4. sweet night

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— Não acredito que esse momento chegou! — extasiado, Seokjin dramatizou, espalmando seu peito com a mão direita.

Com as sobrancelhas franzidas e sem a menor ideia do que aquela criatura queria dizer, questionei: — Que momento, homem?

Ele largou o que estava fazendo, iniciando toda uma cerimônia para revelar: — O momento em que você me mandou caprichar nos mochis pra impressionar seu futuro namorado! — exclamou, batendo palmas.

Arregalei meus olhos — que já eram grandes — e só faltaram saltar para fora do meu rosto.

— O momento em que você enlouqueceu, só se for! — retruquei, mas ele continuava rindo à toa. — Queria saber que raios te levou a pensar nisso.

— Ora... você não é do tipo que faz amizade, Jungkook. Convenhamos. — disse ele, como se fosse óbvio.

Eu tinha que concordar, mas...

— Se eu não sei nem fazer amizade, imagina o resto? — contra-argumentei. — Enfim, hyung, pode tirar o cavalinho da chuva! Jimin é só um novo amigo que, por um milagre de Deus, aparenta suportar a minha presença. — esclareci, sentindo minhas bochechas esfriarem um pouco; outrora, elas esquentaram significativamente.

— Pi, pi, pi, pó, pó, pó! Deixa eu sonhar, vai! Morro de vontade de ter um genro! — lamentou-se ao passo em que começava a agilizar o mise en place para mais uma leva de mochis.

Além de ser meu padrinho — em outras palavras, meu veterano — na faculdade, Seokjin era o confeiteiro da cafeteria em que trabalhávamos. Havia sido ele a me arranjar o emprego de atendente, por sinal. O Kim levava a brincadeira de ter me apadrinhado em minha época de calouro muito a sério, visto que passara a me tratar, praticamente, como seu filho. Ele teimava que me adotara para valer e, desde então, eu soube que poderia contar consigo.

Quase não nos víamos no curso, a considerar que Jin estava prestes a se formar e, portanto, nossas agendas diferiam bastante. Mesmo assim, encontrávamos-nos semanalmente durante o expediente e, quando nossos horários coincidiam e a clientela não dava as caras, tagarelávamos enquanto ele cozinhava, o que ele fazia com muita maestria, diga-se de passagem.

Pouco antes, eu havia dito a ele, sem pretensões, para caprichar nas sobremesas que prepararia, já que eu receberia um amigo na loja ao fim do meu horário de trabalho. E rendeu nisso: em Jin hyung logo assumindo que eu via Jimin com outros olhos. Vê se pode?

— Então tenha um filho de verdade. — devolvi. — Você já tá na idade, mesmo.

— Quando foi que você se tornou tão desrespeitoso com os mais velhos, Jeon Jungkook? — repreendeu, com aquele mesmo humor relaxado de sempre.

Seokjin era a pessoa com o melhor senso de humor que eu conhecia. Ele era verdadeiramente sossegado, por mais maduro que fosse. Sendo sincero, eu supunha que era aí que morava o segredo da sua maturidade: em levar as coisas um pouco menos a sério.

— Desde que você me ensinou a ter resposta na ponta da língua pra tudo, pai. — caçoei de si, que grunhiu, como se aceitasse sua própria derrota.

— Eu criei um monstro! — escandalizou. — Um lindo monstrinho que nem pra me dar um genro serve!

Apelei: — E você, vai me arranjar uma madrasta ou um padrasto quando?

Deixei-o sem palavras. Ele me fitou sem reação alguma esboçada no rosto para, no instante seguinte, choramingar: — Agora você pegou pesado, pirralho!

Um sorrisinho vitorioso dançou sobre meus lábios.

— Aprendi com o melhor! — ofereci a ele uma piscadela, prestes a virar as costas e retornar ao salão.

we can't be friends • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora