𝟎𝟐- 𝒓𝒆𝒂𝒍 𝒈𝒐𝒅𝒔

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𝑾𝑬𝑫𝑵𝑬𝑺𝑫𝑨𝒀 𝑨𝑫𝑫𝑨𝑴𝑺

Nunca vi algo tão bonito quanto Enid em cima daquele palco. Magnífica chega a ser pouco para definir o momento. Ela rouba meu fôlego, me faz sonhar acordada. A vocalista me relembra o porquê sou tão louca por ela desde novinha. Não tem como não ser. A loira é linda de se olhar, mas é ainda melhor de se escutar. Se move no palco como a própria diaba, ao mesmo tempo que sua voz soa como a de um anjo.

Não consigo fechar meus olhos, muito menos desviar o olhar. Fico hipnotizada por ela e pelos seus cabelos dourados como ouro, que fazem a combinação mais linda do mundo com seus tristes olhos azuis. É como ver um redemoinho de emoções bem na minha frente. Ela parece quase indefesa, mas é só eu descer as íris para encontrar sua jaqueta de couro e o top de fora, que me recordo que ela não tem nada de indefesa.

Enid é problema, um daqueles bem graves. Inclusive, é uma grande o suficiente para ser proibida para mim. Mamãe não curte a minha obsessão com a Midnight Tears, assim como papai não aprova qualquer coisa que possa me aproximar da melhor banda do meu mundo. Não os culpo, claro. Ninguém quer ver a sua garotinha com mulheres tão polêmicas quanto essas. Pior, nenhuma mãe quer ver seu filho correndo atrás de uma garota que tem seis overdoses em sua ficha médica.

Eu os compreendo tranquilamente, o problema é que minha compreensão não me impede de babar pela Enid. Não me impede de me iludir que ela está cantando Keep Your Eyes On The Stars olhando para mim. Não era eu quem odiava ser tonta? Na minha cabeça, a loira está se apaixonando nesse momento. Meu coração está acelerado, e quase posso sentir que estou me apaixonando também. Claro, na minha fantasia. No mundo mágico de Wednesday, isso aqui é uma história de amor em que vamos cair uma pela outra e vamos viver felizes para sempre.

A modelo e a estrela do rock. Porra, isso iria ficar tão bom nos noticiários. Sabe o que ficaria bom também? A boca bonita e desenhada dela na minha. A língua dela no meu corpo. Olha o que essa mulher faz comigo?! Eu poderia estar babando no abdômen tatuado da Bry e em suas mãos compridas, que tocam aquele baixo como se fosse o corpo de uma mulher. Eu poderia estar sonhando com os braços definidos e gostosos da Paula em cima de mim, ou até me imaginar fazendo o colo do Helo de cadeira, mas estou? Não. Eu só tenho olhos para a loirinha que é a personificação de problema. Dizem que ela é a pior das seis. A mais descontrolada, mais difícil e a mais intragável também.

Como fã, odeio que a rotulem por aí desse jeito, mas, no fundo, sei que é verdade. Enid é uma mulher difícil e com um gosto peculiar pela autodestruição. É uma pessoa que luta bravamente contra as drogas, mesmo sendo uma perdedora nata dessa guerra. Quase surtei quando vi a notícia da overdose dela. Foi por muito pouco que minha ídola foi salva. Até hoje, não sei o motivo, mas, aparentemente, assim como eu, Enid é um milagre vivo. Uma misericórdia que os deuses decidiram conceder.

Foram duas paradas cardíacas a caminho do hospital. Ela foi entubada e ficou em coma por três dias. Chorei o tempo todo enquanto meus pais não sabiam mais o que fazer. Ela poderia ter morrido, caramba! Ela poderia ter partido sem saber que salvou vidas por aqui. Menti para eles por três dias. Falava que estava chorando pelos cantos por causa do meu casamento fodido, mas não era. Acho que todos sabiam que era mentira. Eu só não queria ser boba e dizer que estava chorando pela minha ídola da adolescência. Enid me ajudou quando eu não conseguia ser ajudada por ninguém. Ela e suas músicas deram voz aos meus sentimentos. Ela fez eu me sentir acolhida e compreendida de um jeito que ninguém conseguia. Porém, não era por mal, minha família é maravilhosa, a melhor que eu poderia ter, mas havia um rombo no meu coração.

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