Capítulo 1 - Tempo

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Tic-tac, tic-tac, tic...tac.

Estava deitado na grama, as pontas pinicando minha pele em toda extensão das minhas costas, parecia quase como se eu tivesse pronto para cair em um mar de pequenas agulhas afiadas. Além da sombra das arvores, que cobriam apenas metade do meu corpo, deixando a outra exposta a uma sensação de queimação sobre meus dedos dos pés. Simplesmente um dia bom, apenas perdido em pensamentos sobre o quanto queria ter te conhecido antes, antes do que estava para acontecer.

É muito engraçado quando você para e pensa sobre a vida, ela é movida por um controle automático de criar relações e objetivos que as pessoas buscam para se satisfazer dentro dos círculos de amigos e ser aceito nessa coisa aí que chamamos de sociedade. Não pense que sou contra não, muito pelo contrário, mas no dia 13 de maio de 2036, foi quando o mundo parou para assistir nos seus ultras e tecnológicos aparelhos eletrônicos de todos os tipos, a pior notícia possível. E então foi aí que minha opinião sobre a vida mudou.

Estava em todos os jornais, todas as mídias especializadas e não especializadas também. Nosso querido e amado sol estava aumentando de tamanho, mais e mais, o suficiente para engolir todo nosso mundinho que chamamos de lar. É claro, obvio que agora seria uma luta contra o tempo para os mais inteligentes e magníficos estudiosos do mundo que dedicaram suas vidas inteiras a conhecer o universo, iriam nos dar uma solução, bom, pelo menos é o que pensávamos e o que nós pensávamos estava errado, e sim, era só uma questão de tempo para tudo então terminar.

Não vamos ficar aqui chorando, certo?! Meus pensamentos estão loucos e agora é minha chance, a poha do mundo está terminando, foda-se, eu vou até a casa dela e me declarar, esperei tanto por esse momento, por tanto tempo a coragem me falhou e agora simplesmente eu não tenho nada a perder, nadinha.

O nome dela é Liz e ela é a pessoa mais linda do mundo, com seus cabelos até o ombro, de um loiro tão vivo, que eu acho que estou olhando diretamente para o sol, até parece que ele antecipou sua chegada a terra. Seus olhos são de um verde tão perfeito quanto a cor da grama depois de cortada após um dia de chuva no verão. E o seu corpo, a seu corpo, parece que foi esculpido pela mais alta patente de anjos lá de cima. Tudo nela é perfeito, seu cheiro, seu sorriso e até o seu andar, quando todos os dias passa pela minha mesa no escritório, para deixar as pilhas de novos projetos com prazos extremamente apertados de entrega, que nem três de mim dariam conta de terminar a tempo.

Eu fico a observando, sempre com seu colar dourado, com um pequeno pingente da cor do céu. Usa sempre vestidos floridos com cores tão vibrantes quanto a de um campo de tulipas recém atingidas pela geada nos dias de inverno. Ela sempre me recebe com um bom dia, com sua voz doce e seu sorriso alegre e contagiante.

Liz mora a um quarteirão daqui, em uma casa de frente a uma padaria. Até nisso ela é perfeita, só de passar por ali já deixa qualquer um doido com o maravilhoso cheiro que vem dos pães fresquinhos e suas tortas com recheios transbordando. E é até lá que eu vou, para bater em sua porta e dizer o quando eu estou louco por ela, e o quanto fui tolo por ter esperado o nosso transmissor de vitamina "D" vir até aqui e engolir nossa casa para só então eu criar coragem.

Nos jornais eles dizem que temos aproximadamente um ano, é o tempo que os gênios e cientistas do mundo vão ter para nos tirar daqui, ou simplesmente dar um jeito de esfriar o sol (Tudo bem, eu sei que isso não é possível). Como medida desesperada eu vou fazer o possível para aproveitar meus últimos dias aqui na terra, vou sair com meus melhores amigos o máximo de vezes possíveis. Marcos e Alicia são amantes da natureza e ótimos desbravadores, e talvez fazer algumas trilhas e explorar algumas florestas nesse momento com a companhia deles, não me parece assim tão ruim, talvez eu até devesse chamar a Liz para isso, soa até melhor do que ficar no meu quarto jogando vídeo game com desconhecidos esperando a hora da morte. 

Meu porte físico é até que invejável, antes da péssima notícia do fim do mundo, eu praticava academia diariamente, seguia uma alimentação até que regrada, tinha uma vida social e gostava de manter o meu cabelo sempre apresentável. Nesses últimos dias acabei deixando essas coisas de lado, mas é claro que agora que decidi que vou chamar a Liz para sair, eu preciso manter o mínimo da decência, não vou sair por aí como se o mundo fosse acabar.
    
Spoiler: Ele vai.

Eu estou planejando o momento. Como agora a maioria das empresas ou funcionários não querem mais saber de trabalhar, bom é até que aceitável, já que o sol está preste a nos engolir. Eu vou ter que procurar por rosas ou flores sozinho, não temos floriculturas trabalhando a todo o vapor como a duas semanas atrás, a maioria simplesmente já não liga. Eu não posso aparecer lá e ficar com os dedos nervosos e tremelicando, tenho que causar uma boa impressão, mas parando para pensar, eu não faço a menor ideia se ela gosta de flores?! e se ela for alérgica? Bom... eu preciso começar de algum lugar, e acho que com um:

- Olá, a gente se conhece de vista lá do escritório, meu nome é Benjamin e eu gostaria muito de saber se você quer perder um pouco do seu tempo comigo... antes do mundo acabar?

No último dia em que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora