Capítulo 6 - Ainda temos tempo

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Estou sentado em um banco na lanchonete do centro, aguardando a garçonete com a minha torrada e minha xicara de café. Já fazem cinco dias desde o meu encontro com Liz.

O lugar está praticamente vazio. A maioria dos itens no cardápio já não estão mais disponíveis. Lá fora o sol começa enviar seus últimos raio de luz do dia.

- Aqui está sua torrada e café. Daqui uns trinta minutos estamos fechando. Tá bem?!

A garçonete está com uma feição muito triste. Não acho que ela queira estar aqui, ou talvez possa ser o único lugar em que ela precise estar nesse momento. O mundo entregando as pontas, vai deixando qualquer um assim.

- A sim, claro. Desculpe o incomodo.

Ela da um sorriso quase imperceptível.

- Tudo bem moço. Os últimos dias não estão sendo fácil para ninguém.

Ela se vira e sai em direção a cozinha.

Antes de sair do estabelecimento , eu compro um maço de cigarros. Peguei a marca mais cara que tinha na prateleira. Eu nunca fumei em toda a minha vida, mas agora eu não tenho nada a perder. E no final das contas, eu sempre tive curiosidade para saber o sabor.

Abro a carteira e retiro um. É estranho, o cheiro já invade minhas narinas antes mesmo de eu acender. Um morador de rua que está sentado em frente a lanchonete no chão, tem uma carteira do lado.

- Boa noite senhor. Se importaria de me emprestar um isqueiro ou um fósforo? Se o senhor tiver é claro.

Ele não fala uma única palavra. Apenas pega o isqueiro e me entrega. Acendo o cigarro e devolvo. Sento na beirada da fechada de vidro na lanchonete e coloco o cigarro na boca. Na primeira puxada eu já quase cuspo meus pulmões para fora. Olho rapidamente para o senhor. Ele nem se dá conta, está deitado no chão com um cobertor, coberto até a cabeça.

- Que negócio forte!

Depois da primeira tragada, as outras são mais fáceis. E a sensação é de que o mundo fica mais fácil de encarar, acalmando a mente.

Vou caminhando ate em casa. A cidade não é assim tão grande e com a ruas mais vazias do que o normal, é até mais bonito aproveitar a vista. A maioria das casas aqui são do estilo alemão e no fim de tarde, as ruas com suas árvores cobrindo os quarteirões todo, fica uma linda paisagem para se apreciar.

O percurso, depois de algum tempo caminhando, se torna um pouco sombrio. A maioria dos estabelecimentos e lojas fechados. Grandes mercados abandonados. Meia dúzia de pessoas caminhando na rua. A Lua já está aparecendo no céu, e o sol se pondo no horizonte.

Giro a maçaneta da porta e entro em casa. Assim que piso para dentro o celular vibra. É mensagem da Liz. Ela tem me mandado algumas essa semana. Ainda não abri. Eu quero acreditar que foi um mal entendido, que aconteceu alguma coisa inesperada para ela sair daquele jeito. Mas não sei, as vezes me pego pensando de mais e apenas as coisas ruins se sobressaem.

Depois de um banho gelado, preparo uma xicara de café. As vezes pareço velho de mais, mas eu sou apaixonado em filmes em DVD. Na minha estante da sala tenho mais de 200 filmes originais. Alicia sempre me pergunta se a locadora está aberta, que ela gostaria de alugar alguns.
Sento na minha poltrona e deixo um filme rodando na televisão.

O sol começa a pegar no meu rosto. Olho para o lado e vejo a xicara vazia na mesinha ao lado. O filme parado na tela de inicio. Já amanheceu. Encosto a cabeça para trás e respiro profundamente, com meus olhos fechados, para sentir o calor em meu rosto. Assim que decido levantar da poltrona, alguém bate na porta.

- Já estou indo, um minuto!

Eu abro a porta e me deparo com Liz. Ela está com um vestido florido, vermelho escuro com algumas flores brancas pontuais. Seu colar brilha no peito enquanto o sol bate sobre ele.

- Oi Ben. Você não retornou minhas mensagens.

Não sei exatamente oque responder. Estou um pouco confuso e cheio de perguntas. Oque ela faz aqui? Por que se importa?

- Oi Liz. Desculpe, eu não sei.

Começo a coçar a nuca. E passar as mãos no cabelo. O nervosismo toma conta de mim por alguns instantes.

- Olha Ben, me desculpe aquele dia. Se você me der uma chance para explicar.

- Ah não, sério... você não deve explicação alguma, está tudo bem. Eu não tenho a nada a ver com oque você faz ou deixa de fazer Liz.

Na verdade eu quero muito uma explicação. Me abandonar lá, no meio do encontro. Eu acho que mereço. Mas não vou cobrar isso dela.

- Eu te devo um explicação sim. E ainda deixei você com a conta toda sozinho. Sinto muito.

- Quando a isso não se preocupe. A dona do restaurante não está cobrando mais pelo oque ela serve. Disse para mim que ainda faz, por que gosta.

- Ah, entendo!

Liz me encara alguns segundo antes de continuar.

- Olha Ben, eu e James nos envolvemos por alguns meses a um tempo atrás. Ele me levou exatamente nesse restaurante em que fomos por que eu disse a ele que amava comida chinesa.

Eu fico em silêncio, apenas escutando.

- James é um idiota. A gente não deu muito certo junto. Falei que nunca mais queria vê-lo depois de uma discussão. Isso já faz umas 2 semanas. Ele estava indo até minha casa naquela noite, quando nos viu no restaurante.

- Ben, você é um cara legal e me faz esquecer as coisas ruins da vida quando conversamos. Eu quero me desculpar. Não tenho mais nada com James, aquele dia fui com ele por que sempre causa confusão. Precisava tirá-lo dali. Mas já o dispensei totalmente, e se você deixar ainda podemos fazer alguma coisa. Que tal na minha casa? Eu cozinho!

Agora até me sinto um pouco bobo. Meus pensamentos estavam todos me dizendo que eu e ela não ia rolar. Mas talvez, ainda temos tempo.

- Você não precisava me explicar nada Liz. Mas eu agradeço muito e eu com certeza aceito seu convite.

- Fico muito feliz. Está marcado em! Dessa vez eu que vou te surpreender.

- Tenho certeza disso.

Liz me olha uma última vez, da seu lindo sorriso e vai em bora.

Assim que ela sai da minha visão, eu abro um largo sorriso. Mas por algum motivo, acabo de perceber que meu entusiasmo já não é o mesmo.

No último dia em que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora