Capítulo 12 - Agora mais do que nunca

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Só consigo pensar nela. Seu perfume, seu olhos de esmeralda olhando nos meus. A maciez dos seus cabelos e o seu jeito de sorrir. O movimento do nariz quando ela está animada. Ele enruga levemente para cima, combinado levemente com suas covinhas na bochecha.

Eu estou deitado na sala hoje, não consegui ir até o quarto. Minha cabeça é um turbilhão de pensamentos sobre oque já vivi, sobre o que passei ao lado dos meus pais e da minha tia. Das vezes em que Marcos arriscava seu coro para passar mentirinhas para livrar eu e Ali das loucuras que ela propunha. Minha mente só tem espaço para ela agora, para todas as vezes que eu aceitava sem pensar suas ideias mirabolantes, que no final nos colocavam por longos dias de castigo. O tempo passou tão de pressa. A vida está passando tão de pressa.

Decido que hoje preciso ir ver a Liz. Não posso negar o quão louco e apaixonado estou por Alicia, o quanto ela me faz bem e se encaixa perfeitamente em mim, como uma peça de quebra cabeças que foi fabricada pela vida.

Eu não quero magoa-la. Liz tem seus defeitos como todo mundo, mas ela é uma boa pessoa. Fui eu quem a chamou para sair, fui eu que comecei tudo isso, e ela merece saber a verdade sobre meus sentimentos. Mesmo agora eu parando para refletir, que faz alguns dias que ela não me envia uma única mensagem ou liga em meu celular.

Estou em direção a sua casa, caminho de vagar, curtindo os primeiros raios de sol do dia. O clima é quente, eu admito, mas ao mesmo tempo é bom.

Estou chegando em frente a casa da senhora que me deu aquela linda rosa, mergulhada no vermelho mais vivo que já vi. Penso em falar com ela, ver se ela quer ajuda com as flores, ainda sinto que preciso recompensar a sua gentileza da outra vez. Agora noto que o jardim está completamente sem vida enquanto me aproximo. Vejo um rapaz saindo da casa, com uma caixa em suas mãos. Ele a coloca no chão, enquanto tira um molho de chaves de seu bolso e tranca a porta. Noto que ele fica ali, parado, encarando a maçaneta, passa a mão na madeira da porta uma ultima vez antes de virar e pegar a caixa novamente.

- Bom dia...

O homem me encara com um semblante de surpresa no rosto, fica olhando por alguns segundos antes de falar.

- Péssimo dia cara...

Sua face agora é de extrema tristeza.

- Desculpe me intrometer. Mas eu conhecia a senhora que morava ai, ela me ajudou uma vez, e...

- Você conhecia minha mãe?

- Oh, ela era sua mãe. Bom, tenho que dizer que ela é uma pessoa incrível, e eu queria...

O rapaz não me permite completar a frase, um sentimento ruim toma conta do meu peito.

- Ela era uma pessoa extraordinária.

Agora que me caiu a fixa. O lindo e colorido jardim, agora está cinza e sem vida. Matos crescem ao redor da casa. A senhora doce e alegre que vivia ali, cujo seu nome eu não sei dizer qual é, também não está mais aqui nesse mundo.

- Eu sinto muito pela sua perda. Sua mãe era realmente incrível, nunca pude agradecer a ela por sua ajuda.

- É, ela era assim. Não podia ver ninguém para baixo, estava sempre ajudando a todos, distribuindo roupas em orfanatos e asilos para as pessoas que foram deixadas para trás. Resgatando animais abandonados... Gastava todas as suas economias para ver outras pessoas felizes. As vezes tínhamos que pegar no pé dela por isso.

Agora ele encara o jardim desfeito.

- Esse jardim era sua vida, e assim como ela... Se foi para sempre.

Ele me encara com um sorriso forçado no rosto, abre a porta do carro, coloca a caixa no banco de traz e vai em bora. Eu fico observando enquanto o carro vira a curva na esquina e desaparece no horizonte.

Estou perto da casa da Liz agora. Assim que atravesso a rua, já a vejo em frente a casa parada falando com alguém, ainda não consigo identificar cem porcento, mas tenho quase certeza que é James. Eles não me viram aqui. Ele da um abraço nela que retribui o gesto. Fico um pouco envergonhado de estar aqui, é até constrangedor se eles me virem. Vejo ele entra no carro e virar a volta na rua, indo para o outro lado. Meu coração congelou por alguns segundos. Não preciso dele achando que estou indo ver a Liz por outros motivos que agora não existem mais em minha cabeça, e provavelmente na dela também não.

- Oi Liz...

Ela leva um pequeno susto enquanto me encara do topo da escada.

- Ben...

- Você tem um minuto?

- Sim, é claro... Eu estava mesmo querendo falar com você também!

Eu agora aponto com um movimento da cabeça para o final da rua, aonde o carro de James acabou de passar.

- Eu acredito que sim...

- Eu e ele voltamos a nos ver... Ben eu gosto de você, é uma pessoa incrível, amorosa e ficar com você foi maravilhoso também, mas...

- Ei Liz, está tudo bem, tá? Você ainda gosta dele, e isso é ótimo para você, serio! Eu vim até aqui justamente para colocarmos as cartas na mesa.

Ela me olha agora um pouco ansiosa.

- Assim como seu coração está a outra, o meu também está. Você também foi incrível comigo todo esse tempo. Espero que James te trate do jeito que você merece, se não for assim Liz, não deixe ele fazer parte da sua vida.

Ela sorri para mim, desce a escada correndo com seus chinelos pantufas e me da um forte abraço. Por alguns segundos fico paralisado, mas devolvo o abraço com a mesma intensidade.

Ela se afasta e me da um beijo no rosto.

- Pode deixar Ben, eu aprendi com o tempo que passei com você, que não devo aceitar menos do que o máximo de alguém.

Liz me da um ultimo sorriso, e sobe rapidamente as escadas. Noto que a flor da entrada, agora esta com um forte e vivo tom vermelho.

- Ei Liz, só uma ultima coisa...

Ela se vira para mim repentinamente e me encara nos olhos com um pequeno e fino sorriso no rosto.

- Qual é o nome dessa flor?

Liz não entende muito bem a pergunta. Encara a planta e depois me devolve o olhar enquanto abre um largo sorriso.

- É uma Begônia Ben. Ela representa felicidade.

Um sorriso está plantado em seu rosto enquanto me observa.

- Obrigado Liz.

Ela me da um aceno, entra e fecha a porta. Eu fico parado alguns segundos observando a flor, que antes estava murchando, e agora, está mais viva do que jamais esteve. Talvez o mundo, agora mais do que nunca, precise de mais Begônias.

No último dia em que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora