Will sabia dos gostos refinados do marido. Na verdade, Hannibal Lecter era a personificação da palavra refinado, elegância, bons modos. Clássico. Era assim que Will chamava o marido internamente, de clássico. Lecter sabia muito sobre artes, ciências e políticas. Entre as artes, o ato de cozinhar era um dos seus preferidos. A cozinha era o seu estúdio, seu atelier. Seu segundo santuário particular – sendo que o primeiro, sempre seria o belo corpo de Will –, na qual ele utilizava de várias ferramentas para produzir incríveis e deliciosos pratos, que agradam todos os tipos de paladar. Embora a procedência da carne fosse bastante questionável.
E por exatamente considerar a comida como uma arte, uma matéria sagrada, que tem que ser tratada com o devido respeito, que Hannibal Lecter odiava comidas pré-prontas. Principalmente as redes de fest food. Desde o início do relacionamento dos dois, Hannibal fez questão de joga todas as comidas industrializadas da casa de Will em uma caixa, e enviar para um abrigo de desabrigados.
– Hannibal, está louco? O que eu vou comer?
– Comida, é claro. E não estes venenos que vocês, americanos, dizem ser comida.
– Hannibal, eu não tenho tempo para cozinhar. Meu trabalho exige muito tempo e disposição.
– Ótimo. Então coma comigo. Tenho tempo e disposição de sobra para fazer uma comida, mais do que decente para você, meu caro Will.
Não era preciso dizer que o lituano era um tremendo de um manipulador sem vergonha. Se queria que Will morasse com ele, era só pedir, e não deixar o pobre coitado sem comida – apenas os seus cães foram poupados das análises minuciosas de alimentos do doutor Hannibal Lecter. Desde então, Will estava acostumado a comer lanches que o seu marido lhe fazia todos os dias para comer no trabalho.
– Você tirou a sorte grande Will. Lhe invejo de poder comer uma boa comida, e ainda ter um maridão como aquele, todos os dias.
Não foi preciso dizer que Will Grahan ficou duas semanas sem falar direito com Beverly, além de a olhar com um olhar que dava medo. Mas, a questão era. Estava longe de casa, no meio de um caso complicado e morto de fome, sendo que a única fonte de alimento próxima era um McDonald's. Um lugar na qual Will nunca mais pisou os pés, e que Hannibal Lecter odiava com todas as forças.
– Meu caro Will, a comida daquele lugar tem mais gosto de carne humana do que os meus deliciosos pratos.
Nisso Will tinha que concordar, o hamburger – que Grahan não fez questão de lembrar o nome – era menor do que a propaganda, e o gosto se assemelhava a papelão. Mas era o que tinha, e estava com fome. Muita fome. Will e algumas pessoas da equipe suspiravam ao comer o hamburger com vontade, as conversas paralelas se encerraram. O que causou certa estranheza em Will, que logo entendeu o motivo do silencio.
Seu marido estava do outro lado da janela, que ficava do lado da mesa onde a equipe de Jack estava, mirando Will com um olhar assustador. Um olhar que colocaria qualquer homem na cadeia e fazia as crianças chorarem – e era o que estava acontecendo, já que havia algumas crianças que se assustaram com a cara de Hannibal. De dentro do estabelecimento, Will, de boca aberta e com um pouco de comida – algo que Hannibal desaprovava –, conseguia ouvir perfeitamente a fala do marido. Que ainda estava o encarando e com uma lancheira nos braços.
– Isto é uma ofensa Will.
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Ones Shots - Hannibal
Hayran KurguAntologias do nosso casal de assassinos canibais preferidos que podem ou não ter ligações.