Enxovia amorosa

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Títere estava bem com a mamãe tocando seu corpo, gostava da sensação e gostava de como aquilo a mantinha perto, chegava até mesmo a sentir falta quando ela passava muito tempo sem toca-lo. Vez ou outra tentou fazer sozinho, quando ela saia, mas ele não sabia fazer direito e tinha medo que ela descobrisse e o castigasse, então desistia quase antes de começar.

 - Odeio esse silêncio!

Resmungou bravo, odiava quando ela demorava fora. Naquela manhã ele ficou encarregado de colher flores no jardim para trocar as dos vasos dentro de casa. As pessoas apareciam atrás das curas de Agatha, então as ervas que não eram plantadas no jardim estavam acabando muito rápido e ela precisava ir com mais frequência ao vilarejo comprar o que estava faltando e Títere sabia que ela iria demorar, então para não ficar ansioso aceitava de bom grado o trabalho das flores.

- Quem está aí!?

Gritou agudo depois do susto quando alguém bateu na porta. Não era Agatha, ela não batia. O garoto tremeu levemente e andou devagar até a porta. Por mais que as pessoas fossem à casa deles com frequência, Títere nunca falava com ninguém e sempre evitava que ficassem olhando para ele e perguntando coisas estranhas, então ter alguém lá sem sua mãe em casa era aterrorizante.

- Me chamo Query! Moro aqui pertinho!

- Não posso abrir!

- Por quê?

- Minha mãe não deixa abrir a porta pra gente estranha!

Era a primeira vez que ele falava mais de um "oi" com alguém, seu coração batia forte, acelerado, ele queria ver como Query era e o que fazia sozinho no meio da floresta, mas abrir a porta não era inteligente.

- Eu não sou estranho, sou normal. Você pode sair pra conversar, eu não preciso entrar aí dentro da sua casa.

Títere se aproximou mais da porta e pensou em todas as coisas que sua mãe falou sobre pessoas ruins que poderiam leva-lo embora ou ainda queimar ela em uma fogueira. Pensou que talvez fosse uma ideia péssima, mas que se abrisse a porta, finalmente poderia conversar cara a cara com alguém que não fosse Agatha.

- Se você fizer algo ruim, minha mãe vai mata-lo.

Falou meio bravo ao sair para fora e fechar a porta atrás de si, fez em um ato só, porque se pensasse muito desistiria. Eles dois se olharam. Títere se perguntou porque Query queria conversar, já que ele era mais do tipo de garoto que vinha conversar com Agatha. Query se perguntou se o que ele via era um garoto ou uma garota.

- Quer ir na cachoeira aqui perto? Você volta antes da sua mãe perceber. É meu lugar favorito.

- Tá bom, mas eu volto logo.

Não era difícil de convencer Títere a fazer algo e sua curiosidade de certa forma era mais perigosa que qualquer pessoa que pudesse machuca-lo. Query parecia inofensivo, tinha um semblante calmo, diferente do de Ades. Além disso, o corpo também era bem diferente, parecia ser um ou dois anos mais velho que Títere e apesar de mais alto e forte, a diferença não era gritante.

- Você é uma menina de cabelo curto?

- Sou um... Eu sou Títere.

- Você não sabe se é um menino ou uma menina? Parece os dois.

- As vezes eu sou uma menina quando minha mãe quer.

- Agora você é o que?

- Agora sou eu.

- Você é meio burro, eu acho.

- Você que é burro!

- Calma, baixinha... Baixinho...Calma, Títere. Eu só estava falando.

Títere (mdlb)Onde histórias criam vida. Descubra agora