Capítulo seis

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Maven Dawson

Quatro anos atrás

Ela era o total contrário de mim.

Era viva, com os cabelos ruivos brilhantes, os olhos verdes encantadores, a pele branca e bem cuidada. A voz de um anjo, um timbre tão suave e feminino que combinava com o resto dela.

Ela era o sinônimo de luz, alegria, animação.

Eu, por outro lado, era o contrário dela; cabelos castanhos escuros, olhos escuros e a pele branca. Minha voz é baixa e calma, mas nada angelical como a dela.

Eleanor Quinn não é do tipo que passa despercebida em algum lugar. Além da beleza, ela tem uma aura e personalidade que atraem as pessoas.

Mesmo assim, ela é tímida. Sorri sem graça quando alguém, pela milésima vez no dia, elogia ela ou principalmente o cabelo dela. As bochechas dela começam a corar sempre que alguém entrega um presente, flor ou carta, mesmo que já esteja acostumada com tanta atenção.

Além disso, é extremamente inteligente, mas tem dificuldades em matemática, ao contrário de mim, novamente.

Quanto mais eu tento afastá-la, mais ela aparece para mim. Isso me irrita. Muito.

Respirei fundo, tentando tirar ela da cabeça e me concentrar na guitarra.

Às vezes, quando eu me sentia estressado, descontava a frustração na música. O problema é que nem todos entendiam isso.

- Abaixa essa merda, Maven! - a porta se abriu e, infelizmente, meu irmão estava ali. - Pra que você veio aqui, afinal? Por que não está com sua tia, hein? - fechou a porta atrás de si.

Parei de tocar a guitarra e olhei para ele.

O que eu havia feito na outra vida para merecer isso?

Matteo Dawson era um cara alto, porém poucos centímetros mais baixo que eu. Era branco, e, diferente de mim, tinha os cabelos meio longos e mais escuros. Seus olhos eram castanhos claros e sérios.

Tínhamos muitas semelhanças, mas éramos completamente diferentes.

Ele parecia estar meio estressado, não que nos outros dias fosse diferente. Não era exatamente um estresse, apenas uma frustração que precisava ser descontada em algo.

Matt tinha um temperamento um pouco... Difícil de lidar. Se estressava com a mais minúscula coisa. Gostava de se sentir bem deixando os outros mal, um completo babaca narcisista.

- Aquela garota lá... Rosie. Ela vai dar uma festa, quer ir? - encostou-se no batente da porta e cruzou os braços.

- Rosie? - franzi o cenho. - Não gosto muito dela.

Ele riu e veio até mim, sentando-se ao meu lado enquanto olhava ao redor do quarto.

- Não perguntei isso, Maven, perguntei se queria ir ou não. - Seu timbre já indicava a pequena raiva dentro dele.

Levantei da cama e comecei a guardar a guitarra.

Rosie era uma garota bonita, tenho que admitir. Mas ela era muito chamativa e não naturalmente, ela forçava muito por atenção. Era irritante, principalmente quando ela dava em cima de mim.

Odiava quando ela age como se fôssemos grandes amigos. Eu sequer gosto dela e ela insiste em me irritar.

Revirei os olhos só de pensar nela.

- Que horas? - me virei para vê-lo mexendo no meu armário. - O que diabos está fazendo?

- Eu estava me perguntando... - começou. - Por que você tem um quarto aqui se nem mora aqui?

Já havíamos discutido isso antes, anos atrás... Quando éramos crianças que não entendiam de nada. Mas, voltar nesse assunto sendo um adolescente com consciência das coisas e situações, era muito infantil.

Matteo costuma fazer isso, trazer assuntos de anos atrás apenas para ter um motivo para discutir.

- Isso não tem nada a ver com que eu perguntei. - Murmurei, tentando desviar daquele assunto. - Que horas, Matt?

- Você mora com a sua tiazinha, Maven, então por que ainda recebe tanto do pai? - tirou algumas roupas do cabide.

Então era isso... Matteo não havia recebido a dose diária de validação do papai, estava em abstinência e veio descontar isso em mim.

- Matteo, pelo amor...

- Sabe o que o pai fez hoje, Maven? Disse que deveria ser você a liderar a empresa quando ele morrer. Acho muito interessante que você, que nem mora aqui, nem convive com ele, nem fala com ele, faz um trabalho melhor que eu. - Continuou pegando algumas coisas minhas. - O mais interessante ainda é que ele confia na pessoa que matou a mamãe para liderar a empresa.

Ele fechou o armário e olhou para mim com um sorriso, como se tivesse conseguido me atingir.

- Vamos para lá umas dezenove e meia, fechou?

E saiu carregando as coisas que roubou de mim, sem nem esperar pela minha resposta.

E o filho da puta realmente me atingiu.

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