Capítulo 1

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Norte de Esparta, por volta de 450 a.C.

O fracasso não era uma opção.

Com a mandíbula cerrada, Kara olhou para o cume das colinas ao longe até seus olhos arderem. Envoltas por nuvens baixas, elas atraíam seu olhar como as vozes encantadas das sereias atraíam marinheiros infelizes para sua ruína. Ela e e seus colegas marchariam sobre aquelas colinas naquela mesma noite.

Na madrugada do dia seguinte, seu objetivo estaria à vista.

Um relincho furioso trouxe sua atenção de volta para a comoção organizada atrás dela. Os hoplitas se estabeleceram em locais para descansar durante o resto do dia, enquanto os servos hilotas preparavam a refeição pré-batalha. O aroma da carne assada misturava-se com a fragrância da fumaça da lenha. Ela respirou profundamente o perfume observando a fumaça subir até o azul celeste do céu.

Sua boca encheu de água. A luta ainda estava para ser travada, mas ela podia saboreá-la. A excitação vibrava em suas veias, cada célula de seu corpo duro e disciplinado já comemorava o sucesso.

Dominada pelo desejo de partir imediatamente, ela o esmagou por pura vontade. Agir com precipitação seria um convite à derrota. Um fracasso já arruinou sua vida. Sua memória ainda possuía o poder de inundar seu corpo com um calor intenso.

"Os presságios são bons."

Apagando sua raiva, Kara se virou para reconhecer sua amiga e segunda em comando ao lado dela. Desde o dia em que se conheceram no agogê, campo de treinamento de todo o grupo de espartanos dignos, elas continuaram amigas firmes. Alexandra a salvou da quase morte, ou pior, de ser mutilada para o resto da vida. Ela confiava nela como em nenhuma outra pessoa.

"Graças aos deuses eles são. Até o alto sacerdote os declarou auspiciosos."

Nenhum espartano se prepararia para a guerra sem invocar a ajuda dos deuses através de um sacrifício. Um touro foi oferecido, a carne não queimada para os deuses seria compartilhada entre todos. Com as palavras do alto sacerdote ressoando em seus ouvidos, Kara ordenou que os homens descansassem neste local antes da marcha final.

"Zeus nos concederá a vitória", ela lançou um olhar a Alexandra. "Bem como o conhecimento para tomar Delfos com a rapidez do vento que soa no norte. Não derramarei o sangue dos nossos homens desnecessariamente."

Este foi seu primeiro comando desde que deixou o agogê. A responsabilidade de conquistar a cidade de Delfos era mais do que apenas mais uma batalha para ela. Mais do que um privilégio saber que comandaria tantos dos melhores hoplitas de Esparta.

Era pessoal.

"Eu sei que você nos levará à vitória", garantiu Alexandra. "Rezo também para que Zeus lhe conceda as respostas às perguntas que a atormentam."

O olhar da amiga estava fixo em seu antebraço. Kara flexionou o braço esquerdo, onde uma cicatriz irregular servia como um lembrete permanente do que ela havia arriscado e perdido.

Ela agarrou Alexandra pelo ombro. "Ficou atrás de nós. Além disso, haverá muitas oportunidades para adicionar outras cicatrizes."

Ela desviou o olhar, voltando seu foco para dentro, lembrando-se do momento em que esteve diante da Gerúsia – o conselho governante de Esparta ao qual ela esperava um dia se juntar se vivesse o suficiente – recebendo a notícia de uma ameaça invisível que se formava na cidade além. Olímpia.

A surpresa foi sua primeira resposta. Os cidadãos de Delfos eram pacíficos. Mesmo assim, o homem meio morto encontrado no grande mercado implorou para ser levado perante o conselho. O que ele tinha a dizer, insistiu, salvaria Esparta.

KARLENA - OdysseyOnde histórias criam vida. Descubra agora