Teus lábios, minha poesia

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“E quanto tempo leva pra ter certeza

De que é essa pessoa e não outra

O amor da nossa vida?

— A vida toda.”

- Bruno Fontes




- Você lembra, Minerva, quando eu tinha 17 anos e vinha aqui te dizer das conversas que ouvia atrás da porta? Lembra certa vez em que ouvi tio Benício dizer a papai que, segundo a psicologia, nós nunca amamos realmente alguém, nós amamos o sentimento que esse alguém nos proporciona? – Respirei acariciando a pelagem lisa e preta reluzente de Minerva. – Também não me esqueço que papai riu baixinho, tocou o ombro de tio Benício e disse: “Benício, meu querido, sentimento bom qualquer pessoa pode ser capaz de nos proporcionar, mas é só de quem se ama verdadeiramente que a gente recebe na alma um carinho como se fosse de Deus. Não há sentimento bom ou ruim que me faça deixar de amar Roberta, porque o que amo é ela em carne, osso e alma.”. – Minerva relinchou como se confirmasse a lembrança e eu alisei sua crina enquanto ela dava um passo marchado calmo. – Eu finalmente entendi o que papai disse aquele dia, sabe? Tenho que te apresentar a pessoa que finalmente me deu entendimento do que é amar alguém por ela mesma, do jeitinho que papai disse: em carne, osso e alma.

(...)

Assustei-me e quase me desequilibrei em cima de Minerva ao ouvir a voz de Cora me chamando do outro lado da cerca. Ela abanava a mão de longe, me fazendo ter certeza de que a vi ali. Era cedo, não passava das sete da manhã e Simone ainda descansava, por isso decidi rever Minerva e galopar com ela pelos arredores da fazenda; o que não esperava era ter “companhia” logo cedo. Mas lá estava ela, com suas botas marrons na altura do joelho, uma calça jeans preta parcialmente coberta pelas botas e uma camisa xadrez aberta com uma regata branca por baixo.

- Eiiii, Lena!! Bom dia!!! Nossa, que sorte te achar aqui agora, eu nem imaginava que ‘cê ainda acordava cedo assim. – Ela disse um tanto eufórica para uma conversa às sete da manhã.

- Oi, Cora... Bom dia! Bem... a vida na cidade é meio corrida, então acordar cedo não deixou de ser um costume. – Disse ao descer de Minerva e parar em frente a ela, sendo separadas somente pela cerca.

- Eu te acompanho, sabe? Você parece estar feliz com o que anda fazendo na cidade. – Ela sorriu e cruzou os braços por cima da cerca.

- Gosto, sim. Não tenho do que reclamar.

- Mas pensei que você vinha pra fazenda pra descanar, Lena... Sua avó me disse que aquela mulher na cozinha ontem era sua chefa. Eu bem que estava reconhecendo ela de algum lugar. – Enquanto falava, Cora alisava o pelo de Minerva e me olhava a todo instante. – Mas pra quê que ‘cê trouxe ela pra cá, Lena? Sei lá... ninguém achou estranho, não? Porque ó, eu achei. – Enquanto Cora dissertava eu me perguntava quando foi que ela passou a falar tanto e ainda por cima querer dar pitaco na vida dos outros.

- E por que seria estranho?

- Ué, porque ela é sua "chefa" e ainda por cima é política... uma das bem picaretas, tenho certeza... porque aquele rostinho bonito dela não me engana, não. Desculpa falar, porque eu sei que ‘cê trabalha com ela, mas eu não confio naquela riquinha metida a besta.

- Sobre uma coisa você está certa, ela realmente tem um rostinho muito bonito. – Disse encarando-a com um sorriso de canto e ela parou de alisar Minerva, surpresa com minha resposta e expressão. – Fora isso, você está muito equivocada sobre a Simone, e não deveria sair por aí julgando pessoas que mal conhece, Cora.

Teus lábios: Minha poesia Onde histórias criam vida. Descubra agora