CAPÍTULO SETE

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Ando com passos calmos pela casa. Seguro os sapatos em uma das mãos. Ouço uma porta abrir. Como eu vim parar no teto? Respiro fundo. Uma mulher passa pelo corredor. Ela não nota minha presença. Uma mão e depois o pé. Vou assim grudada ao teto até o quarto do Pete. A porta está aberta. Estou com os pés no chão de novo. É mais confortável assim. Peter está com o fone de ouvido deitado na cama. Vou até a cabeceira e olho pra ele. Os olhos dele estão fechados. Tiro o fone de ouvido dele. Ele dá um grito. Um pouco escandaloso demais.
- Sou eu - sussurro.
Ouço a porta ranger.
- Peter está tudo bem? - diz a mulher.
- Sim tia May - responde Peter. - Foi só uma aranha.
- Tá legal. Boa noite.
Ela sai do quarto e fecha a porta.
- Phoebe onde você está ?
Olho pra minhas mãos. Elas não estão mais aqui. Quero vê-las de novo. Peter levanta da cama e vem na minha direção. Olho pra mim de novo. Estou aqui.
- O que foi isso ? - minhas mãos começam a tremer.
- Não sabia que conseguia fazer isso.
- É esse o problema eu não consigo.
- Mas você fez.
- Mas eu não posso fazer isso. Não posso ficar invisível quando quero.
Sento na beirada da cama. Afundo o rosto nas mãos.
- Eu preciso de ajuda - digo agora olhando pra ele.
- Pode falar - ele se senta ao meu lado.
Respiro fundo e tento me concentrar.
- Tony ele...
Me sinto impressionada pela facilidade que vejo as coisas ao meu redor mesmo na escuridão que o quarto se encontra.
- Tony acha que consigo alterar a memória das pessoas - explico.
- Até onde eu sei você não consegue - diz ele. - Apesar de eu acreditei que você consegue qualquer coisa.
Sorrio com as palavras dele.
- Tenho medo de poder fazer isso. E não conseguir controlar tudo depois.
Levanto da cama.
- Não quero cair em experiências de novo. Não sou um rato de laboratório - digo.
- Tony não vai fazer isso.
- Eu sei que não vai. Eu vi em todas as suas memorias. Apesar de eu odia-lo, sei que ele é minimamente confiável - faço uma careta ao falar.
Peter se levanta e me segura pelos braços. Ele olha pros meus olhos e diz:
- Está segura aqui. Precisa lembrar disso.
- Eu não estou segura. Nunca vou estar - falo.
Me afasto dele e sento na cadeira perto da escrivaninha. Me sinto agitada.
- Como foi que eu consegui ficar invisível?
- Se você não consegue responder essas perguntas. Eu também não posso.
Ele senta em cima da mesa. Reparo nas meias com desenhos de estrelas e constelações que ele está usando.
- Phoebe - ele começa - não lembra de ter absorvido esse poder ?
- Tenho certeza que não absorvi.
Ele me olha com preocupação nos olhos.
- Talvez seus poderes não se resumam a absorver características das outras pessoas.
- O que quer dizer com isso ? - pergunto.
- Talvez você tenha poderes próprios.
- Não tenho - digo.
Olho para mim de novo. Eu deveria desaparecer de novo. Eu deveria deixar de ser vista. Talvez assim eu esteja segura. Afasto a ideia de vergonha boba.
- Ótimo você sumiu de novo - Peter diz.
- Eu não sumi.
Peter desce da mesa e me encara.
- Agora você está aí de novo - ele fala.
- Quando a minha tia entrou aqui. O que você pensou ?
- Que precisava sumir. Eu não iria saber explicar porque estou aqui.
- Eu acho que já entendi - ele diz.
- Entendeu o que?
- Como isso funciona - ele diz apontando pra minha cabeça.
Ele pega uma folha de papel da escrivaninha e amassa ela.
- Eu vou jogar isso em você. Precisa pensar com toda vontade possível que quer que isso dê meia volta e me acerte. Ao invés de acertar você.
- Entendi.
Peter joga a bolinha. Não sei explicar mas a bolinha de papel para no ar. E Peter também parece mais lento. Me levanto e consigo andar normalmente. Pego a bolinha e a empurro em direção a Peter. A bolinha acerta o rosto dele. Tudo volta a mesma velocidade.
- Eu não esperava exatamente isso. Mas você conseguiu.
- É como se eu me auto defendesse - digo.
Peter olha pra mim e sorri. Conheço esse olhar. É o mesmo olhar depois de ele conseguir fazer um cálculo complicado de física.
- Peter...
- Confia em mim ?
Olho para meus pés. Bufo e olho pra ele de novo.
- Eu confio - me surpreendo com aquilo que digo. Porque não há nem um teor de mentira nisso.
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Estamos no alto de um prédio. Dou um passo ficando mais perto da beirada.
- Você pode pular. E então vai conseguir se salvar. Mas você não precisa se salvar, porque eu vou estar aqui.
- Tá legal.
- Se você puder fazer só aquilo que precisa. Então você não se salva. Porque eu vou estar aqui - ele explica. - mas se for tudo aquilo que você quer. Então você não vai precisar da minha ajuda.
- Eu entendi - digo.
Olho para baixo. Quase me desequilíbrio. Eu quero voar. Sentir o vento nas bochechas. Sentir que sou invencível.
Dou um passo pra frente e simples assim. Me jogo. A pressão do ar parece querer me esmagar. De repente sinto que posso ir pra onde quiser. Como se eu mandasse no vento. Sinto algo pesado em minhas costas. Olho e vejo as penas pretas. Asas. Peter está no alto do prédio. Dou um impulso e consigo pousar no topo do prédio de um jeito desengonçado. Não sinto mais o peso nas costas. Não tenho mais asas. Peter me envolve em seus braços. Sorrio e pouso a cabeça em seu ombro.
- Tem noção do que pode fazer com isso ?
Penso na pedra da mente. Penso na mudança de memórias. Eu posso ter tudo o que quero, tudo. Sorrio satisfeita.
Eu posso e vou ter tudo o que quero.

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