Ⅰ • Capítulo 8

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Volteiii, desculpa a demora.
Esse cap é no pov do Louis e terá bastante flashback, quando isso acontecer estará em itálico e a primeira letra estará em negrito para ficar fácil a identificação.


Retroceder

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O corredor permanece o mesmo. A mesma poeira no rodapé descascado, o mesmo som da borracha dos sapatos contra o piso, o mesmo ar sombrio. Questiono se fora apenas eu que mudei. Aquele quarto ainda teria os vestígios de minha fúria? Quiçá minha inocência ainda esteja jogada ao chão, perdida e assustada enquanto permanece amarrada contra a cadeira de madeira velha e bamba.

Minhas mãos tremem com as lembranças. Não há coragem para entrar naquele quarto, mesmo que algo instigue-me à entrar. Olho de relance através da porta. Solitário e perdido, me recordo da maneira em que prometi não olhar para trás assim que de lá sai.

O lenço em tom vermelho vivo ainda está jogado no chão. Como um floreio, suas torções tornam a imagem bonita aos olhos. Seu significado já não é mais o mesmo, uma parte jamais esquecida, mas também jamais totalmente completa na memória. A cadeira jogada ao chão, uma de suas pernas quebradas se encontram no mesmo lugar que as joguei, com uma tonalidade rubra em seu topo.

Aquele quarto, seu odor causado pelo bolor, aquelas lembranças. Tudo se torna apenas uma sensação virulenta que embrulha meu estômago e enrigesse minhas juntas.

Meus punhos fechados fazem as unhas arranhanrem a pele. Força esta que não é medida e a cada segundo que se passa, está milímetros mais próxima de perfurar a carne. Minha garganta fecha.

Caminho pelo corredor. Os passos calculados são diferentes dos amedrontados e rápidos. Em minha memória, apenas o som das batidas aceleradas de meu coração e o som de meus passos rápidos é protagonista.

Seu cheiro pode ser sentido da porta, como se minhas memórias o eternizassem aqui. Esse olor. Confronto esse jamais seria tão escandaloso. Constraste entre o jovem e o velho, passado e futuro. Vejo-o em minhas lembranças, subsistindo o rosto falecido com tanta maestria. Seu cheiro, identifico. Agora posso sentir. O mesmo aroma, o mesmo toque suave e doce que corrói a alma.

Imagino os cachos caindo sobre seu rosto ao se aproximar da fechadura. Como um demônio, destruidor e manipulador de memórias, ali está ele. Mudando o liso para cacheado, o rosto lívido e homogêneo para uma pintinha tão graciosa e sutil como as constelações que residem no céu, a voz fina e calma se tornando grave e ansiosa. Os cachos chocolate parecem tão mais reais e apetitosos que os fios de caramelo que toquei. Tão sem vida como seu corpo agora encontram minhas memórias.

Um semestre se passa. O Ferrário está em alerta, minhas pernas doem pelo esforço. Me escondi, crendo em qualquer divindade apenas para que ouça minhas preces e deixe meus olhos verdes e segurança. Não tê-lo ao meu lado, para protegê-lo com minhas mãos é como um veneno que corrói minha alma. Sei que que é arriscado, mas a necessidade de apenas ouvir sua voz novamente me faz correr para o andar de cima.

Caminho pelo corredor. Já é seguro. Meu peito bate, buscando os batimentos do seu coração. Encontro uma movimentação estranha, meu tio está no fim do corredor. Vê-lo por lá me traz um arrepio na espinha. Meus instintos gritam para que corra o mais rápido que posso, mas sinto aquele cheiro.

Um corpo está jogado sobre o chão e uma mulher chora copiosamente. As faces sádicas de meu tio sorriem de forma diabólica, corroendo a imagem como se mostrasse o perigo eminente que exala de si.

Ferrário •ls ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora