𝟎𝟏- 𝒕𝒉𝒆 𝒕𝒐𝒑 𝒑𝒂𝒊𝒏𝒔

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𝐸𝑁𝐼𝐷 𝑆𝐼𝑁𝐶𝐿𝐴𝐼𝑅

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𝐸𝑁𝐼𝐷 𝑆𝐼𝑁𝐶𝐿𝐴𝐼𝑅

A vista daqui é tão linda. Luzes, flashes, muitas pessoas gritando enquanto outras estão até chorando. É brilhoso e tocante. Tenho para mim que é o mais próximo de Deus que um dia vou chegar. Em cima do palco, eu vivo o paraíso. Ou pelo menos, deveria viver. Sou amada. Sou idolatrada. E, mesmo assim, sou sozinha. Tão, mas tão sozinha, que me pego pensando se não seria mais fácil me aposentar e assumir que essa vida não é para mim. Eu não deveria ser ídola de ninguém. Mal consigo ser alguém decente, e olha que nesses últimos meses tenho tentado fortemente ser. Difícil é pouco para definir como a minha mente funciona.


Pego no microfone, deixando que as luzes e os gritos me guiem para outra dimensão, porém não vou. É sem graça, não fico eufórica, muito menos feliz. Me resta fingir, ou pelo menos tentar. Meses atrás, isso aqui era a melhor parte da minha vida, hoje, é só mais um dos lugares em que vivo como um fantasma de mim mesma, ignorando a verdade que guardo dentro da minha mente: não é mais a mesma coisa. Não é, é pior. É mais desesperador. A timidez ainda tenta me conter, mas canto, palavra por palavra dessa letra idiota, que fiz para alguém do meu passado, uma pessoa que tento esquecer todos os dias. E, diariamente, eu falho. Por que escrevi essa merda?


Eu não me lembro quando a fiz, nem como foi. Um dia, simplesmente acordei e lá estavam as palavras que eu nunca proferi para ninguém. Tanta saudade, tanta dor. É como estar presa no inferno. Meu vício me corrói, mas é por causa da minha saudade que me mantenho queimando no fogo, em uma espécie de cárcere particular.

Sem cocaína, a coisa toda piora. Minha disposição, minha ansiedade, minha timidez. Minha vontade de morrer. E a porra da saudade. Essa está tão viva quanto estava anos atrás. Não seria mais fácil só acabar com a porra toda? Seria, mas eu não posso. Já descumpri muitas das minhas promessas, essa é a única que venho mantendo. Sorrio. Não quero mais estar aqui. Grudo a boca no microfone e atinjo a nota mais bonita da minha carreira. Canto a ponte da canção My Little Shining Star, torcendo para um dia nunca mais precisar cantá-la. Eu ainda acordo todos os dias querendo cheirar. Ainda lido com a sudorese e pesadelos durante a noite. Minha garganta ainda se fecha quando noto que não tenho mais nenhuma grama no meu bolso. Não tenho mais os meus contatos. Até mesmo os meus imóveis foram vendidos e trocados por outros, onde não tenho mais droga disponível. Dessa vez, Vinnie foi esperta. Ela sabe que escondo drogas em alguns momentos e me recordo quando estou limpa.

Dessa vez, ela não me deu chance de ter uma recaída. Minha RP foi a primeira pessoa que vi quando acordei naquele quarto de hospital. Vinnie raramente chora, mas naquele dia, ela soluçou na minha frente, mostrando que não só me amava como uma irmã, mas que também estava com medo de me perder. Eu a entendo. É uma merda perder quem se ama. O advogado estava ao lado dela e parecia bem desapontado comigo, também por amor. Vê-la sofrer o matava por dentro. Qualquer dia desses, ele a pegará e a levará embora, mesmo sabendo que a Midnight Tears não sobreviveria.

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