“Ama-me pelo amor do amor somente.”
- Elizabeth Barret
Que poderia alguém que já considerava ter tanto, querer mais além de acordar nos braços de quem se ama ou se torna o ser amado? Dizer que Simone era seu amor não era passível de dúvidas, como também não era sinônimo de realidade. Podia sim ter a sorte de acordar em uma manhã de domingo e tê-la, ainda que inacreditavelmente, ao seu lado, mas ainda não podia – e talvez nunca possa –intitulá-la como sendo seu amor.
O sol resvalava pela pele parcialmente nua e leitosa de Simone, contrastando levemente com o tecido fino do lençol que lhe cobria apenas da cintura para baixo. Os cabelos lhe pendiam pelo rosto como se a noite escondesse a luz do amanhecer que era a pele dela. Os seios expostos como se estivessem em uma galeria prontos para serem representados artisticamente. Simone era belíssima, mas pela manhã, reluzia de tal modo, tal qual fosse uma extensão das estrelas. Helena a observava de maneira que ali ao seu lado repousasse o ser mais importante do universo – e talvez fosse, em um segredo muito particular dela.
A senadora remexeu-se nos lençóis, sentindo um par de olhos brilhantes sobre si. Suspirou profundo e abriu os olhos, para encontrar os de Helena junto a um sorriso doce, lhe observando de maneira que nunca pode observar na face de alguém. Sorriu para ela e acariciou a bochecha macia, a jovem fechou os olhos em resposta, se deixando vivenciar a eternidade fugaz daquele gesto.
- Bom dia! – A voz já familiar e rouca de Simone ressoou baixo.
- Bom dia, linda! Dormiu bem? – Helena perguntou abrindo os olhos lentamente, depositando uma das mãos na cintura de Simone, acariciando cautelosamente o local.
- Acho que há tempos não dormia tão bem. Não sei dizer se foi sua cama ou sua companhia. – A jovem riu e fez um bico na sequência, fingindo sentir-se ofendida.
- O que importa é que você descansou. Mas não tiro os créditos do excelente colchão que tenho. – Ambas sorriram docemente.
Naquele momento, quem se perdia em pensamentos diante dos traços da outra mulher era Simone. Sua mente palpitava e seu coração, apesar de emanar tranquilidade, também parecia ansioso. Ansioso por se dar conta da realidade que lhe tomava, de acordar nos braços de uma mulher que lhe acariciava o rosto pela manhã e lhe desejava bom dia olhando nos olhos como se nada fosse mais importante do que ter o tempo certo daquele instante diurno. Pensou na sutileza que só os dedos de uma mulher poderiam ter, no tom de voz que há tanto ela louvava por ser mais baixo, moderado, mas também pelo silêncio, pelo cuidado e, principalmente, pelo amor que emanava da pele como um perfume singular.
Pensou em todas as manhãs que acordou com a cabeça latejando pela voz grossa e nada polida do marido, lembrou-se dos dedos ásperos, das mãos pesadas, da barba por fazer, do caos em forma de homem que ele era. Mas especialmente lembrou-se de nunca ser olhada com calma nas manhãs ao lado dele, lembrou-se de nunca ter se sentido admirada como se fosse a mulher mais bonita que poderia ser. Em um rompante de pensamentos, puxou Helena contra seu corpo com cuidado e selou seus lábios em um beijo cuidadoso, delicado, lento. Um beijo com sabor de amanhecer.
Seus dedos subiam e desciam pelas costas da jovem, que em gesto de reciprocidade, acariciava sua nuca enrolando os dedos em seus fios de cabelo. Simone queria nunca ter de sair daquele quarto, nunca ter de deixar aquele beijo ou aquele corpo que tão bem se encaixava ao seu. Simone queria todas as manhãs receber na ponta da língua aquele gosto de vida que os lábios de Helena tinham. Encerrou o beijo deixando outros três na boca da mais nova, que sorria, involuntariamente, após cada um deles.
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Teus lábios: Minha poesia
FanfictionDesejar-te de longe era meu refúgio, até que teu corpo tornou-se meu, até que minha alma se banhou na sua. Esta é uma obra de ficção sem qualquer compromisso com a realidade.