Capítulo 9: Expurgação

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Tanto Bill como Bell dormiam profundamente no seu quarto quando ambos foram sacudidos da cama por aquilo que lhes parecia ser um terramoto. Á primeira coisa que fizeram antes de se vestirem foi abrir os baús e tirar de lá de dentro as suas sacolas de emergência caso algum dia acontecesse algo que lhes desse a oportunidade para escapar daquela maldita cidade, esse dia era hoje. Se tivesse de facto ocorrido um terremoto eles podiam manter a esperança de que a muralha estivesse danificada o suficiente para que eles conseguissem escapar, uma vez que os guardas ainda estariam ocupados a tentar lidar com a situação.

Ficaram prontos em questão de segundos, não tinham muita coisa para carregar e roupa era o mesmo não havia assim tantas opções por onde pudessem escolher.

O primeiro a sair foi Bill que ainda teve de esperar pelo irmão que estava a ter dificuldade para calçar as botas. Bill tinha um plano bem concebido para qualquer eventualidade que lhes pudesse servir de meio para a sua fuga, no entanto ele não estava preparado para o que estava do lado de fora de casa.

A cidade estava tomada pelas chamas e o céu estava completamente coberto com nuvens de fumo, inúmeras construções desabavam a cada segundo, servindo de alimento às chamas, e no meio daquele imenso caos estava algo que o fez estremecer até aos ossos.

Uma enorme besta com um sorriso macabro. A sua pele parecia ser feita de cristal negro o que lhe dava uma cor bastante escura, tinha dois enormes chifres, dois olhos perfeitamente redondos e vermelhos como chamas. De toda a vez que abria a enorme mandíbula era possível ver os dentes completamente brancos da criatura, os seus braços negros carregavam uma quantidade enorme de fendas de onde brotavam chamas de um vermelho-vivo aterrador. As chamas ardiam tão ferozmente e com tal intensidade ao ponto de Bill conseguir sentir o calor como se estivesse mesmo em frente a uma enorme fogueira.

-Mas que raio? - Perguntou Bill aterrorizado.

-Estou pronto... - Dizia Bell quando os seus olhos encararam a criatura e se esqueceu totalmente do que ia dizer.

-Vamos Bell a zona este da cidade ainda não está a arder vamos conseguir fugir por ali - Bill amarrou na mão de Bell e começou a correr, mas a mão de Bell escapou-lhe e quando este olhou para trás Bill viu o olhar que só viu uma vez na vida o irmão a fazer, um olhar que parecia de outra pessoa, um olhar de desilusão que não conseguia encarar de maneira alguma, desviou o olhar de Bell.

-Temos uma oportunidade para fugir daqui, temos de aproveitá-la - Dizia-lhe Bill preocupado com o que o irmão estivesse a pensar fazer e com o medo a tomar conta do seu corpo.

-E deixar as pessoas morrer pelas chamas daquela coisa? - Se antes Bill se sentia incomodado com o calor que as chamas libertavam, então agora sentia-se completamente perturbado pela maneira como as palavras do irmão lhe atingiam a alma.

-Não lhes devemos nada Bell, temos de sair daqui enquanto pudemos - Gritava Bill desesperado.

-Realmente não devemos nada a ninguém daqui mas isso justifica deixa-las morrer deste jeito.

-Não temos hipóteses contra aquela coisa e tu sabe-lo, lutar contra uma Alenciana é uma coisa mas lutar contra isto é totalmente loucura - A medida que Bill gritava a sua voz ficava cada vez mais estridente, ao ponto de começar a falhar.

-Eu sei, mas se pelo menos aquela coisa estiver distraída comigo eu poderei dar algum tempo para os cidadãos escaparem.

-Estás a sacrificar a vida por pessoas que não pensariam duas vezes em atirar-te aos lobos para se safar de boa, pensa um bocado e sai desse teu mundo de fantasia, isto é a vida real e não uma das histórias que os pais contam para os filhos antes de adormecerem - Bill tossia, tinha a garganta seca por causa do fumo, e a voz começava a soar-lhe rouca.

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