⛧ᴘʀóʟᴏɢᴏ⛧

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⛧ 𝘌𝘯𝘪𝘥 𝘚𝘪𝘯𝘤𝘭𝘢𝘪𝘳

Às vezes, acho que deveria simplesmente permitir que tudo isso me consuma até a morte. Não aguento mais. Não quero mais. É como estar presa em um carrossel que nunca para, e não consigo sair. Por mais que eu tente, sou escrava de algo que nunca me libertará.

Às vezes, até desejo não ser libertada. Esse ciclo sem fim exaure qualquer um. Se minhas colegas de banda estão cansadas de mim, imagine eu, que devo suportar acordar desejando me drogar e adormecer tão entorpecida que mal consigo pensar. Minha voz está arruinada, minha memória, então... nem se fala.

A maioria das pessoas acha que gosto dessa vida que levo. Como se fosse divertido me entorpecer com cocaína desse jeito. Por um tempo, foi sim, não nego. Eu amava. Não havia nada melhor do que a droga, mas hoje em dia não é mais divertido. Agora é um tormento. Meu nariz queima, meu corpo está fraco, minha mente está confusa. Mas eu não paro.

Não consigo parar.

Por mais que eu fale e até pense que quero parar, algo dentro de mim precisa ser alimentado, e nunca consigo dizer não. Quando tento negar, a sensação é de que vou morrer sufocada por um desejo tão avassalador que dói. Por mais que a cocaína faça meu corpo doer, ela também alivia o monstro do desejo.

Ela é melhor do que o monstro. Nada é melhor do que o pó. Nada é pior do que ele também. É uma confusão inexplicável, mas que, para todos os efeitos, sempre tem uma vencedora. A cocaína sempre me vence, não por ser a opção mais fácil, mas por ser a menos dolorosa. Meu grande sonho é acordar um dia e não sentir mais vontade de usar. Queria tanto a liberdade de poder acordar, tomar café da manhã e simplesmente viver a vida como qualquer outra garota. Queria ser uma mulher normal. Mas eu não sou. Sei que não sou.

Eu acordo, escovo os dentes, tomo meu café e já faço uma carreira de pó. Cheiro antes mesmo das nove da manhã. Além disso, tomo comprimidos para que a droga não me afete mal. Antes do almoço, já estou tão chapada que mal consigo lidar com o dia. Nem sempre foi assim. Eu já fui muito mais controlada do que sou agora. Não sei dizer em que momento da minha vida perdi as forças para lutar contra essa porcaria, mas as perdi de qualquer maneira. O carrossel gira, gira, gira... e eu fico aqui, parada, em cativeiro de algo que às vezes até me faz feliz, apenas para, em seguida, me deixar tão triste que a única saída é usar novamente.

Aqui estamos nós, a Midnight Tears. A banda que arrasta multidões por onde passa e causa polêmicas que enchem os noticiários e as fofoqueiras de plantão de dinheiro. Depois de mais um show da nossa turnê mundial, todas saímos da van que nos trouxe de volta para o hotel. Elas estão animadas, elétricas. Foi uma boa apresentação, mas a verdade é que eu só pensava em ir embora e usar. Inferno.

Helo, nossa baterista e empresária, me proibiu de fazer shows completamente chapada. Errar a letra e desafinar não é um exemplo de profissionalismo, e está aí uma coisa que a nossa chefe preza bastante.

Já faz alguns meses que sou controlada e fiscalizada nos dias em que nos apresentamos. É uma droga. Isso para não dizer que é degradante, mas é a vida. Ou pelo menos, é a minha vida. Como não consigo lidar com o monstro do vício sozinha, preciso de ajuda e de alguém que o controle por mim. No meu caso, essa pessoa é a Vinnie, nossa RP, que também é, nas horas vagas, a minha babá — patético, eu sei. Se não fosse por ela, eu provavelmente já estaria caída em algum canto deste hotel, louca demais até para falar.

— Iremos para um bar beber antes de dormir. Vamos? — Bry pergunta, me arrancando dos meus pensamentos. Foco o olhar na minha melhor amiga, na minha dupla. Quem diria que Brianna O’Connor, a caloura da faculdade, se tornaria a minha melhor amiga? A única pessoa para quem eu contaria os meus sonhos mais loucos e os medos mais idiotas.

Composition Of Our Lies - wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora