Capítulo 65 (parte I)

208 29 22
                                    

CECÍLIA

Milão,
14 de janeiro de 2024

Quando eu fui para a Itália, decidi me afastar de tudo que podia meramente me lembrar do Jão. Era assim que eu acreditava que superaria.

Assim que eu cheguei lá, nem casa eu tinha para morar e, por isso, fiquei um tempo com a Gianna.

Mas, quando chegou o dia que estava previsto no contrato do aluguel, apesar de eu estar com as coisas organizadas para a mudança, nem ela e nem eu sentíamos que era isso o que deveria ser feito. Assim, afirmando que se sentia muito sozinha, Gigi pediu para que eu ficasse em sua casa até o fim de meu contrato.

Ela disse que seria apenas um ano e que ela tinha saudades de quando morávamos juntas na época em que eu estava aqui para a faculdade.

Então, eu fiquei.

Eu trabalhava dia pós dia e nos meus horários de folga continuava visitando projetos, porque eu precisava ocupar minha mente para que João não surgisse nela.

Eu sabia que ele tinha lançado o álbum, mas não me atrevi nem mesmo a ver o nome das músicas e saber se ele tinha mudado alguma coisa.

Gigi também nem me deixava tentar contato com ele. Acho que ela pegou algum tipo de rancor devido à toda a história, mas eu vinha conversando com a garota para que ela deixasse de pensar coisas ruins sobre João. Não era assim que eu queria que ninguém visse ele, porque eu sabia o quanto ele era incrível.

Ela tentava me arrastar para saídas de noite, segundo ela para "conhecer alguém bacana que me faria esquecer o cantorzinho". Eu até fui para uma festa ou outra com ela, mas aquilo só não fazia mais tanto sentido para mim.

Ela respeitava isso e não tinha problemas com o fato de eu não sair nas noitadas, contanto que passássemos tempo juntas nos dias de semana assistindo a filmes assim que escurecesse.

Mas Gigi sabia que eu não estava bem. Ela sabia de todo o esforço que eu fazia só pra me levantar da cama todos os dias.

Foi ela, na verdade, que convidou minha família para passar o natal conosco.

Eu não sei o que eu seria sem essa menina.

O natal foi diferente dos outros anos. Foi incrível ter minha mãe aqui e realizar o sonho dela de conhecer esse país, mas foi difícil fingir que estava tudo bem o tempo todo. E a pior parte era que ela provavelmente já sabia que eu estava fingindo.

É exaustivo sorrir a todo momento quando você não tem forças nem para chorar.

No entanto, acho que só de estar perto da minha família, o natal continuou com aquele brilho e alegria que ele costuma ter.

Depois do fim do meu recesso, porém, a vida voltou a ser como vinha sendo. Trabalho a todos os momentos.

Não que fosse algo ruim.

Trabalhar na Prada estava sendo uma das maiores realizações de toda a minha vida. Era inacreditável. Todo dia era igual a um dos filmes ou realities que eu tinha visto.

Foi uma vida toda de dedicação por um trabalho como esse.

Mas eu sabia que deveria viver mais. Talvez aproveitar mais desse país. Era meu sonho, afinal. É só que algo parecia tão errado.

Enfim, no dia 8 de janeiro, depois de mais um dia cansativo, eu vesti meu casaco e fui para a rua.

Enquanto andava a pé até a casa de minha melhor amiga, vi uma mensagem de um número que não me mandava nada há séculos: Pedro Tófani.

Rádio | JÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora