CAPÍTULO SEIS

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Soqueio o saco de pancadas com força. Sinto o ar frio mesmo aqui dentro. Me lembro da cela. Me lembro da comida jogada no chão. Me lembro do chão de concreto. Me lembro de cada tortura. Me lembro de começar a sentir meu sangue ferver, depois de um experimento. Passo a mão no rosto. Estou pingando suor.
— Você foi bem — ouço uma voz falar.
Olho ao redor e a vejo.  Ela tem os cabelos ruivos, curtos. Ela começa a caminhar em minha direção.
— Natasha — ela diz parando em minha frente.
— Persephone.
— Uau. É um nome complicado.
— Todo mundo diz isso — falo.
Ela segura o saco de pancadas com as duas mãos.
— Pode tentar de novo. Talvez um pouco mais de precisão — ela fala. — Você tem uma coordenação motora meio ruim.
Sorrio com o comentário. É verdade, as vezes me sinto desengonçada. Olho pro saco de pancada. Alterno os socos. Direita, esquerda. Bato no saco de pancadas com mais rapidez. Um dois três. Paro de bater. Minhas mãos doem.
— Se continuar assim por uns dias, vai melhorar muito — Natasha diz.
— Com certeza ela vai — um homem diz.
Se é que poderia falar isso. Ele não é humano, com toda certeza. Sua pele é de uma cor rubi. Uma pedra está no meio da sua testa. A joia da mente. Ou talvez seja ela. Eu só ouvi falar. Nunca a vi.
— Oi Visão — diz Nath.
— Ouvi falar sobre uma visitante.
— Eu não diria visitante, se ela continuar com os socos assim vai ficar um bom tempo conosco — Nath fala.
Pouso meus olhos sobre a pedra. É linda. O que aconteceria se eu tocasse nela ?
— Persephone ? — ouço a voz de Nath me chamar.
— Desculpa — começo — você perguntou algo? Eu não ouvi. 
— Parece distraída. Eu perguntei se quer conhecer o pessoal. A não ser que o Stark já tenha te apresentado. Mas eu duvido que ele tenha feito isso.
— Ele não fez — falo com um sorriso.
Tento tirar os olhos da pedra. Quero tanto saber como seria tocar nela. Mas não agora. Pode ser arriscado.
— Você não é humano — digo olhando para Visão.
— Bom não sou, é uma história um pouco complicada.
— Eu quero conhecer o pessoal — digo desviando o olhar dele e olhando pra Natasha.
— Ótimo — Visão diz.

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Andamos pelos corredores depois de eu conhecer James. Pela forma que ele fala parece ser muito amigo de Stark. Cumprimento uma série de pessoas que não consigo decorar o nome.
— O que você sabia sobre a gente antes de vir pra cá? — Nath pergunta.
— Não muita coisa.
Só ouvi falar de alguns heróis com roupas estranhas, e Tony. Consegui encontrar muitas coisas sobre ele. Poucas sobre o resto dos Vingadores. Ou talvez eu não tenha prestado atenção nos demais.
— Bom nós éramos em mais. Uma vez — fala Nath.
— Como assim ?
— Os Vingadores se separaram — explica Visão.
— Visão, por favor — começa Nath.
Os dois se encaram por alguns segundos.
— Então como foi que o Tony encontrou você? — pergunta Nath desviando de assunto.
— Por causa do Peter — digo aceitando mudar de assunto. Apesar da minha curiosidade sobre uma equipe se separar.
— Peter ?
— O homem aranha — falo.
— Bom se você está aqui é por um motivo. E eu já sei qual é — ela diz.
— Acho que nesse ritmo todos vão acabar sabendo — sussurro.
— Provavelmente — diz Visão.
Dobramos um corredor. Visão se despede de nós. Nath me acompanha até meu quarto sem falar nada. Paro em frente a porta do quarto assim que a vejo.
— Persephone — ela chama.
— Tudo bem ?
— Eu só...
Ela olha pros pés. Levanta a cabeça e coloca o cabelo atrás da orelha.
— Tony está pensando que você pode mudar as memórias das pessoas.
— Bom eu não posso.
Na verdade eu acho que não posso. Afinal até onde esses poderes vão?
— Bom, treinamento pode ajudar — ela diz.
Olho pra ela. Sei quando alguém esconde segredos. E sei quando alguém tem memórias demais. Algumas pessoas vivem vidas pacatas, e acabam não tendo memórias marcantes.
— Se quiser eu posso...
— Não, você iria ver tudo — ela diz.
— Eu não seria capaz de contar pra alguém — falo.
— Esquece — ela fala. — é melhor você tomar um banho.
Ela aponta pras minhas roupas. Estou encharcada de suor.
— É — digo.
— Vejo você mais tarde.
Ela anda pelo corredor até sumir do meu campo de visão.
Entro no quarto separo roupas e deixo elas na cama. Entro no banheiro e abro o chuveiro, deixo a água molhar meu corpo agora nu. A água gelada me faz pensar na jóia da mente. Era tão linda. Tão linda. Eu quero ela. Desligo o chuveiro e pego a toalha. Não posso ter a jóia pra mim. Durante muito tempo achei que não existisse de fato, ou então pensei que não funcionasse, mas pelo visto ela funciona, e parece deixar alguém vivo. Me lembro de todas as histórias que ouvi minha avó contar enquanto me prendia em uma cadeira elétrica. E ligava ela, ela acreditava que eu poderia absorver o poder de coisas, por isso fazia isso. E no final eu sei que ela iria arrumar uma forma de me transformar em um soldadinho dela, que obedecia ordens.
Não posso absorver o poder de coisas. Só daquilo que está vivo. Mas e se eu pudesse? Visto minha roupa e sento na cama. Olho para as minhas mãos. Talvez eu consiga. Hoje é sábado, só tenho aula na segunda o que significa que não vou ver Peter até lá. Mas eu preciso da ajuda dele. Pego o celular na escrivaninha.
— Alô — ouço a voz dele no outro lado da linha.
— Peter, pode guardar um segredo?

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