Capítulo 5-Assassino

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Zahara

O tempo parecia ter parado naquele instante, seu olhar era como um tiro à queima-roupa chamuscando a minha pele, ardendo-me por dentro, penetrando nas minhas entranhas, engoli em seco paralizada naquele olhar arrependendo-me amargamente daquela decisão idiota, eu não queria estar sozinha com aquele homem, eu não podia estar sozinha com ele, eu mal conseguia respirar na sua presença, quanto mais passar a noite com ele, mas o estrago já estava feito e eu não ia dar o braço a torcer e demonstrar para ele o quanto me afetava.

Lourenço quebrou o olhar, permitindo-me expirar o ar contido em meus pulmões, ele caminhou até a cama e começou a retirar os travesseiros da cabeceira, então afastou o lençol pronto para se deitar:— O que estás a fazer?— perguntei confusa.

— O que te parece?— deu de ombros.

— Eu acho que tu não me compreendeste.— segurei o lençol querendo impedi-lo de se deitar.— Eu disse que iríamos dormir no meu quarto, não na mesma cama!

— E onde esperas que eu durma? No chão?— perguntou impassivo, hesitei na minha resposta sem saber o que responder, não podia ordenar ao dono da mansão que me cedesse a cama e dormisse no chão, Lourenço interpretou o meu silêncio como resposta e dando de ombros deitou-se na cama fingindo um bocejo, continuei parada ao lado da cama incrédula e sem saber onde eu iria dormir, Lourenço virou-se de costas confortável mas ao perceber que não me deitava voltou a virar-se para mim e perguntou com a voz rouca de sono:— Não vais dormir?

— Contigo na mesma cama? Nunca! — disse convicta.

— Por quê? Estás com medo? — perguntou com um tom desafiador e a raiva começou a subir-me à cabeça.— Se estás com tanto medo podes dormir no chão.— disse sarcástico, ponderei a minha decisão mas nutrida pela raiva comecei a catar os travesseiros espalhados na cama a fim de montar uma parede felpuda entre nós.— O que estás a fazer?— perguntou com um meio sorriso dançando nos lábios.

— Este é o meu lado, e esse é o teu.— apontei para a divisão feita pelos travesseiros cilíndricos.—Não ouses ultrapassar a barreira.— tentei soar ameaçadora mas a voz falhou miseravelmente quando apercebi-me do seu olhar intenso sobre mim, havia algo nele que eu não conseguia decifrar, não era desejo, nem arrogância, haviam várias palavras não ditas naquele olhar.

— Estás com tanto medo assim?—  perguntou com a voz rouca desta vez, seu olhar estava apagado, havia cuidado e curiosidade em seu tom, como se estivesse verdadeiramente preocupado, não respondi. Eu sabia o quão perigoso era me deitar na mesma cama que ele, mas mesmo assim, assisti meu corpo esgueirar-se para dentro do lençol e a cabeça repousar na almofada, virei-me de costas para não encara-lo, Lourenço permaneceu na mesma posição, conseguia sentir seus olhos em minhas costas, era difícil respirar, difícil dormir, difícil existir assim tão perto dele, mas permaneci imóvel fingindo ter pego no sono facilmente.

—Zahara...— ele sussurou como que para confirmar que eu já havia adormecido de facto, meu coração batia fora do peito de tão rápido, meu braço e coxa estavam dormentes por permanecer na mesma posição por tanto tempo mas permaneci imóvel rogando para ele cair no sono logo, Lourenço respirou fundo em resposta ao meu silêncio, então virou-se para encarar o teto e disse baixinho antes de adormecer: — Não precisas ter medo de mim, eu nunca faria nada que tu não quisesses.— a voz foi se perdendo ao longo da frase, sua respiração pesada confirmava o sono profundo,  finalmente pude relaxar os meus músculos tensos e sem que me apercebesse adormeci.

No dia seguinte acordei com o sol batendo na minha cara, meu braço dormente por ter dormido toda noite na mesma posição desconfortável pela presença daquele inergúmeno. Abri os olhos com dificuldade tentando perceber o que se estava a passar, Felismina sorridente caminhou até a mim ajudando-me a levantar:— Bom dia Senhora.— disse com um sorriso maroto, ainda com voz de sono respondi:— Bom dia.— olhei para o outro lado da cama procurando por Lourenço, a barreira de almofadas não estava mais lá, muito menos ele.

ZaharaOnde histórias criam vida. Descubra agora