Capítulo 3: Charlie...

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Meu caminhar era calmo, por mais que meu coração doía ao vê-la desacordada, eu tentava fazer o possível para não mexa-la tanto, os ferimentos já haviam sido cicatrizados, eu não fazia idéia alguma se ela estava sentindo dor, mas seu semblante era tranqüilo, parei por um momento no corredor, encostei a testa na cabeça dela. Quando respirei fundo para voltar a caminhar, pude ouvir passos, baixos, e muito rápido em nossa direção.

Niffty veio correndo para nós.

- Alastor! Alastor! Alastor! Alastor! Alastor!

Eu respirei muito fundo. O barulho de estática começava á ficar mais visíveis à medida que ela pulava e rodava em minha volta, eu tentei ignorá-la e voltar a caminhar, mas a repetição de meu nome me deixou com certa raiva, não falei nada, só lancei um olhar de ódio para ela que a fez rir e muito.

- Há! Há! Há! Há! Ela se contorcia de tanto rir.

Eu continue meu caminhar quando percebi que ela parou para rir, tudo ficou quieto por um instante, mas o silêncio do corredor foi interrompido pela a voz fina de Niffty.

- Leve ela para seu quarto, eu busco roupas novas para ela.

Da mesma forma que ela veio correndo, ela voltou correndo. Não precisava falar isso para mim, minha intenção já era levá-la para lá.

Precisei respirar fundo, olhei por um breve momento para Charlie, e segui meu caminhar para o meu quarto. Hoje o dia queria me irritar, mal comecei a minha manhã com tudo isso, agora Charlie desacordada assim.

Em meu quarto ninguém entra sem eu permitir, exceto Charlie, ela costumava ser alegre e intrometida quando queria.

Parei na frente da porta do quarto, abrindo-a com um de meus tentáculos, caminhei até a cama, colocando a pequena Charlie sobre a mesma com muito cuidado.

Com um estralar de dedos, toda aquela bagunça de mais cedo desapareceu. A porta que havia sido arrebentada por um de meus tentáculos, havia voltado ao normal, como se nada tivesse acontecido.

Da mesma forma que Niffty se foi, ela voltou, saltitante e rápida, adentrando o quarto como se estivesse cantarolando algo. Novamente estralei os dedos, e os itens sobre o criado mudo do lado direto da cama desapareceram, e uma bacia de cobre com água morna, com uma toalha bem macia e num tom vermelho apareceu no lugar deles, dei uma ultima olhada para Charlie e me virei caminhando em direção da porta aberta por Niffty.

Antes de sair, olhei para Niffty com um olhar de autoridade.

-Limpe-a com muito cuidado, entendeu Niffty?

Sai porta a fora, fechando ela atrás de mim, por um momento parei e encostei-me a ela.

Olhei fixamente para o corredor vazio e silencioso em minha frente, passei meus dedos nos lábios forçando várias vezes um sorriso, até ele voltar ao normal.

"O sorriso é uma arma para meus inimigos", repetia isso em minha cabeça enquanto caminhava pelo o corredor, estralei os dedos fazendo meu cajado aparecer novamente em minha mão direita, à medida que comecei a andar pelo o corredor, eu rodava o cajado em minhas costas. Onde eu passava a bagunça se limpava com minha aura, como se nada houvesse acontecido.

Caminhei até o topo da escada, olhei para baixo, e vi todos olhando para mim preocupados e alarmados de eu fazer algo com eles. Não pude deixar de sentir uma enorme excitação com o medo deles, um sorriso enorme apareceu em meu rosto á medida que eu os encarava de lá de cima da escada.

- Caros amigos de Charlie! Dei uma pausa por um breve momento.

Um sorriso amarelo, ameaçador, e cheio de dentes afiador apareceu ainda mais.

- Estão todos proibidos de entrarem no meu quarto até ela acordar! Entendidos?

Enfatizei a palavra "meu quarto". Vaggie se colocou na frente de todos, gritando e logo pegando aquela maldita lança dela.

- QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FAZ... Angel agarrou-a fazendo soltar a lança no chão, e tampando sua boca.

Acho que ele havia percebido que meus olhos ficaram ainda mais carmesins do que são, que setas de radio antigas iam se formando em minhas íris. Minha paciência para tudo aquilo já havia acabado a muito tempo.

- S-Sim, Alastor! Angel olhava bravo para Vaggie que tentava se livrar e voltar a falar qualquer coisa desnecessária para mim.

Ela se debatia nos braços de Angel, até conseguir pisar no pé do mesmo, fazendo quase cair. Husk o abraçou apoiando ele para não se desequilibrar.

Vaggie ia falar algo, mas, qualquer coisa que viria daquela mulher, para mim era insignificante.

Apenas estralei o dedo e voltei para o meu quarto onde Charlie estava deitada, minhas sombras ficaram na porta, impedindo a passagem de todos, menos de Niffty.

Caminhei até a cama, Niffty havia deixado uma cadeira feito de magno com detalhes esculpidos nela e um estofado em camurça no tom vermelho ao lado da cama, a bacia havia sumido, e no lugar o meu radio de madeira de magno antigo estava, aonde já estava tocando uma musica num tom bem baixo.

Sentei-me na cadeira, encostando as costas nela, e jogando a cabeça para trás, minha mão esquerda levou minha franja para traz. Enquanto eu segurava o cabelo no topo de minha cabeça e fechava os olhos na tentativa de me acalmar.

Não era de agora que eu estava me importando com Charlie. E sim desde que algumas memórias de minha vida que vieram me atormentar. Eu nunca me lembrava o nome daquela pessoa, e nem seu rosto, mesmo conseguindo ver ele em minhas memórias. Eu só conseguia lembrar dos grandes, iluminados e lindos olhos amarelos dela e sua personalidade que me lembrava tanto Charlie.

Eu suspirei, curtindo a musica que Niffty havia escolhido, era uma coletânea de jazz dos anos 20, á musica que estava tocando no momento era "Nat King Cole - Sweet Lorraine" era calma.

Olhei para Charlie, com ela eu não precisava ficar com sorrisos o tempo todo, mesmo aquilo sendo a minha maldição.

Charlie estava deitada na cama, com os cabelos soltos, um vestido leve, branco, em um tecido fresco. Seu corpo estava com uma parte coberta por um lençol de cetim vermelho transparente, fiquei olhando para ela, e cada respiração que ela dava.

***

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