Capítulo 11 - Um dia de cada vez

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Cada um tem sua forma de encarar a vida e suas barreiras no caminho. Antes, eu costumava descarregar minha ansiedade, raiva, medo, em jogos virtuais, livros, academia. Agora me vejo parado em frente a mesma lanchonete do centro todos os dias. Um cigarro acesso em minhas mãos, aguardando a última tragada para então entrar e me sentar sozinho no banco, enquanto aguardo ser atendido.

Algumas gotas de chuva começam a cair lá de cima.  Noto que o senhor que ficava deitado em frente a lanchonete, não está mais ali. Os vidros agora não se pode enxergar o interior, talvez a chuva que está por vir, lave sua sujeira.

Eu me pergunto por que esse lugar ainda está aberto. A funcionária, uma menina nova que não deve passar dos seus 27 ou 28 anos, sempre com um semblante triste no rosto, mas continua aqui, servindo meia dúzia de pessoas que não tem mais para aonde ir.

Ela coloca a torrada sobre a minha mesa, só tem queijo dessa vez. O café parece requentado do dia anterior.

- Obrigado senhorita!

- Desculpe, mas não temos mais presunto no momento.

A moça rapidamente se vira para retornar para cozinha, aonde está uma mulher atrás do vidro, cozinhando.

- Ei, espere...

Ela me encara com seus olhos cansados e cabelo despenteado.

- Sim?

- Por que você ainda mantém aberto esse lugar?

- É uma longa história.

Apenas a encaro, esperando uma resposta. Fixo meus olhos nos vidros sujos e nas poltronas desgastadas.

- Olha senhor, isso é tudo que restou do meu pai antes dele morrer. Minha mãe e eu...

Um lagrima agora escorre em seus olhos, enquanto rapidamente ela limpa.

- Minha mãe e eu, estamos tentando manter a memória dele viva. Pelo menos enquanto ainda tempos tempo. Todo mundo sabe o final, eu aqui ou em qualquer outro lugar, matando tempo, não vai mudar o resultado! Pelo menos aqui, ainda sinto que tenho um propósito.

- Eu entendo... Sinto muito pela sua perda.

A menina me acena com a cabeça e sai. Cada um tem seu jeito de encarar as coisas , esse é o dela.

Apenas uma fina garoa cai lá fora, decido encará-la. Vou me esgueirando de vagar por baixo das arvores e pequenos telhados. Alguns momentos apenas paro para observar a fina chuva cair sobre as casas e carros da rua. Meu celular está vibrando, e tenho certeza que não é a Liz ou muito menos Alicia. Já faz mais de uma semana que não as vejo. Marcos e Diogo estão a mais de mil quilômetros de distância curtindo a companhia um do outro.

Estranho, é o número do meu tio Bob. Tenho salvo ele no celular desde a última festa em família que aconteceu, hmm deixa eu ver... A sim, a uns doze anos atrás. Não entendo por que ele está me ligando, não mantemos contato.

- Alô. Bob?

- Oi Benjamin, isso, sou eu.

- Aconteceu alguma coisa?

- Faz tempo que não se falamos. Não queria ligar para dar notícias ruins, mas eu sei que você e a minha irmã eram ligados e...

- Oque aconteceu com a tia?

- Eu sinto muito Ben...

Quase deixo o celular cair no chão. A chuva agora que se intensificou, cobre minhas lágrimas. Sei que todos nós estamos condenados, mas não esperava isso agora, nesse momento. Minhas pernas tremem e quase não consigo ficar em pé. Minha tia é a única parte importante da minha família que eu ligo, e agora se foi.

No último dia em que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora