Depois de várias horas dentro da enfermaria, Doreán não aguentou mais e entrou na sala, para seu espanto Bill estava com o braço enfaixado e Bell deitado em outra cama com Elliot a cobri-lo com um cobertor, idêntico ao de Bill.
-Desta não estava à espera - Comentou surpreso encostado à ombreira da porta.
Elliot deu um salto de susto e gaguejou ao tentar encontrar palavras que justificassem o que estava a fazer, mas não pensou em nada que fosse suficientemente convincente para iludir Doreán.
-Vou verificar o perímetro, ele conseguiu usar aquilo que eu recolhi? - Informou antes de passar por ele e se dirigir à saída.
-Usou tudo, não sobrou nada, não era melhor tomares banho antes de saíres?
-Primeiro as obrigações...a verdade e o sangue do farejador?
-Foi estranho.....quando eu cheguei ele estava tão focado no Bill que quem me recebeu foram as plantas, elas pegaram no sangue e colocaram-no em uns pequenos recipientes de vidro lá no canto, não sei ao certo a fazer o que?
-Mas sempre lhe deram uso ou foste atras do sangue para nada? - perguntou Doreán intrigado, ao mesmo tempo que cheirava o seu sovaco pensando se não seria melhor tomar mesmo um banho.
-Bem depois que o Bell suturou todas as feridas e aplicou as pomadas, ele chegou a injetar alguma coisa no Bill com aquela seringa - disse apontando para uma seringa em cima da mesa.
Doreán deu uma vista d'olhos nos dois irmãos antes de fechar a porta e deu com Trei a olhar para a porta nervoso.
-Eles bem?
-Não te preocupes Trei o medo é algo natural eles vão perceber - Tranquilizou-o colocando a mão no ombro de Trei - que tal um jogo de xadrez quando eu voltar.
-Ir ao sitio?
-...- Doreán colocou uma expressão séria no rosto – Sim vou, queres entregar-lhe as tuas palavras, não é?
Trei pareceu animar-se um pouco e ainda com os olhos focados na porta da enfermaria seguiu Doreán. Por algum motivo Doreán sentia-se desconfortável ao pé da enfermaria, como se alguma coisa estivesse errada.
Enquanto Doreán e Trei se afastavam Bill contorcia-se na cama. Pesadelo era pouco para o que estava a ver. Na sua mente encontrava-se novamente de frente para a sua cidade, ainda em chamas, ainda lotada de criaturas horrorosas e coberta de corpos de conhecidos e desconhecidos.
Não se conseguia mexer nem desviar os olhos enquanto via pessoas a ser devoradas, queimadas ou capturadas por aquela abominação que com o seu sorriso macabro e olhos flamejantes encarava Bill. Passando pelo meio das casas e pelo fogo foi-se aproximando lentamente de Bill com os braços mortos e a balançar de um lado para o outro esmagando qualquer infeliz que estivesse no seu caminho.
Enorme como uma montanha, uma montanha a arder e com cheiro de morte. Bill já não conseguia distinguir os contornos da cabeça demoníaca do monstro apenas distinguia os seus olhos que brilhavam ameaçadoramente. Queria correr, queria lançar uma magia, queria fazer qualquer coisa para se afastar daquele tormento. Bill ainda viu o brilho dos dentes da criatura quando esta abriu a boca e algo começou a cair da mesma. O primeiro desfez-se ao tocar no chão e os seguintes também, mas à medida que caíam mais pedaços se espalharam pelo chão, amortecendo a queda dos outros.
Bill preferia ter fechado os olhos para não se aperceber o que saía da boca da criatura. Da sua enorme mandíbula choviam cadáveres queimados, cadáveres que não estavam completamente mortos, alguns chiavam, outros choravam, arrastavam-se aos pés de Bill e imploravam para que ele os matasse. Estava à beira da loucura, eram corpos de gente que ele tinha convivido, pessoas que ele conhecera e conviveu na esquecida e que lentamente o envolviam numa espécie de massa negra.
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Portadores de sonhos
FantasíaA historia de dois irmãos Bill e Bell que irão descobrir o mundo ao mesmo tempo que nós, descobrindo as historias que cada um guarda, numa aventura frenética com cada companheiro mais misterioso e estranho do que o anterior e o sonho da liberdade a...