cabeça, estava muito taciturna para sua personalidade ansiosa e falante.

- Hazz, eu aprendi ontem a somar e diminuir números. -Ela comentou, contente.

- Que garota esperta! -Toquei sua bochecha, sorrindo- Tenho certeza que aprendeu rapidinho, você é muito inteligente.

- Eu tive problemas para diminuir, mas o Lou ficou do meu lado a noite toda até eu aprender tudinho. -Ela confessou, com as bochechas coradas- Ernest riu de mim por eu não entender.

- Não fique chateada pelas provocações do seu irmão, todos têm seu próprio tempo para aprender alguma coisa. -Sorri de forma compreensiva- O que importa é sua vontade se aprender e que superou suas dificuldades.

- Mas Ernest e eu somos gêmeos, deveríamos aprender da mesma maneira, não?!

- Não, minha linda. Podem ter nascido no mesmo dia, mas são pessoas diferentes, com tempos diferentes.

- Então foi por isso que ele aprendeu analfabeto depois de mim?

- Isso mesmo.

- Eu não sou mais burra por não entender matemática como entendo português?

- Cada um tem uma matéria que entende melhor, isso é natural. Você é inteligente nas duas matérias, mas em alguma pode ter mais dificuldade que na outra.

A garota entreabriu a boca, refletindo o que lhe foi dito. Ela apenas sorriu, tateando a árvore espera, procurando algo atrás da grama alta e um pouco úmida.

- Meu irmão falou que essa árvore é a árvore dos desejos. -Ela divagou- Uma vez eu pedi para a árvore um papai amável e eu percebi que o Lou é meu irmão papai. Ela é mágica, Hazz.

A garotinha sussurava para mim, contando o segredo da árvore como se um simples tronco de madeira transformasse palha em ouro. Fingi estar encantando, e realmente estava. Para mim, sua crença pueril era a coisa mais encantadora do universo. Desejava estuda-la, entendendo como um dia perdi essa inocência.

- Essa árvore é mágica mesmo. -Conclui- Será que ela funcionaria para mim também?

- Ela gosta só de garotinhas encantadoras, Hazz. -A garotinha riu- Meu irmão escreveu algo nessa árvore e depois se irritou, falando que não poderia acreditar em contos de fadas. Quando fiquei com medo por dias dessa árvore, ele me contou que descobriu que na verdade a árvore funcionava apenas para garotinhas como eu.

- Isso significa que você é muito especial. -Sorrio ao perceber que meu comentário lhe agradou.

- Eu sou?

- Claro. Confia em mim, certo?

- Você é meu melhor amigo, Hazz. Sempre vou confiar em você.

A abraço, sorrindo. Era bom ter Doris por perto, como uma calmaria em meio ao temporal. Seus traços doces e delicados eram tão parecidos aos do irmão, os olhos azuis brilhantes tão familiares que exalavam inocência e esperança.