TOQUE-ME SE FOR CAPAZ

➵ 38: Bonds Amidst Chaos

Calina Sartori
Dias atuais...

Como minha cabeça está nesse momento? Eu estou surtando a cada segundo observando seu olhar. Minha pele se arrepia conforme vou percebendo o sorriso real em seus lábios. A forma como seus cabelos escuros formam ondas perfeitas e caem ao lado de sua testa. A cicatriz que devia deixá-lo assustador, mas que a cada vez que meus olhos passam por ela, eu apenas agradeço pela sua existência naquele lugar e os lábios levemente grossos — sem exagero algum — rosados por natureza, mas a minha parte favorita sempre seria seus olhos.

Me sinto perdida, afogada em um mar de sentimentos e nenhum deles é ruim. O que antes doía de uma forma quase insuportável, se tornou mais do que amor ou cura, um sentimento inexplicável e um furacão que pode me arrastar para milhares de quilômetros de distância. E por mais brega que isso possa soar, nem por um instante sequer imaginei que acabaríamos nesse exato momento.

Bugsy... Não. Trevor.

Ele está a minha frente, segurando minhas duas mãos com o olhar mais doce que eu já enxerguei em toda a minha vida. Algo distante para minha imaginação há pouco tempo. Seu peito desce e sobe calmamente, mas eu posso observar o nervosismo em seus ombros tensos. E pensar que um tempo atrás eu sequer podia decifrar seus sentimentos ou suas feições. E agora, isso parece um sonho.

Me assusta pensar em algumas possibilidades absurdas. Acordar deitada no casarão Sartori e perceber que ele passou a ser apenas um sonho, ou simplesmente clarear minha mente e eu perceber que nunca sai do manicômio, que ele é apenas um desvio da minha mente insana. Por mais que tenha sido doloroso, que eu tenha sentido em diversos momentos que poderia morrer e que respirar era tão difícil.

Como teria sido minha vida sem a tríade pesadelo?

— Eu poderia começar a dizer essas palavras como clichês que existem em todos os tipos de casamentos. Poderia dizer: eu prometo amar você nos bons e maus momentos, apoiá-la em suas decisões e celebrar cada conquista juntos. — O ar fugiu dos meus pulmões com a forma que sua voz atingia completamente o meu ser. Quase me arrebatando para me arrastar para o céu ou o inferno. — Ou poderia falar baboseiras como: eu prometo rir com você, chorar com você e crescer com você. Que sua presença me faz uma pessoa melhor e eu sou grato por a ter na minha vida, mas tudo isso seria uma grande mentira.

— Do que ele está falando?

Escutei sussurros próximos a nós e não consegui evitar sorrir, sendo seguida por um toque apertado de suas mãos. Me passando conforto e confiança, como se estivesse gritando para que eu ouvisse apenas ele. Mas como eu ouviria qualquer outra pessoa quando a voz desse homem me estremece por inteira?

— A verdade é que eu não posso prometer te amar nos bons e maus momentos, nem mesmo te apoiar nas suas decisões loucas ou celebrar com você. Não posso prometer rir, chorar ou crescer. E pior ainda, não posso dizer que você me torna uma pessoa melhor. — O coro de pessoas se tornava cada vez mais alto e risadas abafadas podiam ser ouvidas. — Mas isso tudo tem um motivo, claro que tem. Eu nunca soube o que era viver antes de te conhecer, eu achei que minha vida seria aquele fardo eternamente, mas quando eu a vi pela primeira vez... Porra... Com um único passo da sua dança você me fez viver e eu soube que o meu destino era te seguir, não importa onde ou quando, eu apenas deveria ser devoto a você.

Nesse momento meus lábios tremeram tentando segurar as lágrimas que era quase impossível respirar, mas nem por um segundo sequer eu queria piscar e perder a emoção em seus olhos.

Não se tratava apenas da sua declaração ou da forma como ele me viu pela primeira vez. Dezenas de sentimentos alcançaram meu peito como uma enxurrada de lembranças. Meus olhos não as viam, mas cada canto da minha pele podia senti-las.