Sem açúcar, sem afeto

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Naquela manhã o Sol resolveu aparecer, o brilho reluzente ajudou de bom grado as plantinhas quase mortas em meio ao inverno a recuperar o vigor. Quando o primeiro raio entrou pelas frestas da janela, Agatha disse que Títere era como o Sol e ela como o inverno, ele com os cabelinhos loiros reluzentes derretia toda a neve do coração dela. O menino sorria com cada palavra, ainda meio sonolento. Certamente não entendia que isso significava que ela era fria feito a neve por dentro e que ele só seria útil enquanto brilhasse.
Vez ou outra Agatha se lamentava em silêncio por ele estar crescendo, mas com doze anos o menino ainda era franzino como um garoto de nove, então isso a consolava. Os traços femininos não pareciam querer abandona-lo, nem mesmo com o começo da puberdade e isso fazia ela ter esperança que sempre teria um colírio para os olhos e que o Sol que derretia a neve ia sempre brilhar.

- Titi deitadinho?

- Não, Titi vai levantar com a mamãe. Você precisa ficar em outras posições. Sei que não gosta de andar, mas pode ficar sentadinho enquanto preparo o café da manhã, que tal?

Andar ainda era dolorido, se mexer no geral não era algo reconfortante porque ainda parecia que o corpinho dele funcionava como engrenagens sem óleo, rangendo e se batendo. Tão por isso, ele preferia ficar parado, mas Agatha não deixava e no fim isso o ajudava, ele sabia.
Ficou sentadinho enquanto sua mãe se arrumava e o arrumava para o dia.

- Quer café com açúcar?

- Açúcar!

Agatha achou graça da animação da resposta e começou a preparar o café da manhã. Ovos, pão, frutas e café... Esqueceu o açúcar. Enquanto colocava a mesa o menino tentava avisar sobre o erro.

- Mamãe...

- O que você tem, Títere? Mamãe está trabalhando.

Falou sem lhe dar a devida atenção, mas não era culpa dela, Títere vivia chamando mamãe por todos os lados e se ela fosse sempre dar plena atenção eles morreriam de fome e frio.

- Mamãe...

Sussurrou sentindo certo desespero por não conseguir terminar a frase, por não chamar atenção dela. Às vezes não conseguia colocar os sons das palavras para fora e isso o deixava em pânico, mas nada superava a sensação angustiante dela ignora-lo. Estava sentado em um pequeno móvel de madeira esperando ela tira-lo dali, como ela não veio, ele tentou levantar. As mãos de dedos fininhos tentaram se segurar e empurrar o quadril para descer. Falhou. Agatha se virou e o olhou, finalmente.

- Meu neném... Por que está se forçando tanto? Eu ia me virar, só estava terminando o café. Mamãe está aqui, nunca vai te abandonar.

Chegou perto do garoto e se encaixou entre as pequenas perninhas, o abraçou pela cintura e sorriu com gentileza. Uma lágrima solitária escorreu no cantinho dos seus olhos azuis. Ele estava desapontado consigo mesmo. A bruxa admirou sua criação, ela estava criando um ser humana através do nada e isso ainda a surpreendia. Agora o garoto estava ali, chorando, igual um humano. Se tinha lágrimas, significava que o corpo estava completo por dentro. Ela simplesmente esqueceu que isso significava sentimentos também, esqueceu que ele deveria estar sentindo algo ruim, esqueceu de colocar açúcar no café.

- Você está completo.

- Mamãe... Açúcar...

Ela enxugou a lágrima dele e encarou o rostinho angelical, nem havia escutado o que o menino falou. Sentiu vontade de tocar Títere de uma maneira que uma mãe não deveria tocar um filho. Sentiu um arrepio pelo corpo. Sentiu seu ego aflorar. Se aproximou como uma cobra da presa.

- Vamos ver se está respirando.

Tocou de leve a ponta do nariz no dele, Títere ficou imóvel tentando passar no teste de ser totalmente humano e acabou esquecendo de avisar sobre a falta do açúcar. Agatha não sentia nenhuma respiração, talvez as coisas ainda não funcionassem assim tão bem. Sem oxigênio e sem sangue? Então como as lágrimas existiam? Feitiços certamente não tem nada com ciência.

- Não esta respirando ainda, mas em breve...

Roçou seus lábios nos dele e sentiu seu corpo responder como a muito tempo não respondia. A bruxa tinha muitas diversões e rituais por aí, mas teve que abandonar quando Títere foi feito, já que sentia a necessidade de se dedicar completamente ao seu feitiço mais brilhante, de cuidar do garoto. Nunca foi visto por aquelas terras uma beleza tão androgena, ela o fez, ele era exatamente como ela desejava... Sim, desejava. Agatha fez uma criança com traços que a chamavam atenção nas garotinhas, mas ainda assim o fez menino, porque as garotinhas não chamavam totalmente sua atenção. Títere era perfeito para ela, um garotinho meio garota, dos lábios doces. Agatha lambeu aqueles lábios de mel e sentiu os bicos dos mamilos endureceram contra o vestido que a cobria.

- Você é o garotinho perfeito da mamãe, Títere. Só a mamãe pode te tocar.

Ele se sentiu feliz, apesar da falta de açúcar, parecia ter agradado ela. Ele queria agrada-la, vivia em função da sua bruxa e ter ela feliz com ele era tudo o que lhe fazia aguentar as frustrações de não se tornar de vez um menino de verdade.

- Só mamãe...

Ele resmungou baixo no ouvido dela, sem intenção alguma. Escutou a mamãe ofegar e se preocupou. A olhou com medo, será que havia se machucado? Ela sorriu, ele tentou sorrir de volta e conseguiu, não estava tão amedrontado como antes. Ela estava bem perto e ele gostava do contato dela e se acalmava.

- Mamãe adora você, filhinho.

Passou as mãos de forma firme pela cintura de Títere, que mais parecia com um pilão de tão bem desenhada. Subiu as mãos pela camisa de algodão e apertou de leve os peitos do seu garotinho. Títere era branquinho e magrelo, tão frágil... Algumas manchas da madeira usada em sua fabricação ainda apareciam por sua pele, dando um toque ainda mais delicado em sua pele.

- Mamãe?

Resmungou um tanto confuso. Não entendia porque ela estava o apertando. Ela nunca apertava porque a pele dele era sensível, ela mesma dizia. Viu ela se afastar e sentiu falta do calor corporal que conseguia sentir a pouco tempo, pensou que fez besteira e sentiu vontade de chorar.

- Mamãe... Titi quer mais aperto...

- Quer? Mamãe achou que o Titi estava com medo, que doeu... Por isso afastei. Não quero machucar você, filho.

Tinha sido estranho, de fato, mas ele queria Agatha tocando, fosse forte ou não. Queria a mamãe encostando nele, esfregando e apertando. Sentia sensações gostosas quando ela fazia isso.

- Titi quer.

Levantou os bracinhos para ser pego. Ela o colocou no colo e o levou de volta para a cama. Ele disse que queria, então ela se agarrou nisso e fez o que queria fazer a muito tempo. Só não se lembrou que Títere não sabia o significado que aquelas palavras teriam naquele contexto.

- Feche os olhinhos e aproveite, mamãe vai fazer o neném se sentir bem.

Ela pegou o pintinho com cuidado na mão e fez leves movimentos de vai e vem, o menino gemeu e apertou os olhinhos, parecia não gostar. Ela pensou em parar, mas sua boceta contraindo entre as pernas não ajudou nessa decisão. Continuou com o mesmo movimento e pouco a pouco a expressão de Títere se suavizou e a boquinha entreaberta soltou suspiros.

- Diga pra mamãe se está gostando, Titi.

- G-gostando...

- Então geme pra mamãe, Titi. Não segura seus barulhinhos. Mamãe quer escutar todos.

Obedeceu, abriu a boquinha e se deixou fazer barulho. Os gemidinhos eram finos e delicados, como lapsos de prazer. Estava muito bom, sua mãe fazia exatamente do jeito que parecia agradá-lo mais e ele se sentia confortável.

- Mamãe!

Começou a trocar os suspiros e pequenos gemidos por gritinhos histéricos de prazer, agudos e desesperados, que a deixavam ainda mais molhada. Ele tentou afastar a mão dela, sem saber porque aquela sensação gostosa se tornou uma agonia estranha e satisfatória.

- Goza pra mamãe, amor. Goza. Não segura.

Ele era o sucesso do seu trabalho, eram os indícios que Títere é de fato um garoto de verdade que a faziam entrar em êxtase. Lambeu o gozo do garoto em sua mão e suspirou de prazer, vê-lo quase desmaiado pela sensação a fazia se sentir a maior de todas as bruxas. E foi assim, sem açúcar no café e sem afeto no ato, no mais puro ego, que aquela manhã terminou.

Títere (mdlb)Onde histórias criam vida. Descubra agora