CAPÍTULO DOIS

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O quarto dele é bagunçado, cheio de mapas e posters. E roupas jogadas no chão. Fico parada na porta. Ele tira a máscara e vejo o menino que vi apenas pelo reflexo do espelho em meras lembranças do que absorvi dele.
— Meus poderes — ele diz andando em círculos olhando para as mãos. — o que aconteceu?
— Logo volta ao normal.
Ele se senta na beirada da cama e coloca as mãos no rosto. Ele ajeita a postura e então olha pra mim.
— Quem é você?
— Pode parecer estranho, mas as vezes nem eu mesma sei. Preciso da sua ajuda, quero encontrar alguém.
— Quem você quer encontrar? — ele pergunta.
Respiro fundo. Cada minuto e milésimo de segundo da vida de Peter Parker está em mim agora. E é difícil explicar, mas pela primeira vez eu gostaria de viver a vida de alguém que eu absorvi poderes.
— Minha mãe, ela conheceu um homem e então ela engravidou de mim. Eu preciso conhecer ele. Saber onde ele está. Tentar refazer os passos da minha mãe até encontrar meu pai.
— Depois do que fez eu duvido que precise da ajuda de alguém.
— Ninguém aqui me conhece, mas você as pessoas dão crédito ao que você faz. Eu preciso arrumar um jeito de viver uma vida normal. E saber onde meu pai está é um grande começo — digo me sentando ao lado dele na cama.
— O que você é? Como fez isso comigo? — ele pergunta pausadamente parecendo assustado.
— Logo os seus poderes vão voltar. É como se eu tivesse feito um xerox de você, e colocado em um mural. O mural sou eu — digo.
— Quer realmente ter uma vida normal. Comece explicando tudo. Desde do início.

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Não há nada que eu não saiba sobre o Pete agora. O que é estranho, talvez outras pessoas achariam estranho. O problema é que ele não sabe tudo sobre mim. Porque nem eu mesma sei.
Andamos pelos corredores da escola procuro o meu armário.
— Onde é a sua primeira aula Pete ?
— Não me chama assim.
— Tá legal que tal Peter The Great.
— Continua estranho— diz ele fazendo uma careta. — Eu tenho aula de inglês agora.
— Eu tenho aula de biologia.
— Não se esqueça daquilo que eu falei sobre os primeiros dias de aula. E não absorva as características de ninguém. Vai por mim você não vai querer ficar com a voz de ninguém daqui.
Desde da noite em que absorvi os poderes de Peter andamos juntos por toda a cidade. Arrumamos os documentos necessários, ele insistiu em me matricular em uma escola. Segundo a lei eu já sou emancipada, então não preciso de um responsável pra quase nada. No final das contas eu sou apenas uma menina de quinze anos, no primeiro ano do ensino médio. Reviramos a internet toda atrás do meu pai. Nada. Minha mãe não usava o nome dela, tenho quase certeza disso. Sem fotos dela não consigo nem perguntar para alguém se já a viu.
— Vou me sair melhor no meu primeiro dia de aula do que você — digo.
— Não foi tão ruim assim!
Ned caminha em nossa direção e para para cumprimentar Peter. Ned olha pra mim curioso.
— Oi Ned — digo estendendo a mão.
— Ah Ned essa é a Persephone. Eu falei de você pra ela. Ela deve ter reconhecido — diz ele tentando disfarçar.
— É um prazer te conhecer, pode me chamar de Persy.
— Legal... Eu tenho que ir pra aula de biologia.
—  Eu também tenho aula de biologia agora. Podemos ir juntos. — digo empolgada. Não entendo como Peter não conseguiu se enturmar no primeiro dia de aula dele. Humanos são simples.
Entro na sala de aula e me sento em uma das carteiras. Ned atravessa a sala e se senta longe de mim. Me pergunto o motivo dele fazer isso, mas logo sou tirada dos meus pensamentos e começo a prestar atenção na professora explicando o conteúdo. Uma das vantagens de absorção de memória são os conhecimentos. Ainda mais os de Peter, ele é uma enciclopédia ambulante.
Respondo as perguntas que a professora faz durante a aula e ao terminar me dirijo a porta. Um garoto de cabelo escuro está parado na frente da porta. Sei que seu nome é Flash. Não tenho boas lembranças dele.
— Então você é a amiguinha do Parker. E eu achando que ele não chegava perto de garotas.
Atravesso a porta esbarrando no ombro dele. Ouço ele gritando da porta. Caminho até o refeitório procurando por Peter, nos lugares onde ele costuma almoçar.
  Encontro ele e me sento ao seu lado.
— Você ignorou o Flash.
— Ele é bem chatinho não acha — digo.
— Ele vai pegar no meu pé até eu ter sessenta anos.
— Não vai nada, é só você ignorar e um dia ele cansa.
Peter pega o celular e olha as notícias. Percebo que é um acidente de carro.
Ned chega e senta na mesa com a gente. Ele me encara incomodado com a minha presença. Depois olha pra Peter.
— E aí planos pra depois da aula. Tipo montar lego.
— Adoro montar lego — digo o que não é exatamente verdade. Eu só gosto porque Peter gosta disso. Em poucos dias essa fissura pela vida dele vai passar. Eu acho. E pra ser sincera não quero que passe.
— Não posso tenho que fazer patrulha — diz Peter.
Ned me encara. E depois olha pra Peter. Peter olha pra mim despreocupado e diz:
— Ela sabe.
Ned parece um pouco irritado. Ele olha furioso pra mim.
— Tá legal, que que tá acontecendo aqui. Eu sou seu melhor amigo e ela que eu nunca ouvi falar. Aparece e já sabe tudo sobre sua vida. Vocês são quase iguais.
— Ned! Ela faz parte da equipe — Peter diz.
— Equipe?
— Sim. Eu ela e você o nerd da cadeira— diz Peter.
— Nerd da cadeira — diz Ned sorrindo. — tá legal eu desculpo, essa aparição surpreendente da Persy.
— Esse nome não vai colar — diz Peter.
— É legal — digo. — Lembra Percy Jackson, eu adoro aquele livro  — digo. Lembro de ter lido com minha mãe. É uma das poucas lembranças, minhas que eu tenho.
— Mas não nome de super heróina — sussurra ele.
— Tá legal, hoje primeira patrulha.
Me empolgo um pouco, nunca pensei em usar os meus poderes dessa forma mas não é má ideia eu ser útil.
— Antes de tudo — diz Ned. — Podem me explicar como se conheceram.

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