Capítulo XVI

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Lá estava ele, sentado numa cadeira de balanço no alpendre da casa. Apesar dos sinais evidentes do tempo, seus olhos azuis brilhavam com a mesma jovialidade que recordava. Lena sentiu seu coração apertar ao vê-lo. Enquanto se apressava para ir ao seu encontro, seus passos ecoam suavemente no chão de terra batida. Uma vontade enorme de abraçá-lo tomou conta dela, e suas mãos tremiam ligeiramente de ansiedade enquanto se aproximava dele.

Pouco mais de duas décadas sem ver aquela figura paterna a quem tanto era agradecida por cuidar dela, e de sua mãe enquanto viva.

Quando finalmente chegou ao lado do homem, Lena se ajoelhou diante dele, incapaz de conter as lágrimas que inundavam seus olhos. Se largou em seu colo e enterrou o rosto contra os próprios braços, sem dar a oportunidade do homem levantar e sem se importar com o baque dos joelhos no chão. Sean passou a mão gentilmente em seu ombro, oferecendo conforto silencioso enquanto Lena soluçava em um colo familiar.

O som suave do ranger da cadeira de balanço trouxe à de volta a situação que se encontrava.

— Se acalme, menina — murmurou para a morena — Está tudo bem.

Lena fungou — Juro por todos os deuses que passei a última semana ouvindo isso.

— Então você deve estar imersa em suas próprias emoções. As pessoas a sua volta, aqueles que te amam de verdade, juro a você, essas pessoas apenas querem o seu bem.

— Receio acreditar em certos tipos de amores.

O velho sorriu — Espero que não duvide do amor daquela mulher que trouxe com você — falou, apontando para a loira que fora parada por Ryan. Lena olhou para a direção que o homem apontava e vislumbrou Kara com os punhos cerrados e com uma expressão preocupada estampada na face — Preciso analisar mais de perto, pois minha visão já não é das melhores.

Lena tirou força de onde não tinha para levantar. Seu corpo ainda trêmulo pela enxurrada de emoções que sentiu ao vê-lo. Limpou os joelhos sujos de areia e se pôs de pé. Deu a mão para ajudar o homem velho a levantar e o guiou até a esposa. Ela olhava carrancuda para o homem que, ainda, apertava seu ombro.

Perdendo a paciência, Kara movimentou o braço de forma que fizesse o outro lhe soltar, acabando por fazê-lo se desequilibrar e tombar para frente.

— Não julgue esse rostinho bonito, Ryan. Ela é bem mais forte do que parece — Luthor comentou ao se aproximar.

O homem ruivo falou num resmungo: — Estou vendo.

— Foi com você que falei ao telefone, Kara Zor-El? É tão imponente quanto se mostrou ser do outro lado da linha — falou, fitando a mulher de cima a baixo — O que faz da vida, criança?

— Sou CEO interina de uma empresa do ramo metalúrgico, focada na produção civil.

— Coisa de gente de cidade grande, certo?

— Sim, Sr. Carter — Kara sorriu, e desviou o olhar para a esposa —  Lena, como está?

Ainda chorosa, Lena rumou ao abraço quente da mais velha, que prontamente a acolheu. — Foi só uma enxurrada de emoções, eu vou ficar bem.

— Com a torta que a esposa do meu irmão preparou, você vai ficar melhor logo!

[...]

— Meu pai cuidou bem da casa. Lena, está tudo em ordem, inclusive, até poderia morar lá imediatamente! — John exclamou eufórico — Kara, não fique tão tímida. E Ryan, ainda não vi você se desculpar por ter colocado uma arma na cara dela!

Estamos todos à mesa. Os netos de Sean estão do lado de fora. Fiquei sabendo que priorizam o desjejum das crianças, pois em dias comuns vão para a escola e precisam sair de casa antes de poderem almoçar. Isso me deu uma ideia: financiar a construção de uma rede de ensino infantil próximo aos vilarejos menos povoados. Minha mãe iria adorar isso. Guiei meu olhar até Ryan que colocou uma mão na testa, irritado com as tentativas do irmão mais velho de fazê-lo pedir desculpas a minha norueguesa. Percebi que eles se apegaram bastante a esse fato. Kara é alta, loira e tem olhos extraordinariamente azuis. Se chutar uma árvore na Europa vai cair 10 assim, mas ela é diferente. Tem uma beleza diferente que vai além de aspectos físicos. Sua alma reluz, ela é a estrela mais brilhante do céu noturno, meu sol. Minha esposa já havia tirado a carranca do rosto faz tempo e agora conversava com Carla, esposa de John. Ela é a responsável por cuidar do sogro. Seus filhos já são adultos; ela não se incomoda em ajudar quem tanto a ajudou por uma longa parte da vida. Sean é um velho rabugento, mas de coração grande. E sua falecida esposa, Ellie, era magnífica em vida. Todos amavam trazer sua memória à tona, para que jamais fosse esquecida.

Long Awaited | SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora