quatorze dias atrás

41 5 3
                                    


Era uma típica noite fria em Vienna. Sobre o terraço do Baumarkt, o céu brilhava cheio de estrelas.

Havia janelas quebradas e móveis antigos espalhados por todo o grande deque de madeira.

Quando cheguei, cerca de quinze pessoas se revezavam para destruir uma pinhata. Não vou descrever detalhadamente a pinhata, mas posso dizer que era excepcionalmente fálica.

Enquanto isso, James estava tentando convencer um grupo de italianos de que gorgonzola é o queijo mais gay de todos.

Procurei por Remus e Sirius. Entre a pinhata-pênis e a discussão sobre gorgonzola, aquele não parecia muito o clima certo para umpedido de casamento. Por outro lado, eu já deveria ter me acostumado com o jeito como eles misturam bobagem com assunto sério.

Aquele parecia ser o ritmo da minha vida nos últimos dias.

Depois que os doces e camisinhas que explodiram de dentro da pinhata foram recolhidos, Sirius saiu sorrindo detrás do bar. Todos se reuniram ao seu redor.

Ele falou em inglês – rápido, nervoso, trêmulo –, mas ninguém precisou de tradução quando ele se ajoelhou. O jeito como ele olhou Remus nos olhos quando fez o pedido, o jeito como Remus colocou a mão no peito enquanto ele fazia e o jeito como ele gritou sim em três idiomas diferentes, me deixou extremamente emocionado. Todos estavam.

Todo mundo pegou o celular para registrar o momento. Eu também teria pegado o meu, mas a câmera não era muito boa. Eu estava usando um Android antigo que James havia me dado mais cedo naquele dia.

Depois da última ligação com meus pais, decidi descartar meu número dos Estados Unidos e arrumar um austríaco. Não compartilhei aquele número com ninguém da minha família.

Enquanto James e Remus e Sirius todos os seus amigos tiravam fotos e comemoravam, me dei conta de uma coisa.
Eu estava muito feliz por Sirius, toda a minha mágoa pelo passado havia desaparecido, existia apenas orgulho pela felicidade dele.

Pensei que, talvez um dia, eu também poderia encontrar a felicidade.

Mais tarde, encontrei Remus no meio da multidão. Ele passou os braços em volta do meu pescoço, me puxando para um abraço como se fossemos melhores amigos ou qualquer coisa do tipo. Remus tropeçou; ele estava mais do que um pouco bêbado. Eu o segurei.

Empolgado pelo pedido de casamento, pela energia do momento, eu disse “Prost”.

— Você tem estudado — ele disse.

— Sim — respondi.

— Valeu, cara — ele disse. — Eu amo aquele homem, você deveria saber que eu amo ele mais que tudo, seu irmão é meu tudo. Você tem que ser meu padrinho.

Saí do abraço com uma expressão abobalhada. Feliz.

Minha energia estava cada vez mais alta. Os pisca-piscas pendurados ao redor do terraço projetavam um brilho aconchegante.

Mais pessoas começaram a encher o espaço enquanto dançavam. O amor estava no ar. Bastões de neon estavam no ar também. Sirius foi até o andar de baixo e voltou com uma caixa cheia deles.

Ele abria um pacote e balançava os bastões com força antes de jogá-los para o alto, iluminando o céu como fogos de artifício.

Peguei um dos bastões e desci as escadas para ir ao banheiro. Eu estava sóbrio, mas me sentia mais bêbado do que nunca.
A temperatura do porão parecia ser oito milhões de graus celsius negativos, mas eu ainda me sentia quente e leve por dentro.

Mesmo com a fila enorme, minha prioridade não era aliviar a bexiga, e sim criar uma pulseira com o bastão de neon, unindo as duas pontas com aquele negocinho de plástico. Mesmo estando relativamente sóbrio, fechar a pulseira em volta do pulso parecia uma missão impossível.

— Aqui, deixa eu te ajudar. Ninguém consegue fazer isso sozinho — alguém disse.

Atrás de mim, James se aproximava com os cabelos castanhos e cacheados. Ele parecia extremamente alto naquela luz, mas era porque estava um degrau acima do meu na escada.

Quando desceu, percebi pela primeira vez que ele era apenas alguns centímetros mais alto do que eu. Seus olhos estavam caídos e gentis. Do tipo que parecem cansados, mas de um jeito fofo.

Ele pegou a ponta do bastão enquanto eu segurava o fecho de plástico, e, quanto a pulseira fechou, ele pressionou o polegar contra o meu pulso.

— Pronto — ele disse.

— Obrigado — respondi.

Senti minha pele queimar no exato ponto em que ele pressionou o polegar. Eu pretendia fazer alguma coisa além de ficar parado olhando para o seu sorriso, mas o banheiro ficou livre.

Então entrei.

Quando saí, James não estava mais lá, então voltei para o terraço.

Me juntei a Lily, Peter e Mary na pista de dança. A música alta entrava pelos meus ouvidos e se instalava em algum lugar perto do meu coração, pois ele pulsava no mesmo ritmo.

Percebi que James estava em uma mesa pequena, perto do bar. Me afastei do grupo e enquanto eu caminhava até ele, meu pulso ardeu novamente, assim como aconteceu no porão.

Era uma sensação estranha, a de sentir seus estômago esmagar, borbulhar, como se você estivesse preste a pular de paraquedas e temesse a queda, porque sabe que depois de pular, não existe volta.

Foi assim que eu me senti olhando para James.

Quando me aproximei percebi que ele estava conversando com um garoto alemão extremamente atraente. Ele, James– descendente de Júlio César e Michelangelo e Al Pacino e…

Certo, já deu para entender. Eu estava nervoso. Minha cabeça estava a mil.

Mas então James fez algo inesperado, algo que automaticamente aliviou todo o medo que estava em polvorosa dentro da minha cabeça:
ele desviou o olhar do garoto superbronzeado, olhou para mim e sorriu.

— Oi estrela- James disse — Você precisa beber comigo.

Ele sorrir para o garoto e segura meu braço até o bar. Pede um Aperol Spritz para nós dois e sorrir quando eu tomo o primeiro gole.

— Obrigado pela bebida de graça — eu agradeci.

— Foi um prazer — ele respondeu, com uma sobra de sotaque.— Apesar de que você tomaria de graça de qualquer maneira, seu irmão é o dono.

James continuou sorrindo enquanto me contava histórias sobre seus anos no internato. Me falou sobre Sirius, Remus e Lily. Eram histórias distantes e eu me sentia preso na vida deles, na amizade deles e no amor que eles sentiam um pelos outros.

Ele me fez dançar, pulando de um lado pro outro, as vezes suas mãos passavam pelos meus quadris e ele gargalhava alto enquanto minha pele ardia em chamas.

Depois que o bar fechou, James sugeriu que continuássemos nossa conversa em um sofá no canto do terraço. Onde nossas cinturas se tocaram. E depois nossas pernas se entrelaçaram. A pista de dança estava quase vazia, já era mais ou menos cinco da manhã.

— Temos que ir— James disse. — Seu irmão vai me matar se a gente não descer agora.

Então descemos as escadas correndo para o salão de antiguidades, onde o resto dos nossos amigos haviam se reunido em um sofá no fundo da loja – parecia a cabine de um navio, com o teto alto e curvo, extremamente profundo.

Remus estava abrindo uma garrafa de Vinho e Sirius observava uma coleção de discos de vinil em um armário empoeirado ao lado das poltronas.

— Whitney Houston! — James gritou.

— Madonna! — Remus disse com empolgação, enquanto arrancava a rolha da garrafa.

Ele serviu a bebida em taças enfileiradas, e brindamos àquela noite.

The explosion of everything Onde histórias criam vida. Descubra agora