Capítulo 6- O cativeiro e a ave

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Zahara

Os olhos de Lourenço escureceram, a expressão impassiva e impenetrável reacendeu em seu rosto, ele se afastou de mim criando um abismo entre nós, o medo da verdade preencheu o vazio que se formou pela distância dos nossos corpos, Lourenço deu-me às costas e rindo com escárnio perguntou:— Elas disseram isso para você?— seu tom era áspero, engoli em seco apavorada, olhei ao redor procurando alguma coisa com que me pudesse defender caso eu fosse a sua próxima vítima, felizmente haviam muitos objetos decorativos que eu poderia usar para a minha defesa pessoal, alcancei sorrateira uma escultura de ferro pequena com a forma de alce, Lourenço virou-se no mesmo instante em que apontei-lhe com os chifres pontiagudos do animal, para a minha surpresa ele não parecia abalado com a minha atitude, Lourenço olhava para mim sem expressão alguma confirmando as minhas suspeitas, ele era um assassino sem escrúpulos e essa ideia aterrorizava cada célula do meu ser.

- Tu acreditas nelas?- ele deu um passo para frente, seus olhos ardiam na minha direção impedindo-me de piscar os olhos, minha respiração estava descontrolada, as pernas tremiam como caniço oco, o medo percorria a minha espinha impedindo-me de correr.— Não dês nem mais um passo Lourenço!— berrei apontando a minha arma mortífera para ele confiante, Lourenço perguntou sarcástico:— E se eu der mais um passo?— dando mais um passo com um sorriso sardónico dançando nos lábios, à essa altura eu implorava ao meu cérebro para ensinar as minhas pernas a se moverem novamente.— O que tu vais fazer? — perguntou chegando à um palmo do meu corpo, ele não mais sorria. — Vais matar-me com isso? — perguntou com desdém e meus joelhos fraquejaram.

—Fica longe de mim!— tentei soar firme mas a voz falhou miseravelmente denunciando o medo em cada palavra, com a mão trémula continuava a apontar-lhe com o alce como se de uma arma de fogo se tratasse.

— Zahara abaixa isso! — ordenou calmo.

—Fala a verdade Lourenço!— berrei.— Tu o mataste?— perguntei insistente e  pela primeira vez seu rosto se contorceu irritado:— Falas como se te importasses com a morte dele.— disse entredentes, estremeci.—Como se não tivesses sido uma das mais beneficiadas com isso.

— Beneficiada? — perguntei confusa.— Eu deveria me sentir beneficiada por ter sido arrancada da minha casa, casada à força com um velho e obrigada a me deitar com o meu cunhado? — as lágrimas começavam a formar uma lagoa nas minhas pálpebras inferiores ameaçando cair a qualquer momento, odiava o facto de parecer tão vulnerável na frente de alguém como ele mas não conseguia evitar.

— Não é como se tu tivesses muitas escolhas. Era isso ou morar na rua!— disse convicto, encarei os meus pés sentindo-me humilhada.

— Eu nunca te implorei por abrigo Lourenço. — respondi com firmeza olhando diretamente nos seus olhos com raiva mas a maldita lágrima transbordou manchando a minha bochecha como uma gota de sangue espessa.

— Então por quê não fugiste Zahara?— ele disse num misto de sarcasmo e irritação.

— Diz-me por quê não fugiste como tentaste fugir de Mário no dia do casamento?— continuou provocativo.

— Eu...— as palavras evaporaram da minha mente.

— Não me digas que é porque estás apaixonada por mim?— perguntou orgulhoso e a minha boca ficou seca,  devo ter baixado a guarda porque assim que ia responder Lourenço alcançou a minha mão e em um segundo retirou o alce da minha mão atirando-lhe para longe. Imediatamente corri para a porta tentando escapar dele mas Lourenço foi mais rápido e puxou-me pelo braço impedindo-me de alcançar a maçaneta. — Socorro, socorro!— gritava a todo fôlego enquanto me debatia em seus braços tentando soltar-me.—Zahara!— esbracejou segurando-me pelos pulsos e  chacualhando o meu corpo tentou acalmar-me mas eu estava irredutível, queria fugir dele, fugir daquela casa, fugir daquele maldito destino que não me pertencia.

ZaharaOnde histórias criam vida. Descubra agora